30 junho 2024

Tambores da III Guerra Mundial seguem sendo tocados cada vez mais altos






Tudo leva a crer que Israel não terá opção a não ser atacar as posições do Hezbollah no Líbano, vistos os ataques incessantes que recebe.

A verdade seja dita, sempre foi uma questão de tempo. O Irã diz que irá destruir Israel se atacarem as posições do Hezbollah. 

O Brasil precisa deixar o sombrio Eixo do Mal o quanto antes. Pode nos custar MUITO caro essa ridícula situação..

Para se chegar a essa conclusão não se precisa discutir geopolítica, regimes A ou B. É só relembrar o que a II GM representou para o Brasil, especialmente para as famílias brasileiras que tiveram, entre seus familiares, aqueles que diretamente participaram nas frentes de batalha em solo italiano, embora muitos civis e militares faleceram sem nem lá estarem. Um exemplo do ocorrido está contado a seguir e é mais do que suficiente para se encerrar a palhaçada do atual governo.

Um dos 25 mil homens enviados pelo Brasil para combater as forças do Eixo na Itália, o cabo Waldemar Reinaldo Cerezoli deixou um tesouro precioso antes de morrer, em 1975: seus diários.

Transformado pela historiadora Cristina de Lourdes Pellegrino Feres no livro ‘A Dupla Face da Guerra: a FEB pelo Olhar de um Prisioneiro’ (editora Intermeios), esse material relata desde banalidades do dia a dia no front a conflitos brutais com os inimigos.

No trecho a seguir, Cerezoli narra seu último combate em solo italiano e sua passagem por um campo de prisioneiros na Alemanha, antes de ser libertado pelo Exército dos Estados Unidos em 29 de abril de 1945.

No dia 4 de maio voou para a França. No começo de junho retornou para a Itália e no dia 6 de julho embarcou em um navio para o Brasil, chegando ao Rio de Janeiro em 18 de junho.


Relato do dia 30 de outubro de 1944

Às 4h nos levantamos e partimos para o ataque. Este combate irá resolver minha situação ao posto de sargento. Chegamos na base de partida, fiz uma trincheira para a gata [apelido de sua metralhadora] e estamos esperando a ordem do major para atacar.

Às 10h começou a chover forte. Já estou todo molhado, nossa artilharia está batendo o morro que vamos atacar. Enfim, às 4h da tarde chegou a ordem para atacar. Abrimos fogo em conjunto com os morteiros e metralhadoras. Pus a gata para funcionar e o pelotão de fuzileiros começou a avançar.

Estamos atirando por cima de nossa tropa. Nossa artilharia está atirando certo e granadas estão caindo em cima de nossos homens. O capitão telefonou para a artilharia e pediu para alongar a alça [aumentar o alcance dos tiros].

Recebi a ordem de cessar fogo e avançar com minha peça. Com muito sacrifício consegui chegar nas posições inimigas. O capitão pediu uma metralhadora e eu fui escalado para aquela missão.

Saí com o soldado Alcides, rastejamos por baixo de balas, mas conseguimos chegar aonde o capitão queria e abri fogo em menos de um segundo. Vi que o inimigo recuou e aproveitei para avançar mais. Consegui posição melhor e continuei a atirar

Somente às 8h da noite terminou o combate. Perdemos cinco homens. Recebi ordem de recolher minha peça e fomos para dentro de uma casa que horas antes pertencia aos alemães. Lá encontramos o fogo acesso, chá quente e uns pães pretos.

Eu estava completamente molhado e sujo de barro. Fiquei perto do fogo até à 1h da madrugada e depois peguei no sono. Às 4h, do dia 31, o inimigo contra-atacou e fui acordado pelo sargento Joel.

Entrei em posição em uma janela com minha gata e abri fogo. Às 5h e pouco tudo ficou em silêncio, o inimigo tornou a recuar.

Às 8h da manhã saí com o sargento e o soldado Eliseu para procurar o resto da Companhia e saber de nossa situação. Já tínhamos andado uns 20 metros quando o inimigo abriu fogo em nós a uns dez passos de distância.

Deitei-me rapidamente e abri fogo com meu fuzil. O sargento rastejou e conseguiu entrar em uma zona abrigada. Fiquei com o Eliseu atirando no inimigo e vimos que eram dois e estavam bem entrincheirados.

Só me restava uma granada de mão que estava pendurada no meu cinto do lado esquerdo. O soldado Eliseu a arrancou do cinto, porque eu não podia me mover para tirá-la. Eu já tinha onze furos de bala no capacete e estava desabrigado.

Enquanto eu atirava, Eliseu rastejou até perto da trincheira inimiga e atirou a granada.

Aqueles dois já não matariam mais brasileiros. Voltamos para a casa e encontramos os demais todos assustados.

O sargento não encontrou sinal de nossa Companhia, estávamos em 17 homens cercados pelo inimigo, a Companhia já tinha recuado e nós éramos obrigados a aguentar os alemães.

Começaram os palpites e ficou resolvido que dois homens iriam procurar comunicação com o capitão, que estava em uma casa à nossa direita, a 50 metros aproximadamente. O sargento pediu dois voluntários para arriscar-se naquela missão, mas ninguém se apresentou.

Resolvi ir novamente e o Eliseu disse que iria comigo. Afirmou que todos estavam com medo, e tinha razão. Saímos rastejando, mas pouco adiantou. O alemão nos viu e começou a chover balas sobre nós dois.

Pensei em voltar, mas resolvi ir em frente até o fim: minha missão era encontrar o capitão.

Rastejamos e conseguimos entrar em uma valeta. As balas já não nos alcançavam. Chegamos perto da casa onde estava o capitão com mais dois oficiais. Assim que nos viu fez sinal para voltarmos porque o inimigo estava atirando na porta, pela qual tínhamos que entrar.

Não obedecemos e continuamos a rastejar. Quando o alemão parou de atirar, o Eliseu entrou rapidamente e abriram fogo novamente. Eu fiquei esperando uma oportunidade. Cessaram novamente e consegui entrar na casa.

Contei nossa situação ao capitão. Ele me chamou de louco por arriscar tanto e disse que não nos deixaria voltar. Tanto insistimos que ele consentiu na nossa volta, mas disse-nos que seria loucura.

A ordem que nos deu para levar era para aguentar até a última bala. Saímos rastejando. Então, começou a chover balas sobre nós. Com muita dificuldade e sorte chegamos na casa onde estavam os 15 restantes.

Ficaram admirados em tornar a nos ver. Contei-lhes sobre a nossa situação e a ordem recebida do capitão. Alguns não concordaram, mas fiz-lhes ver que era uma ordem superior.

Era aproximadamente 11h e eu já estava com fome e sede insuportáveis. Subi para o andar superior e vi pela janela que o inimigo já tinha cercado a casa. Falei com o sargento Joel e resolvemos abrir fogo. Éramos 17 e o inimigo seriam mais ou menos 300 homens.

Enquanto tinha balas, atirei para matar. Quando terminaram meus 3 mil tiros de metralhadora, peguei meu fuzil e continuei atirando. Atirávamos a dois ou três metros de distância, dava para ver o ódio estampado no rosto do inimigo.

Troquei de posição e fui para um quarto onde estava o sargento e o soldado Hamilton, que já estava surdo de tanto estouro de granada dentro do quarto. Vi perfeitamente uma granada entrar pela janela e cobri o rosto com o braço esperando a explosão.

Senti uma pancada na cabeça e desacordei por alguns segundos. Depois, vi meu braço ferido e senti sangue escorrer pela perna esquerda. Quis andar, mas não pude.

Olhei para o sargento e vi sangue no braço dele, que se contorcia de dor e estava com o braço direito quebrado. Ao meu lado estava o Hamilton deitado em uma poça de sangue. Um estilhaço havia-lhe cortado a veia.

Consegui ajoelhar-me e acabou minha munição. O sargento pediu para nos entregarmos. Apareceram mais cinco feridos e, então, resolvemos nos entregar. Todos desceram.

Eu fiquei com o Hamilton. O infeliz ainda falava e pediu-me para levá-lo para fora. Eu o arrastei, mas já não tinha mais forças para sustentar-se de pé. Quando chegamos na porta, um alemão com uma metralhadora agarrou-me pelos ombros e fui obrigado a deixar meu colega Hamilton, que já tinha estampado no rosto a hora da morte.

Fui carregado para junto dos meus colegas. O alemão colocou-nos em frente a uma pedra e com a metralhadora na mão gritava como um louco, mas nós não compreendíamos nada. Então, trouxeram os mortos e feridos deles e vi que tínhamos acertado muito.

Aos poucos se acalmaram e vieram dois enfermeiros que nos fizeram os curativos. À tarde nos levaram para a retaguarda e fomos para um hospital em Modena. Ali é que sofremos nas mãos daqueles enfermeiros italianos.

Tiraram-me o estilhaço da perna e outro da cabeça, mas tudo sem anestesia; punham-me gaze na boca para sufocar os gritos. Enfim, fui carregado para uma cama e deixaram-me em paz.

Ali passamos três dias, depois fomos para outro hospital em Parma, onde fomos melhor tratados, porque as enfermeiras eram alemães e pareciam mais humanas que as italianas.

A fome aumentava e a vontade de fumar me deixava louco. À noite, eu tirava uns fios de gaze e enrolava no papel para fumar. A comida era só sopa e muito pouca. Ficamos uma semana naquele hospital, depois fomos para outro que ficava na cidade de Mantova.

Era um hospital só de prisioneiros. Ali que foi de amargar! Tiraram toda nossa roupa e nos deram camisola, mas o diabo é que elas eram curtas e as enfermeiras não queriam que saíssemos da cama.

Assim, passamos até o dia 23 de novembro. Já estava melhor, só me doía a cabeça, e fomos conduzidos para um campo de concentração que ficava na mesma cidade. Encontramos no campo o restante da nossa turma e mais cinco brasileiros que tinham caído prisioneiros antes de nós.

Ficamos naquele campo até 5 de dezembro. A comida era de amargar: 50 gramas de sopa no almoço e 95 gramas na janta, e dormir em cima de tábuas.

No dia 5 de dezembro fomos conduzidos para uma estação e embarcamos em trem de carga: 50 prisioneiros em cada vagão de aço fechado por fora. Partimos à noite e, assim, passamos três dias e três noites fechados como ratos. Durante a viagem comemos uns pedaços de pão duas vezes.

À meia-noite, de 8 de dezembro, tive a honra de desembarcar na Alemanha. Estávamos loucos de sede e, assim que descemos, começamos a comer neve. Entramos em forma e seguimos para o campo de concentração [de Stalag VII-A, localizado na cidade de Moosburg].

Foi a pior impressão de minha vida ver aquele cercado de arame onde eu ia entrar, mas não sabia se sairia.

Passamos a noite sem comer nada. No outro dia, às 9h, vieram uns pães pretos, mas alguns avançaram como loucos nos pães e quem foi educado não comeu nada. À tarde fomos identificados e recebi uma chapa com o número 142292, a qual era obrigado a levar pendurada no pescoço.

Fomos integrados novamente e nos levaram para outra barraca, número 30, junto com americanos. Havia, naquela barraca, muitos mexicanos e logo ficamos amigos.

Fiquei sabendo que naquele campo havia 110 mil prisioneiros de 24 raças [nacionalidade] diferentes. A comida constituía somente em batata.

Ficamos um tempo ali, depois, nós graduados, fomos separados para uma barraca de lona e dormia-se no pedregulho. A primeira refeição vinha às 3h ou 4h da tarde, e muitos dias não vinha; então, comíamos neve para enganar o estômago. Já andava eu barbudo, sujo, cheio de muquirana [um tipo de piolho] e bichos de toda espécie.

E, assim, passaram-se seis meses, até que, no dia 29 de abril de 1945, o Sétimo Exército [dos Estados Unidos] tomou o campo e fomos libertados. Ninguém avalia nossa alegria. Jamais tive um dia tão feliz!

Os tanques comandados pelo general Patton invadiram o campo e já não éramos mais prisioneiros, trocamos de lugar com os alemães. No mesmo dia, chegou cigarro e comida à vontade.

Comi tanto que amanheci doente. Montaram chuveiros e tomamos um banho quente, trocamos de roupa, cortei a barba e já me sentia outro.



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