O artigo a seguir foi produzido a partir de várias publicações e do livro "2052 – A Global Forecast for the Next Forty Years". É um livro de 2012 que descreve as tendências do desenvolvimento global. Foi escrito por Jørgen Randers e é uma continuação de The Limits to Growth, que em 1972 foi o primeiro relatório mundial do Clube de Roma. Ele difere de três maneiras do relatório anterior.publicado em agosto de 2012 e nos endereçou a seguinte afirmação:
"Ao terminar a leitura deste artigo, você se põe a especular se era mais feliz em 2012 ou se está mais feliz em 2052. Mas não chega a uma conclusão. A indecisão ecoa uma declaração de Jorgen Randers: "As pessoas se adaptam facilmente a seu mundo, seja o arranha-céu, seja a fazenda de gado. Se as pessoas vão ser felizes em 2052? Provavelmente tão felizes e infelizes quantos são agora"."
Passada quase uma década e meia de sua publicação e no limiar de um novo ano, cabem reflexões sobre esse período e, obviamente, para os próximos 26 anos.
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Como será o amanhã
Por Diego Viana | De São Paulo
Valor 17/08/2012

Estamos em agosto de 2052 e você acorda com a mensagem de
uma velha amiga, que envia documentos do passado: uma
reportagem antiga, publicada em 2012, ainda no papel feito de
árvores. Você se diverte vendo como, em meia dúzia de
páginas, o jornalista do passado relata previsões sobre o
mundo e o Brasil do futuro, feitas por economistas,
empresários, cientistas e formuladores de políticas públicas.
Um futuro que, para você, já é hoje.
Os eventos que não aconteceram nos últimos 40 anos fazem
rir, tanto os catastróficos quanto os utópicos. De um lado, as
guerras mundiais nucleares e biológicas, o colapso econômico
e ambiental, o esgotamento das fontes de energia e alimentos.
Do outro, a conectividade perfeita, a democracia triunfante em
todos os países, o sucesso na luta contra a mudança climática.
Os futurólogos, você pensa, têm uma estranha inclinação para
pensar em extremos: ou todos os problemas são resolvidos ou
todos conduzem ao desastre.
Mas à parte a ironia com os furos dos prognósticos, você se
põe a comparar a sua realidade em 2052 com aquilo que era
imaginado tanto tempo atrás. E enfim, voltando à sua vida de
2012, você reconhece que compartilha das preocupações
expressas no texto: como a humanidade vai lidar com a
poluição que ela cria? Como substituir a energia não
renovável? Como produzir comida para todos, combater a
miséria, controlar o lixo e garantir o bem-estar? Como vai ser
a economia de um mundo cuja população envelheceu? As
cidades, já poluídas, engarrafadas e monstruosas, vão ser habitáveis
quando a taxa de urbanização do mundo chegar a 80%?
Como vai estar o Brasil nesse quadro?
Perguntas como essas são tratadas em relatórios e cenários
que, ainda em 2012, têm um horizonte de previsão de 40 anos.
Jogando com tendências e indicadores já disponíveis,
climatólogos, consultores, economistas e demógrafos tentam
imaginar como será o amanhã e como ele pode ser preparado.
As maiores diferenças de hoje para os anos 2050 estão nas
coisas simples. Tudo se encaminha para que as famílias
tenham mais gerações, graças ao aumento da expectativa de
vida. Terão, porém, menos jovens, porque mesmo no mundo
em desenvolvimento, em pleno processo de urbanização, os
casais se decidem por menos crianças. Ou seja, se você tem
dois filhos, é grande a chance de vir a ter também dois netos.
Ou menos. Mas também é possível apostar com um bom grau
de segurança que você vai conhecer seus bisnetos.
"Temos pensado nisso em termos fiscais, mas muitas outras
adaptações vão ser necessárias para lidar com o aumento de
trabalhadores acima de 60 anos. O sistema educativo vai ter
que contemplar a volta aos estudos na meia-idade e as cidades
vão ter de ser reformadas, por exemplo", prevê o economista
indiano Sanjeev Sanyal, estrategista-chefe do Deutsche Bank e
autor do relatório "O Fim do Crescimento Populacional".
Isso não significa que o interesse pela vida familiar ou pela
reprodução vá desaparecer. O paradigma da família de 2052 já
é visível no seriado "The Modern Family", segundo a
consultora Rebeca Dreicon, representante no Brasil da
empresa britânica The Futures Company, especializada em
cenários de futuro: irmãos com enorme diferença de idade,
casais gays com filhos adotados, casais cinquentões que fazem
inseminação artificial, incentivos públicos para famílias com
crianças e outras possibilidades que ainda estão por criar
compõem o universo íntimo de 2052.
Mais idosas e com menos filhos, as pessoas perdem o interesse
pelo subúrbio e voltam a querer morar em cidades: esse será o
destino de 80% da população no mundo, segundo as projeções.
Para tanto, as metrópoles vão ter de se adaptar: os
sistemas que fazem funcionar o centro urbano se integram, os
bairros ganham infraestrutura para evitar excesso de
deslocamentos e as redes de transporte público se tornam
mais densas.
O público-alvo das projeções são empresas e governos que
precisam antecipar as tendências do mercado e da população.
Mas o público geral também procura saber como serão sua
vida, sua casa, sua família e sua cidade no futuro. Em suma,
seu mundo.
Assim como terá de lidar com novas condições demográficas, a
economia mundial vai ter de dar respostas aos séculos de
gestão irresponsável dos recursos naturais: muito tempo vai
ser perdido no conserto de infraestrutura destruída por
intempéries, elevando a taxa de investimento na economia dos
atuais 24%, aproximadamente, para mais de 35% em 2050:
não será investimento em crescimento, mas em manutenção, e
esse aumento virá à custa do consumo, naturalmente. O tema
é desenvolvido pelo climatólogo norueguês Jorgen Randers,
professor da Norwegian School of Management, que publicou
o livro "2052", com previsões demográficas, econômicas,
políticas e climáticas. O livro é um relatório para o Clube de
Roma, que reúne intelectuais de diversas áreas e já havia
publicado, em 1972, um relatório com previsões para os 40
anos seguintes: "Os Limites do Crescimento". Randers foi um
dos autores.
Além de limpar a própria sujeira, a humanidade poderá
explorá-la. Segundo Rebeca, a mineração do futuro não será
feita em minas cada vez mais profundas e inacessíveis, e sim
nos atuais lixões. "É incrível a quantidade de materiais
valiosíssimos que tem nesses aparelhos eletrônicos que
jogamos fora", ela comenta. "As empresas já estão de olho
nisso."
Em 2050, será difícil determinar quando termina o trabalho e
começa o descanso. O escritório poderá se tornar um lugar de
passagem, porque a evolução da comunicação torna cada vez
menos justificáveis os grandes deslocamentos. A
aposentadoria será deixada cada vez para mais tarde, mas até
lá o trabalho deverá ser menos intenso, segundo as projeções:
a habilidade para gerenciar sistemas técnicos e entender
diferentes aspectos de um processo levará vantagem sobre a
capacidade de executar tarefas precisas.
As releituras do futuro começam pelo relatório do indiano
Sanyal. O pico da população, em torno de 8,5 bilhões de
pessoas, está previsto para 2040. Em seguida, a queda,
resultado de uma taxa de fecundidade abaixo do índice de
reposição, necessário para manter estável a população (acima
de dois filhos por mulher). Sanyal se opõe às previsões
hegemônicas, pelas quais a população tende a crescer
indefinidamente. A Organização das Nações Unidas (ONU),
por exemplo, projeta 9,3 bilhões de habitantes no mundo em
2050 e 10 bilhões em 2100. Sanyal afirma que essa projeção
deixa de lado dados importantes. Já no fim do século XX, a
população dos países ricos começava a envelhecer, estagnar e
até cair: as pessoas viviam cada vez mais tempo, mas os jovens
decidiam ter menos filhos. Em 2012, percebe-se o embrião
desse fenômeno no mundo em desenvolvimento. A China
atingiu 1,34 bilhão de habitantes em 2011, 20 milhões abaixo
do projetado pela ONU em 2008.
Sanyal assinala que a taxa de crescimento da população
mundial desacelera a um ritmo bem mais forte que o
esperado. A taxa de fecundidade, já baixa desde a década de
1960 na Europa, cai abaixo do nível de reposição também na
Coreia do Sul (1,2 filho por mulher), na Rússia (1,5) e no Brasil
(1,7). A política de filho único na China e "preferências
culturais por meninos", segundo Sanyal, reforçam a tendência,
ao produzir um desequilíbrio na ocorrência dos gêneros: há
118,6 meninos para cada cem meninas na China. "A falta de
mulheres vai provocar uma queda ainda mais forte na
fertilidade, já que são elas, e não eles, que dão à luz", diz o
economista.
O método central na elaboração de cenários para o futuro
consiste em extrapolar tendências já visíveis. Como aponta
Rebeca, o procedimento exige um esforço de imaginação para
identificar as tensões que se produzem e vão se intensificar, as
inovações que já batem à porta e as variações no equilíbrio de
poder entre as nações. É o caso do relatório "Logistics 2050",
publicado pela empresa de transportes Deutsche Post DHL,
que descreve cinco possíveis mundos para o futuro.
No primeiro, caracterizado por "materialismo e consumo fora
de controle", o comércio se expande, mas o planeta reage com
desastres naturais mais extremos. No segundo, as cidades
continuam se expandindo, mas se tornam mais eficientes e
menos agressivas para o ambiente, graças à economia de
colaboração e à tecnologia. No terceiro cenário, o desejo de
personalização dos consumidores resulta em relações mais
locais e menos globais, mas o aumento do consumo alimenta a
mudança climática. No quarto, uma contínua crise econômica
leva ao retorno do protecionismo, com conflitos em torno da
matéria-prima. No último cenário, a repetição das crises
ambientais provoca uma mudança de paradigma econômico
que espelha as previsões de Randers: a humanidade passa a
investir mais em proteção contra intempéries e menos em
crescimento do produto.
Os dados demográficos do Brasil estão em linha com os mundiais,
apontando para o fim do crescimento populacional
dentro de duas décadas. A partir desse ponto, a situação será
semelhante à europeia de hoje: esforços para equilibrar a
previdência social enquanto a população economicamente
ativa (PEA) decresce. Alguns demógrafos acreditam que, antes
disso, o Brasil terá tempo para preparar esse cenário. Trata-se
do período conhecido como "bônus demográfico", que
designa, segundo o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um
período em que a proporção da PEA (entre 15 e 64 anos)
supera a "população dependente", isto é, crianças e idosos. No
Brasil, o bônus deve durar até algum ponto entre 2035 e 2045.
O período é considerado um bônus por possibilitar "que a
demografia atue para incrementar o crescimento econômico e
a melhoria das condições sociais".
Alves explica a velocidade da queda da taxa de fecundidade no
Brasil evocando os processos de urbanização e
industrialização no século XX. Também entram na conta o
aumento dos níveis educacionais, a expansão da saúde
pública, com ênfase na saúde reprodutiva, e a entrada da
mulher no mercado de trabalho. Outros países em
desenvolvimento, porém, viveram esse processo ainda mais
rápido, como Coreia do Sul, Tailândia, Costa Rica e Irã.
Para o demógrafo, o bônus exige agilidade para ser bem
fruído. "É preciso aproveitar o bônus investindo em educação,
em saúde e no pleno emprego." O retrato do que vem depois
do bônus já é visível na Europa, mas o continente chega a ele
em condições melhores do que as que o Brasil deixa antever.
"Na Grécia e na Espanha, os idosos têm cortes nas
aposentadorias; quem está na PEA vai ter de trabalhar até
idades mais adiantadas e os jovens não arrumam emprego",
diz. "Será que o Brasil terá de passar por isso e ainda enfrentar
os problemas de pobreza e violência?"
A questão do bônus também aparece nas palavras da
economista Ana Amélia Camarano, do Instituto de Pesquisas
Econômicas Aplicadas (Ipea). Para ela, o conceito de bônus é
falho: pressupõe que haja, também, um ônus. No caso
demográfico, seria um período em que a taxa de dependência seja alta:
muitas crianças, muitos idosos, poucas pessoas em
idade produtiva. "A demografia, por si só, não é responsável
por eventos econômicos. A população nada mais é do que a
vida das pessoas, é a finalidade das atividades humanas."
A economista, especializada no tema do envelhecimento da
população brasileira, antecipa mudanças no modo de viver do
país, à medida que a terceira idade passa a ser a idade mais
populosa. "Para evitar problemas na previdência, é preciso
investir na produtividade das pessoas mais idosas. E devemos
eliminar o preconceito contra o trabalho do idoso", afirma,
ressaltando que a tecnologia reduz a necessidade de esforço
físico, que favorece os jovens. "Será preciso aumentar o direito
de faltar ao trabalho e trabalhar de casa. Os idosos têm mais
senso de responsabilidade."
Trabalhar até mais tarde na vida significa, também, acumular
experiência e guardar conhecimento. O imperativo de
trabalhar muito e ganhar bem logo nas primeiras décadas de
vida produtiva é enfraquecido, em nome de uma relação mais
fluida entre lazer e labor. "Antigamente, o bonito era trabalhar
até morrer, para não ser 'o velho', encosto da família", diz
Rebeca. "As pessoas vão ter menos filhos e uma vida
financeira mais equilibrada. A tendência é cada vez mais
buscar a qualidade de vida. A preocupação com o trabalho é
menor quando as pessoas não precisam se preocupar em
pagar a escola de dois ou três filhos."
Randers encontra mais uma razão para que o trabalho
prossiga até idades mais avançadas: "Vivemos 20 anos a mais
do que antigamente, mas continua levando só dois anos para
morrer: ficávamos doentes com 62 e morríamos com 64, agora
ficamos doentes com 82 e morremos com 84!"
Ana Camarano diz, também, que a transição demográfica faz
parte de um longo processo, iniciado nos anos 1960. "Com as
tecnologias contraceptivas e a entrada da mulher no mercado
de trabalho, separou-se a sexualidade do casamento e o
casamento da reprodução." Era a revolução sexual. Depois das
tecnologias contraceptivas, chegam as reprodutivas:
congelamento de óvulos, inseminação artificial, entre outras.
Com isso, a tecnologia pode promover uma reversão da
tendência de queda da fecundidade mundial. Além disso,
governos também passam a favorecer a reprodução, com
licenças-maternidade e paternidade mais extensas e flexíveis,
como já ocorre na Escandinávia. "As mulheres tiveram um
papel forte na redução populacional, em parte graças à
tecnologia. E, graças à tecnologia, também podem vir a ter um
papel fundamental na reversão da tendência de queda da
fecundidade", argumenta a economista.
Randers alerta que as tentativas de controlar o aquecimento
global poderão fazer efeito, mas não rápido o suficiente.
Consequentemente, os esforços econômicos vão se dirigir cada
vez mais para a recuperação de infraestrutura destruída por
desastres naturais. Além disso, manter o crescimento
econômico vai se tornar mais difícil à medida que a
industrialização e a globalização se espalharem. E, apesar da
tendência à redistribuição da riqueza em torno do globo, ainda
haverá cerca de 3 bilhões de pessoas vivendo abaixo da linha
de pobreza em 2052.
Cidades do futuro costumam ser imaginadas com carros
voadores, lojas automáticas e edifícios lúgubres. Mas um olhar
sobre tendências urbanas de 2012 oferecem um quadro menos
impressionante. As pesquisas tecnológicas se encaminham para
dispositivos de conexão entre os diferentes aparelhos de
uma casa. Como resultado, uma pessoa poderá acionar um
forno de micro-ondas na cozinha sem se levantar da cama. Um
estudo sobre os "mundos pessoais" da The Futures Company
prevê que "o acesso à informação e à comunicação deixa de ser
amarrado a lugares próprios na casa". Na previsão, "os quartos
das pessoas podem se tornar 'cômodos pessoais' em vez de
quartos de dormir". Mas o estado constante de "semiconexão"
pode gerar reações, porque "a ubiquidade das telas dentro da
casa pode criar a sensação de que é difícil se afastar delas". À
medida que as comunicações se aperfeiçoem, a possibilidade
de trabalhar em casa produz incertezas quanto à distinção
entre o trabalho e o descanso.
Para cada tendência, uma contratendência. "As pessoas
reagem às mudanças cada uma à sua maneira", observa
Rebeca. "Por exemplo, hoje existem grupos que praticam o
'nadismo': as pessoas se reúnem para não fazer absolutamente
nada durante um dia inteiro." No estudo, prevê-se que a
distribuição dos cômodos nas casas obedecerá a finalidades
diferentes, na dicotomia entre conexão e desconexão: "Certas
famílias poderão estabelecer salas aonde a tecnologia não
chegue".
Fundindo a demografia com a tecnologia, surge a questão:
quem serão os habitantes desses lares? Se as vidas serão mais
longas, para pessoas com menos filhos ou sem filho nenhum, a
aparência das cidades terá de mudar. "Já é possível observar
uma transformação importante no fluxo de pessoas no mundo
desenvolvido", diz Randers. "As pessoas recuperam o interesse
pelas cidades, principalmente depois que as indústrias, com
sua poluição e tráfego pesado, foram embora."
O adensamento das regiões centrais é uma aposta de gestores
urbanos para as próximas décadas. O processo motivou o
economista americano Edward Glaeser, da Universidade
Harvard, a publicar um livro sobre o "triunfo da cidade" ("Os
Centros Urbanos: A Maior Invenção da Humanidade",
Campus, 2011). Como Glaeser, Sanyal considera que a era dos
subúrbios ficou para trás. "Uma população de pessoas idosas e jovens
solteiros prefere áreas urbanas densas", diz. "Quando
as pessoas se juntam nessas áreas, a receita tributária e os
preços dos imóveis sobem, incentivando o investimento. Pela
mesma razão, os subúrbios distantes entrarão em declínio."
Exatamente por isso, a principal previsão para as cidades é a
busca de eficiência sistêmica. A pesquisa "Mudos Públicos" da
The Futures Company prevê que os sistemas sobrepostos que
compõem as cidades (eletricidade, metrô, rede de esgoto, gás
etc.) se integrem por meio de tecnologia digital. "É possível
coletar cada vez mais dados urbanos em tempo real", diz o
estudo, "o que nos permite alterar radicalmente a forma de
entender, projetar e viver nas cidades". A ubiquidade da
informação permitirá otimizar os deslocamentos, o uso de
energia e água, a comunicação e outros fatores fundamentais
da vida urbana.
Jorgen Randers aposta que esforços e inovações para tornar a
produção e o consumo mais limpos e sustentáveis retardarão o
aquecimento global. Mas os resultados virão tarde demais. Em
40 anos a média de temperatura do mundo estará 2° C acima
de níveis pré-industriais. Esse é o nível que a conferência da
ONU sobre o clima de Durban (2011) estimou como limite
entre o aquecimento suportável e a catástrofe. "O capitalismo
só age quando agir é mais lucrativo que se abster. Já as
negociações levam muito tempo e nunca chegam a um
resultado realmente satisfatório."
Talvez um grande desastre, ecológico ou social, pudesse
reverter a perigosa tendência. Mas Randers se mantém cético.
"Quando o furacão Katrina atingiu os EUA, imaginei que
finalmente os americanos mudariam sua postura sobre a
mudança climática. Nada aconteceu." No Japão, o acidente
nuclear que se seguiu ao tsunami do ano passado desencadeou
um processo de fechamento de usinas nucleares na Ásia e na
Europa. "O Japão é um bom indicador para prever o futuro",
afirma o climatólogo. "A população começou a decrescer e a
economia com ela, mas a renda per capita não diminuiu. Ao
contrário, cada japonês, hoje, é mais rico do que nunca,
embora os economistas só consigam ver a estagnação
econômica."
O caso japonês é evocado na tentativa de responder à
pergunta: se a população não cresce, a economia deve crescer?
Economistas e ecologistas preocupados com a degradação
ambiental propõem políticas econômicas voltadas para a
manutenção de uma economia de tamanho constante (o
estado estacionário) ou cujo tamanho diminua em paralelo
com a população, a partir das ideias do economista americano
Herman Daly, entre outros.
Um alvo de Daly é o termo "crescimento sustentável". Para ele,
esse é um "mau oximoro". Ele afirma que o crescimento
econômico necessariamente incorpora uma proporção
crescente do ecossistema, então é preciso repensar o
desenvolvimento econômico para que seja um
desenvolvimento sem crescimento. "Desenvolvimento
sustentável é a adaptação cultural da sociedade quando ela se
torna consciente da necessidade do crescimento nulo."
Randers não usa o conceito de estado estacionário, mas
calcula que o crescimento econômico vai diminuir. Os motivos
são dois: o aumento não intencional na taxa de investimento e
a dificuldade para expandir a produtividade do trabalho.
A taxa de investimento vai sofrer uma expansão, segundo o
norueguês, simplesmente para consertar os prejuízos causados
por catástrofes naturais cada vez mais frequentes: inundações,
furacões, secas, nevascas. "Cada vez mais estradas e ferrovias
vão ser carregadas por temporais e teremos de reconstruí-las.
Vai faltar água em algumas regiões e vai ser preciso implantar,
por exemplo, usinas de dessalinização. Eis o século XXI",
aponta.
Já a produtividade avança cada vez mais devagar porque,
segundo o climatólogo, a introdução de tecnologias não
promove um crescimento tão extraordinário da produtividade
da mão de obra quanto a transferência de trabalhadores da
agricultura para a indústria e desta para os serviços. "Nesse
estágio, começa a ser liberada renda para que as pessoas se
dediquem a serviços sociais, artes, entretenimento e assim por
diante. A produtividade começa a estagnar", nota Randers.
Grande parte dos ganhos de produtividade no século XXI
ocorre no mundo em desenvolvimento, mas o processo tem
seu limite: Randers prevê ganhos acima de 2% até 2020, mas
só 0,77% em 2050.
Ao terminar a leitura, você se põe a especular
se era mais feliz em 2012 ou se está mais feliz em 2052. Mas não
chega a uma conclusão. A indecisão ecoa uma declaração de Jorgen
Randers: "As pessoas se adaptam facilmente a seu mundo,
seja o arranha-céu, seja a fazenda de gado. Se as pessoas vão
ser felizes em 2052? Provavelmente tão felizes e infelizes
quantos são agora".
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