Em um dos parágrafos do artigo "De delírio em delírio", escrito por J. R. Guzzo, na Oeste deste final de semana, encontra-se o que ele passou a denominar "Golpe do Estilingue" como uma pista que pode ser útil para deduzir a que ponto está a obra geral de Alexandre de Moraes — a admissão, por parte dele próprio, de que manteve na prisão durante mais de 11 meses, pelo crime de “golpe de Estado”, um morador de rua de Brasília.
"Pense 30 segundos numa coisa destas: como é possível, em qualquer sistema minimamente racional de Justiça do planeta, acusar um sem- teto de “abolição violenta do Estado Democrático de Direito”? Nem nos tribunais de Idi Amin se tem notícia de algo parecido. É o fundo do poço, tanto para Moraes como para o STF, em matéria de humilhação. O que o mundo civilizado acharia se ficasse sabendo que o Brasil tem um magistrado e uma “suprema corte” que funcionam assim? Mas aí é que está o problema: o mais alto tribunal de Justiça da nação se condenou a operar num sistema movido por delírios contínuos e encadeados. Uma alucinação leva à outra."
"O delírio do “morador de rua golpista” é apenas o resultado direto e inevitável do delírio do “Golpe do Estilingue”, que vem do delírio dos “atos antidemocráticos”, que vem do delírio do tribunal que deu a si próprio a autorização de desrespeitar qualquer lei em vigor no Brasil — e assim sucessivamente, de delírio em delírio. Os militantes de esquerda, os intelectuais e as outras classes desligadas do sistema de produção vêm construindo há anos a ficção de que este laboratório do Dr. Frankenstein fabrica democracia. É óbvio que só consegue fabricar as aberrações em série que estão aí. Alexandre de Moraes não é apenas o causador disso, em companhia da maioria dos colegas de STF — em benefício de Lula e com a sua cumplicidade integral. É também o resultado. Chegou a um ponto, agora, em que só consegue agir da maneira como está agindo. Vai ter de engatar o erro de hoje num erro maior amanhã, e em outro maior ainda em seguida — até onde der.
Nesta mesma edição da Oeste, Augusto Nunes e Cristyan Costa, dizem em seu artigo "A inocência assassinada", que a absolvição desse morador de rua foi o mais desmoralizante abuso judicial do STF. Leia alguns trechos desse artigo:
"O ministro Alexandre de Moraes foi invariavelmente o sujeito da frase que, com maldisfarçado entusiasmo, festejava a grande novidade: no peito de um carcereiro vocacional também bate um coração. Faltou espaço para informar já no título que o absolvido se chama Geraldo Filipe da Silva, que tem 27 anos e que era morador de rua quando Moraes o instalou na cadeia em que ficaria enjaulado por 11 meses."
[ ... ] "Na sessão virtual do Supremo Tribunal Federal em que tentou justificar seu voto, o condutor do inquérito que investiga um golpe de Estado de araque caprichou no juridiquês. Alegou que, no caso, há ausência de “elemento probatório” capaz de “comprovar seu elemento subjetivo do tipo dolo”. Se quisesse ser compreendido, constatou o jornalista J. R. Guzzo, Moraes poderia ter reduzido o falatório a uma única frase: “O homem não fez nada”.
[ ... ] "O parecer de Moraes, favorável à soltura de um brasileiro que não deveria ter sido preso sequer por um minuto, já foi endossado por mais cinco ministros, o que garante a soltura. Mas só depois de encerrada a votação poderá ser consumada a real libertação do réu. Até agora, apenas quatro dos mais de 1,3 mil presos do 8 de janeiro se livraram do cruel castigo adicional: alforriados pela morte, foram enterrados sem a marca do rancor. O pernambucano que há dois anos apareceu em Brasília será o primeiro a ver arrancada — em vida — a tornozeleira eletrônica. Mas aquele Geraldo Filipe da Silva não existe mais."
O dia em que Geraldo Filipe da Silva deixou a prisão, em nov/2023 - Foto reprodução redes sociais - |
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