16 fevereiro 2016

ONDAS GRAVITACIONAIS: LIÇÕES PARA O BRASIL

"É um sofrimento danado. É complicado ir almoçar com os colegas, o pessoal falando sobre ondas gravitacionais e você não poder contar a grande novidade."

Suponho que foi com grande emoção que o pesquisador Odylio Aguiar pronunciou essa frase, ao conceder entrevista à Folha de São Paulo, por ter participado do seleto grupo, com cerca de mil pesquisadores em todo o mundo, que observou, pela primeira vez, a detecção de ondas gravitacionais no universo, fenômeno previsto há mais de cem anos por Albert Einstein em sua famosa Teoria da Relatividade. Além de emoções, creio que sentidas igualmente por muitos brasileiros, a frase traz, também, lições para o Brasil.

Ao se ler o conteúdo do "raio-x" acadêmico do pesquisador Odylio, ou aqui no seu Currículo Lattes, percebe-se logo que ele é fruto da importância e da influencia que tiveram as duas instituições frequentadas por ele, no Brasil, para obtenção dos graus de graduação (ITA 1978) e de mestrado (INPE 1983).

Ambas têm origem em momentos singulares vividos pelo Brasil. Um deles surgiu logo após o término da segunda guerra mundial e o inicio da guerra fria, com a disputa nuclear e armamentista a todo o vapor, e que deu origem ao CNPq e ao ITA, sob as lideranças do Almirante Alvaro Alberto e do Marechal Casimiro Montenegro, respectivamente. O outro, com as mesmas motivações do primeiro,  foi provocado pela corrida espacial no final da década de 50, do século XX, que forçou o Brasil a observá-la na década de 60, culminando com a criação do INPE, em 1971.

Em todos esses momentos, o diferencial estava nas pessoas que se encontravam na liderança do conhecimento existente no País. Todos elas tinham consciência de que um povo só é soberano e livre se dominar o conhecimento cientifico e tecnológico. Sem ele, e num mundo cada vez mais globalizado, o País não será contado, plagiando Platão que disse certa vez: "um indivíduo que não sabe contar, ele próprio jamais será contado".

Foi muito bom ver o Brasil ser "contado". É muito bom ver o INPE constar na relação das 83 instituições de pesquisa participantes do projeto. Os pioneiros da década de 50, devem estar bastante felizes, pois alguns de seus discípulos aprenderam a contar, mesmo sem receberem, muitas vezes, o apoio e o reconhecimentos que lhes são devidos.

Para as lideranças vivas e para o País em geral, não necessariamente as do conhecimento, mas especialmente para as que governam o Brasil, que aprendam urgentemente a lição. Vejamos o porquê.

Neste momento, em sentido inverso ao exposto acima, toma-se conhecimento, diariamente, do desmonte que está ocorrendo nessas mesmas instituições e outras similares existentes no País.

Já passou da hora de se copiar os exemplos visíveis em várias partes do mundo. Frase como a pronunciada pelo Odylio só foi possível porque as principais instituições do projeto estão localizadas em países onde os orçamentos para a educação, ciência e tecnologia não podem ser reduzidos nem contingenciados.

No Brasil vem ocorrendo o contrário, conforme já mostramos aqui e aqui. A saída para o momento em que os recursos não podem ser ampliados deve ser o de se buscar o aperfeiçoamento da gestão daqueles já existentes, tendo como base um processo seletivo por mérito e por custo/benefício de suas atividades e não a simples e burocrática eliminação dos já escassos recursos, como vem sendo noticiado.


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