29 dezembro 2025

Como será o amanhã

    O artigo a seguir foi produzido a partir de várias publicações e do livro "2052 – A Global Forecast for the Next Forty Years". É um livro de 2012 que descreve as tendências do desenvolvimento global. Foi escrito por Jørgen Randers e é uma continuação de The Limits to Growth, que em 1972 foi o primeiro relatório mundial do Clube de Roma. Ele difere de três maneiras do relatório anterior.publicado em agosto de 2012 e nos endereçou a seguinte afirmação: 

"Ao terminar a leitura deste artigo, você se põe a especular se era mais feliz em 2012 ou se está mais feliz em 2052. Mas não chega a uma conclusão. A indecisão ecoa uma declaração de Jorgen Randers: "As pessoas se adaptam facilmente a seu mundo, seja o arranha-céu, seja a fazenda de gado. Se as pessoas vão ser felizes em 2052? Provavelmente tão felizes e infelizes quantos são agora"."

    Passada quase uma década e meia de sua publicação e no limiar de um novo ano, cabem reflexões sobre esse período e, obviamente, para os próximos 26 anos. 

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Como será o amanhã

Por Diego Viana | De São Paulo

Valor 17/08/2012





Estamos em agosto de 2052 e você acorda com a mensagem de

uma velha amiga, que envia documentos do passado: uma

reportagem antiga, publicada em 2012, ainda no papel feito de

árvores. Você se diverte vendo como, em meia dúzia de

páginas, o jornalista do passado relata previsões sobre o

mundo e o Brasil do futuro, feitas por economistas,

empresários, cientistas e formuladores de políticas públicas.

Um futuro que, para você, já é hoje.


Os eventos que não aconteceram nos últimos 40 anos fazem

rir, tanto os catastróficos quanto os utópicos. De um lado, as

guerras mundiais nucleares e biológicas, o colapso econômico

e ambiental, o esgotamento das fontes de energia e alimentos.

Do outro, a conectividade perfeita, a democracia triunfante em

todos os países, o sucesso na luta contra a mudança climática.

Os futurólogos, você pensa, têm uma estranha inclinação para

pensar em extremos: ou todos os problemas são resolvidos ou

todos conduzem ao desastre.


Mas à parte a ironia com os furos dos prognósticos, você se

põe a comparar a sua realidade em 2052 com aquilo que era

imaginado tanto tempo atrás. E enfim, voltando à sua vida de

2012, você reconhece que compartilha das preocupações

expressas no texto: como a humanidade vai lidar com a

poluição que ela cria? Como substituir a energia não

renovável? Como produzir comida para todos, combater a

miséria, controlar o lixo e garantir o bem-estar? Como vai ser

a economia de um mundo cuja população envelheceu? As

cidades, já poluídas, engarrafadas e monstruosas, vão ser habitáveis

 quando a taxa de urbanização do mundo chegar a 80%? 

Como vai estar o Brasil nesse quadro?


Perguntas como essas são tratadas em relatórios e cenários

que, ainda em 2012, têm um horizonte de previsão de 40 anos.

Jogando com tendências e indicadores já disponíveis,

climatólogos, consultores, economistas e demógrafos tentam

imaginar como será o amanhã e como ele pode ser preparado.


As maiores diferenças de hoje para os anos 2050 estão nas

coisas simples. Tudo se encaminha para que as famílias

tenham mais gerações, graças ao aumento da expectativa de

vida. Terão, porém, menos jovens, porque mesmo no mundo

em desenvolvimento, em pleno processo de urbanização, os

casais se decidem por menos crianças. Ou seja, se você tem

dois filhos, é grande a chance de vir a ter também dois netos.

Ou menos. Mas também é possível apostar com um bom grau

de segurança que você vai conhecer seus bisnetos.


"Temos pensado nisso em termos fiscais, mas muitas outras

adaptações vão ser necessárias para lidar com o aumento de

trabalhadores acima de 60 anos. O sistema educativo vai ter

que contemplar a volta aos estudos na meia-idade e as cidades

vão ter de ser reformadas, por exemplo", prevê o economista

indiano Sanjeev Sanyal, estrategista-chefe do Deutsche Bank e

autor do relatório "O Fim do Crescimento Populacional".


Isso não significa que o interesse pela vida familiar ou pela

reprodução vá desaparecer. O paradigma da família de 2052 já

é visível no seriado "The Modern Family", segundo a

consultora Rebeca Dreicon, representante no Brasil da

empresa britânica The Futures Company, especializada em

cenários de futuro: irmãos com enorme diferença de idade,

casais gays com filhos adotados, casais cinquentões que fazem

inseminação artificial, incentivos públicos para famílias com

crianças e outras possibilidades que ainda estão por criar

compõem o universo íntimo de 2052.


Mais idosas e com menos filhos, as pessoas perdem o interesse

pelo subúrbio e voltam a querer morar em cidades: esse será o

destino de 80% da população no mundo, segundo as projeções. 

Para tanto, as metrópoles vão ter de se adaptar: os

sistemas que fazem funcionar o centro urbano se integram, os

bairros ganham infraestrutura para evitar excesso de

deslocamentos e as redes de transporte público se tornam

mais densas.


O público-alvo das projeções são empresas e governos que

precisam antecipar as tendências do mercado e da população.

Mas o público geral também procura saber como serão sua

vida, sua casa, sua família e sua cidade no futuro. Em suma,

seu mundo.


Assim como terá de lidar com novas condições demográficas, a

economia mundial vai ter de dar respostas aos séculos de

gestão irresponsável dos recursos naturais: muito tempo vai

ser perdido no conserto de infraestrutura destruída por

intempéries, elevando a taxa de investimento na economia dos

atuais 24%, aproximadamente, para mais de 35% em 2050:

não será investimento em crescimento, mas em manutenção, e

esse aumento virá à custa do consumo, naturalmente. O tema

é desenvolvido pelo climatólogo norueguês Jorgen Randers,

professor da Norwegian School of Management, que publicou

o livro "2052", com previsões demográficas, econômicas,

políticas e climáticas. O livro é um relatório para o Clube de

Roma, que reúne intelectuais de diversas áreas e já havia

publicado, em 1972, um relatório com previsões para os 40

anos seguintes: "Os Limites do Crescimento". Randers foi um

dos autores.


Além de limpar a própria sujeira, a humanidade poderá

explorá-la. Segundo Rebeca, a mineração do futuro não será

feita em minas cada vez mais profundas e inacessíveis, e sim

nos atuais lixões. "É incrível a quantidade de materiais

valiosíssimos que tem nesses aparelhos eletrônicos que

jogamos fora", ela comenta. "As empresas já estão de olho

nisso."


Em 2050, será difícil determinar quando termina o trabalho e

começa o descanso. O escritório poderá se tornar um lugar de

passagem, porque a evolução da comunicação torna cada vez

menos justificáveis os grandes deslocamentos. A

aposentadoria será deixada cada vez para mais tarde, mas até

lá o trabalho deverá ser menos intenso, segundo as projeções:

a habilidade para gerenciar sistemas técnicos e entender

diferentes aspectos de um processo levará vantagem sobre a

capacidade de executar tarefas precisas.


As releituras do futuro começam pelo relatório do indiano

Sanyal. O pico da população, em torno de 8,5 bilhões de

pessoas, está previsto para 2040. Em seguida, a queda,

resultado de uma taxa de fecundidade abaixo do índice de

reposição, necessário para manter estável a população (acima

de dois filhos por mulher). Sanyal se opõe às previsões

hegemônicas, pelas quais a população tende a crescer

indefinidamente. A Organização das Nações Unidas (ONU),

por exemplo, projeta 9,3 bilhões de habitantes no mundo em

2050 e 10 bilhões em 2100. Sanyal afirma que essa projeção

deixa de lado dados importantes. Já no fim do século XX, a

população dos países ricos começava a envelhecer, estagnar e

até cair: as pessoas viviam cada vez mais tempo, mas os jovens

decidiam ter menos filhos. Em 2012, percebe-se o embrião

desse fenômeno no mundo em desenvolvimento. A China

atingiu 1,34 bilhão de habitantes em 2011, 20 milhões abaixo

do projetado pela ONU em 2008.


Sanyal assinala que a taxa de crescimento da população

mundial desacelera a um ritmo bem mais forte que o

esperado. A taxa de fecundidade, já baixa desde a década de

1960 na Europa, cai abaixo do nível de reposição também na

Coreia do Sul (1,2 filho por mulher), na Rússia (1,5) e no Brasil

(1,7). A política de filho único na China e "preferências

culturais por meninos", segundo Sanyal, reforçam a tendência,

ao produzir um desequilíbrio na ocorrência dos gêneros: há

118,6 meninos para cada cem meninas na China. "A falta de

mulheres vai provocar uma queda ainda mais forte na

fertilidade, já que são elas, e não eles, que dão à luz", diz o

economista.


O método central na elaboração de cenários para o futuro

consiste em extrapolar tendências já visíveis. Como aponta

Rebeca, o procedimento exige um esforço de imaginação para

identificar as tensões que se produzem e vão se intensificar, as

inovações que já batem à porta e as variações no equilíbrio de

poder entre as nações. É o caso do relatório "Logistics 2050",

publicado pela empresa de transportes Deutsche Post DHL,

que descreve cinco possíveis mundos para o futuro.


No primeiro, caracterizado por "materialismo e consumo fora

de controle", o comércio se expande, mas o planeta reage com

desastres naturais mais extremos. No segundo, as cidades

continuam se expandindo, mas se tornam mais eficientes e

menos agressivas para o ambiente, graças à economia de

colaboração e à tecnologia. No terceiro cenário, o desejo de

personalização dos consumidores resulta em relações mais

locais e menos globais, mas o aumento do consumo alimenta a

mudança climática. No quarto, uma contínua crise econômica

leva ao retorno do protecionismo, com conflitos em torno da

matéria-prima. No último cenário, a repetição das crises

ambientais provoca uma mudança de paradigma econômico

que espelha as previsões de Randers: a humanidade passa a

investir mais em proteção contra intempéries e menos em

crescimento do produto.


Os dados demográficos do Brasil estão em linha com os mundiais, 

apontando para o fim do crescimento populacional

dentro de duas décadas. A partir desse ponto, a situação será

semelhante à europeia de hoje: esforços para equilibrar a

previdência social enquanto a população economicamente

ativa (PEA) decresce. Alguns demógrafos acreditam que, antes

disso, o Brasil terá tempo para preparar esse cenário. Trata-se

do período conhecido como "bônus demográfico", que

designa, segundo o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um

período em que a proporção da PEA (entre 15 e 64 anos)

supera a "população dependente", isto é, crianças e idosos. No

Brasil, o bônus deve durar até algum ponto entre 2035 e 2045.

O período é considerado um bônus por possibilitar "que a

demografia atue para incrementar o crescimento econômico e

a melhoria das condições sociais".


Alves explica a velocidade da queda da taxa de fecundidade no

Brasil evocando os processos de urbanização e

industrialização no século XX. Também entram na conta o

aumento dos níveis educacionais, a expansão da saúde

pública, com ênfase na saúde reprodutiva, e a entrada da

mulher no mercado de trabalho. Outros países em

desenvolvimento, porém, viveram esse processo ainda mais

rápido, como Coreia do Sul, Tailândia, Costa Rica e Irã.


Para o demógrafo, o bônus exige agilidade para ser bem

fruído. "É preciso aproveitar o bônus investindo em educação,

em saúde e no pleno emprego." O retrato do que vem depois

do bônus já é visível na Europa, mas o continente chega a ele

em condições melhores do que as que o Brasil deixa antever.

"Na Grécia e na Espanha, os idosos têm cortes nas

aposentadorias; quem está na PEA vai ter de trabalhar até

idades mais adiantadas e os jovens não arrumam emprego",

diz. "Será que o Brasil terá de passar por isso e ainda enfrentar

os problemas de pobreza e violência?"


A questão do bônus também aparece nas palavras da

economista Ana Amélia Camarano, do Instituto de Pesquisas

Econômicas Aplicadas (Ipea). Para ela, o conceito de bônus é

falho: pressupõe que haja, também, um ônus. No caso

demográfico, seria um período em que a taxa de dependência seja alta: 

muitas crianças, muitos idosos, poucas pessoas em

idade produtiva. "A demografia, por si só, não é responsável

por eventos econômicos. A população nada mais é do que a

vida das pessoas, é a finalidade das atividades humanas."


A economista, especializada no tema do envelhecimento da

população brasileira, antecipa mudanças no modo de viver do

país, à medida que a terceira idade passa a ser a idade mais

populosa. "Para evitar problemas na previdência, é preciso

investir na produtividade das pessoas mais idosas. E devemos

eliminar o preconceito contra o trabalho do idoso", afirma,

ressaltando que a tecnologia reduz a necessidade de esforço

físico, que favorece os jovens. "Será preciso aumentar o direito

de faltar ao trabalho e trabalhar de casa. Os idosos têm mais

senso de responsabilidade."


Trabalhar até mais tarde na vida significa, também, acumular

experiência e guardar conhecimento. O imperativo de

trabalhar muito e ganhar bem logo nas primeiras décadas de

vida produtiva é enfraquecido, em nome de uma relação mais

fluida entre lazer e labor. "Antigamente, o bonito era trabalhar

até morrer, para não ser 'o velho', encosto da família", diz

Rebeca. "As pessoas vão ter menos filhos e uma vida

financeira mais equilibrada. A tendência é cada vez mais

buscar a qualidade de vida. A preocupação com o trabalho é

menor quando as pessoas não precisam se preocupar em

pagar a escola de dois ou três filhos."


Randers encontra mais uma razão para que o trabalho

prossiga até idades mais avançadas: "Vivemos 20 anos a mais

do que antigamente, mas continua levando só dois anos para

morrer: ficávamos doentes com 62 e morríamos com 64, agora

ficamos doentes com 82 e morremos com 84!"


Ana Camarano diz, também, que a transição demográfica faz

parte de um longo processo, iniciado nos anos 1960. "Com as

tecnologias contraceptivas e a entrada da mulher no mercado

de trabalho, separou-se a sexualidade do casamento e o

casamento da reprodução." Era a revolução sexual. Depois das

tecnologias contraceptivas, chegam as reprodutivas:

congelamento de óvulos, inseminação artificial, entre outras.

Com isso, a tecnologia pode promover uma reversão da

tendência de queda da fecundidade mundial. Além disso,

governos também passam a favorecer a reprodução, com

licenças-maternidade e paternidade mais extensas e flexíveis,

como já ocorre na Escandinávia. "As mulheres tiveram um

papel forte na redução populacional, em parte graças à

tecnologia. E, graças à tecnologia, também podem vir a ter um

papel fundamental na reversão da tendência de queda da

fecundidade", argumenta a economista.


Randers alerta que as tentativas de controlar o aquecimento

global poderão fazer efeito, mas não rápido o suficiente.

Consequentemente, os esforços econômicos vão se dirigir cada

vez mais para a recuperação de infraestrutura destruída por

desastres naturais. Além disso, manter o crescimento

econômico vai se tornar mais difícil à medida que a

industrialização e a globalização se espalharem. E, apesar da

tendência à redistribuição da riqueza em torno do globo, ainda

haverá cerca de 3 bilhões de pessoas vivendo abaixo da linha

de pobreza em 2052.


Cidades do futuro costumam ser imaginadas com carros

voadores, lojas automáticas e edifícios lúgubres. Mas um olhar

sobre tendências urbanas de 2012 oferecem um quadro menos 

impressionante. As pesquisas tecnológicas se encaminham para 

dispositivos de conexão entre os diferentes aparelhos de

uma casa. Como resultado, uma pessoa poderá acionar um

forno de micro-ondas na cozinha sem se levantar da cama. Um

estudo sobre os "mundos pessoais" da The Futures Company

prevê que "o acesso à informação e à comunicação deixa de ser

amarrado a lugares próprios na casa". Na previsão, "os quartos

das pessoas podem se tornar 'cômodos pessoais' em vez de

quartos de dormir". Mas o estado constante de "semiconexão"

pode gerar reações, porque "a ubiquidade das telas dentro da

casa pode criar a sensação de que é difícil se afastar delas". À

medida que as comunicações se aperfeiçoem, a possibilidade

de trabalhar em casa produz incertezas quanto à distinção

entre o trabalho e o descanso.


Para cada tendência, uma contratendência. "As pessoas

reagem às mudanças cada uma à sua maneira", observa

Rebeca. "Por exemplo, hoje existem grupos que praticam o

'nadismo': as pessoas se reúnem para não fazer absolutamente

nada durante um dia inteiro." No estudo, prevê-se que a

distribuição dos cômodos nas casas obedecerá a finalidades

diferentes, na dicotomia entre conexão e desconexão: "Certas

famílias poderão estabelecer salas aonde a tecnologia não

chegue".


Fundindo a demografia com a tecnologia, surge a questão:

quem serão os habitantes desses lares? Se as vidas serão mais

longas, para pessoas com menos filhos ou sem filho nenhum, a

aparência das cidades terá de mudar. "Já é possível observar

uma transformação importante no fluxo de pessoas no mundo

desenvolvido", diz Randers. "As pessoas recuperam o interesse

pelas cidades, principalmente depois que as indústrias, com

sua poluição e tráfego pesado, foram embora."


O adensamento das regiões centrais é uma aposta de gestores

urbanos para as próximas décadas. O processo motivou o

economista americano Edward Glaeser, da Universidade

Harvard, a publicar um livro sobre o "triunfo da cidade" ("Os

Centros Urbanos: A Maior Invenção da Humanidade",

Campus, 2011). Como Glaeser, Sanyal considera que a era dos

subúrbios ficou para trás. "Uma população de pessoas idosas e jovens 

solteiros prefere áreas urbanas densas", diz. "Quando

as pessoas se juntam nessas áreas, a receita tributária e os

preços dos imóveis sobem, incentivando o investimento. Pela

mesma razão, os subúrbios distantes entrarão em declínio."


Exatamente por isso, a principal previsão para as cidades é a

busca de eficiência sistêmica. A pesquisa "Mudos Públicos" da

The Futures Company prevê que os sistemas sobrepostos que

compõem as cidades (eletricidade, metrô, rede de esgoto, gás

etc.) se integrem por meio de tecnologia digital. "É possível

coletar cada vez mais dados urbanos em tempo real", diz o

estudo, "o que nos permite alterar radicalmente a forma de

entender, projetar e viver nas cidades". A ubiquidade da

informação permitirá otimizar os deslocamentos, o uso de

energia e água, a comunicação e outros fatores fundamentais

da vida urbana.


Jorgen Randers aposta que esforços e inovações para tornar a

produção e o consumo mais limpos e sustentáveis retardarão o

aquecimento global. Mas os resultados virão tarde demais. Em

40 anos a média de temperatura do mundo estará 2° C acima

de níveis pré-industriais. Esse é o nível que a conferência da

ONU sobre o clima de Durban (2011) estimou como limite

entre o aquecimento suportável e a catástrofe. "O capitalismo

só age quando agir é mais lucrativo que se abster. Já as

negociações levam muito tempo e nunca chegam a um

resultado realmente satisfatório."


Talvez um grande desastre, ecológico ou social, pudesse

reverter a perigosa tendência. Mas Randers se mantém cético.

"Quando o furacão Katrina atingiu os EUA, imaginei que

finalmente os americanos mudariam sua postura sobre a

mudança climática. Nada aconteceu." No Japão, o acidente

nuclear que se seguiu ao tsunami do ano passado desencadeou

um processo de fechamento de usinas nucleares na Ásia e na

Europa. "O Japão é um bom indicador para prever o futuro",

afirma o climatólogo. "A população começou a decrescer e a

economia com ela, mas a renda per capita não diminuiu. Ao

contrário, cada japonês, hoje, é mais rico do que nunca,

embora os economistas só consigam ver a estagnação

econômica."


O caso japonês é evocado na tentativa de responder à

pergunta: se a população não cresce, a economia deve crescer?

Economistas e ecologistas preocupados com a degradação

ambiental propõem políticas econômicas voltadas para a

manutenção de uma economia de tamanho constante (o

estado estacionário) ou cujo tamanho diminua em paralelo

com a população, a partir das ideias do economista americano

Herman Daly, entre outros.


Um alvo de Daly é o termo "crescimento sustentável". Para ele,

esse é um "mau oximoro". Ele afirma que o crescimento

econômico necessariamente incorpora uma proporção

crescente do ecossistema, então é preciso repensar o

desenvolvimento econômico para que seja um

desenvolvimento sem crescimento. "Desenvolvimento

sustentável é a adaptação cultural da sociedade quando ela se

torna consciente da necessidade do crescimento nulo."

Randers não usa o conceito de estado estacionário, mas

calcula que o crescimento econômico vai diminuir. Os motivos

são dois: o aumento não intencional na taxa de investimento e

a dificuldade para expandir a produtividade do trabalho.


A taxa de investimento vai sofrer uma expansão, segundo o

norueguês, simplesmente para consertar os prejuízos causados

por catástrofes naturais cada vez mais frequentes: inundações,

furacões, secas, nevascas. "Cada vez mais estradas e ferrovias

vão ser carregadas por temporais e teremos de reconstruí-las.

Vai faltar água em algumas regiões e vai ser preciso implantar,

por exemplo, usinas de dessalinização. Eis o século XXI",

aponta.


Já a produtividade avança cada vez mais devagar porque,

segundo o climatólogo, a introdução de tecnologias não

promove um crescimento tão extraordinário da produtividade

da mão de obra quanto a transferência de trabalhadores da

agricultura para a indústria e desta para os serviços. "Nesse

estágio, começa a ser liberada renda para que as pessoas se

dediquem a serviços sociais, artes, entretenimento e assim por

diante. A produtividade começa a estagnar", nota Randers.

Grande parte dos ganhos de produtividade no século XXI

ocorre no mundo em desenvolvimento, mas o processo tem

seu limite: Randers prevê ganhos acima de 2% até 2020, mas

só 0,77% em 2050.


Ao terminar a leitura, você se põe a especular 

se era mais feliz em 2012 ou se está mais feliz em 2052. Mas não 

chega a uma conclusão. A indecisão ecoa uma declaração de Jorgen

Randers: "As pessoas se adaptam facilmente a seu mundo,

seja o arranha-céu, seja a fazenda de gado. Se as pessoas vão

ser felizes em 2052? Provavelmente tão felizes e infelizes

quantos são agora".



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