Há duas décadas, afirmamos que o Brasil entraria no clube dos países onde os futuros milionários seriam jovens que aprenderiam a ganhar dinheiro enquanto ainda frequentavam as universidades.
O artigo completo, publicado em 27/03/1998, na Gazeta Mercantil, encontra-se no final deste post. Nele descrevemos o início dessa caminhada. Hoje lemos matéria, na imprensa especializada, mostrando que aquelas previsões se tornaram realidade. Foi muito trabalho, de muita gente, para se obter os resultados atuais resumidos a seguir.
Segundo levantamento da ABStartups, há atualmente no País 10.200 startups ativas. O ano de 2018 será lembrado, também, como o ano dos unicórnios brasileiros. "Cinco startups brasileiras entraram para o seleto clube de jovens empresas digitais que atingiram o valor de mercado de 1 bilhão de dólares. São elas 99, PagSeguros, Nubank, Stone e iFood."
"A tendência é que no ano que vem a gente tenha um número maior ainda. Tivemos startups que receberam grandes investimentos, é natural que novos unicórnios surjam", avalia Amure Pinho, presidente da ABStartups, em entrevista ao IDG Now.
Os trabalhos para o surgimento desses novos unicórnios não param. Estão espalhados por todo o Brasil e no exterior. É um trabalho de formiguinhas acelerados por muitos parceiros de perfis complementares.
Um exemplo desse trabalho ocorreu durante o evento InCoDay 2018, realizado pela BraFip, em Recife, no último dia 05 deste mês.
No InCoDay foram apresentadas as melhores idéias de PD&I submetidas à chamada anual 2018, dando inicio ao processo de aproximação de parceiros (empresas, universidades e investidores) para as tornarem realidades e se transformarem em negócios de empresas iniciantes e/ou já estabelecidas.
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Gazeta Mercantil, DF - Sexta-feira, 27 e Fim de Semana, 28 e 29 de março de 1998.
Futuros Milionários
Eratóstenes Ramalho de Araújo
Professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília e Diretor da Sociedade SOFTEX.
Não há mais dúvidas. Na próxima década o Brasil entrará definitivamente no Clube dos Países onde os futuros milionários serão jovens que aprenderam a ganhar dinheiro ainda na Universidade. A exemplo do que aconteceu em várias partes do mundo, principalmente nos Estados Unidos (Vale do Silício, Boston e Austin) e na Inglaterra (Cambridge, Oxford e Edimburgo), a atividade empreendedora ganha fôlego nos campi universitários brasileiros, principalmente nas áreas onde o conhecimento, a inovação tecnológica e a criatividade fazem a diferença. Não há dúvidas também que alguns de seus mestres irão fazer parte dessa tribo. São acadêmicos transformados em empreendedores. Está se tornando cada vez mais comum, em países desenvolvidos (e aqui no Brasil também vai acontecer), a existência de professores que dividem seu tempo entre o ensino, a pesquisa e o setor empresarial.
Este é um novo meio de gerar riqueza para o País. É uma contribuição clara para a sociedade do retorno do investimento realizado em ciência e tecnologia. Sinaliza uma oportunidade para o Brasil reverter seu histórico deficiente de transformar idéias em negócios. Nossos governantes e capitalistas devem ficar atentos a este movimento.
Com poucos recursos mas com uma bem orquestrada operação, os alunos e professores de informática de todo o País já estão dando mostra do que são capazes. Em pouco mais de um ano do Projeto Gênesis, quase cem empresas foram criadas e, em pelo menos dois casos, já existem contratos de exportação (HardCode Entertainment, em Campina Grande e Blue Moon, em Juiz de Fora) . Outras já deixaram o ambiente de incubação e estão instaladas nos ambientes comerciais como qualquer outra empresa de maior idade. O Projeto Gênesis faz parte das atividades da Sociedade Brasileira para Promoção da Exportação de Software - SOFTEX, entidade civil, que tem sob sua responsabilidade a gestão do Programa SOFTEX 2000 do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Hoje, estão instalados 20 Centros (Genes) SOFTEX de geração de novas empresas em diversas cidades do País: Fortaleza, Campina Grande, Recife, Salvador, Vitória, Goiânia, Brasília, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Rio de Janeiro, Campos, Campinas, São Carlos, Londrina, Maringá, Pato Branco,Blumenau, Florianópolis e Porto Alegre. Cada um gera, em média, 10 novas empresas por ano, ao custo final de aproximadamente R$ 25 mil por empresa. Os Genes operam sob o modelo de consórcio institucional, juntando entidades com perfis complementares: a universidade com a matéria prima (aluno); entidades como o SEBRAE, IEL, Núcleo SOFTEX, com a competência empresarial na geração de empresas de base tecnológica. O consórcio é complementado por entidades que dão suporte financeiro e institucional. Metade dos recursos são oriundos do Programa SOFTEX 2000. O orçamento de custeio está no CNPq. Os investimentos em capital (laboratórios) foram captados nas empresas beneficiadas com os incentivos da Lei de Informática (Itautec, Compaq e IBM). Todos os recursos foram concedidos através de editais.
Então tudo funciona as mil maravilhas ? Não. Temos muito trabalho a fazer. Precisamos investir no aperfeiçoamento do modelo de gestão, na auto-sustentação do Projeto e na capacitação dos elementos humanos: coordenadores, gerentes, professores e alunos. Faltam recursos de pequena monta (seed money) para consolidar e ampliar os Centros já instalados. Há espaço também para a criação de novos Centros. Só na Universidade de Brasília, neste primeiro semestre, 3.000 alunos, da área tecnológica, buscaram matrícula na disciplina que introduz o aluno no ambiente do empreendedorismo (inocula o vírus do empreendedor no aluno). Na turma para o curso de ciência da computação, 40 alunos foram matriculados em menos de uma hora. Faltam recursos também para os investimentos nos negócios. Precisamos trabalhar nossos capitalistas para apostar nas futuras empresas. Esta prática é comum em outros países. Nos Estados Unidos, desde 1991, os investimentos nas empresas de tecnologias da informação superam os investimentos aplicados nos setores industriais tradicionais.
Este movimento é um sucesso e não dará marcha à ré. Reafirmo minha convicção de que o Brasil estará no “Clube” nos próximos anos. As dificuldades (que fazem parte de qualquer negócio) serão superadas pela ação dos empreendedores e pela disposição dos investidores públicos e privados.
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