"A gênesis das
estradas-de-ferro no Brasil é quase a mesma que as das americanas: a anta
rompia trilhos dentro do mato, o índio, em seu encalço, abria a picada; o
português, com seus cargueiros, alargava-a; de raro em raro um carro de boi
seguia o colono e abria, com suas rodas cortantes, colossais, dois sucos
paralelos a que chamavam de caminho; mais tarde o progresso estendeu as suas
fitas de aço ao longo dos principais caminhos, e, finalmente no século XX, o
automóvel fez surgir algumas estradas dignas desse nome" - em Roy Nash, A
Conquista do Brasil, 1939.
Tal modelo foi pensado para o
Brasil pelo Barão de Mauá para transporte das riquezas do País, de seu
interior até os portos. Foi assim que, em 1854, inaugurou a primeira estrada de
ferro brasileira.
A segunda linha férrea instalada
no Brasil, foi entre o Forte das Cindo Pontas, no Recife, e a Vila do Cabo, com
31,5 km de extensão, inaugurada em 1858. A sua construção demorou menos de 3 anos, mesmo tendo
sido interrompida por uma epidemia de cólera que chegou a matar cerca
de 38.000 pernambucanos.
Na mesma época foram criadas duas empresas: a Brazilian Street Railway Limited e a Great Western. Ambas as empresas foram constituídas a partir do regime estabelecido pela Lei n. 641 de 26 de junho de 1852, inspirada no desejo de atrair os capitais britânicos. Anteriormente, o padre Diogo Antonio Feijó, procurando consolidar o Império, promoveu a votação da Lei 101 de 31 de outubro de 1835, que autorizou o governo a conceder, a uma ou mais companhias, carta de privilégio exclusivo para a construção e uso de estradas de ferro. SMJ, este foi o marco inicial para o estabelecimento de parcerias público privadas no Brasil.
Como consequência, o projeto de uma rede ferroviária tornou-se realidade, foi plenamente executado com muito sucesso, ligando o Rio de Janeiro às capitais do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais e da Bahia, com extensão total de 5.500 km. A primeira com atuação nas regiões sul-sudeste e a segunda para ligar os estados do nordeste. Contudo, mais adiante, em 1902, segundo o Correio da Manhã, o Brasil já era tachado por empresários ingleses do setor ferroviário como "o país mais corrupto do mundo". Mesmo assim, c hegamos aos anos 1930-1940 com boa parte do território brasileiro ligado por trilhos.
Com a chegada da II guerra
mundial, todas elas começaram a passar por graves problemas de manutenção, trilhos,
vagões e locomotivas, já que o esforço da industria na Europa e nos EUA era para
suprir as necessidades das tropas.
Posteriormente essas empresas foram estatizadas
e passaram a compor a RFFSA. No pós-guerra, e mais enfaticamente a partir do
governo JK, forçado pela indústria automobilística, os trilhos foram esquecidos
e o esforço se voltou para as estradas de rodagem.
Veio o plano de construção das
BR's, fortalecido pelos governos militares. A maior parte dessas ferrovias
virou sucata. Os planos para recuperá-las, expansão e construção de novas
ferrovias, não saíram do papel. Talvez seu exemplo mais marcante tenha sido a
da construção da "Ferrovia do Aço".
Os governos posteriores seguiram o mesmo enredo. Há quase três décadas, a construção da ferrovia
Norte-Sul ainda está incompleta, mas escândalos surgiram logo na fase
de licitação, em 1987, e a obra se converteu em símbolo de corrupção,
incompetência e desfaçatez do governo federal.
Neste momento, em outra
"viagem" similar, ainda não se conseguiu nem começar direito as
obras essenciais de ferrovias que ligariam a Norte-Sul a Goiás e ao litoral da
Bahia.
Mais recentemente, a presidente
Dilma Rousseff passou a ampliar esse enredo ao "viajar" na
ideia do trem-bala, aquele que estaria pronto para ligar São Paulo ao Rio já na
Copa de 2014.
No mesmo embalo, a presidente
surgiu com a história do trem do Peru, que ligaria o centro do Brasil ao
Pacífico passando em parte pela Amazônia e pelos Andes, "corredor da
exportação agropecuário" por onde nem os agropecuaristas querem correr.
Hoje temos, em quilometragem,
praticamente a mesma extensão do final da década de 40. Em termos qualitativos, atualmente o Brasil ocupa a 95a. posição mundial. Um preço altíssimo
estamos pagando por se ter feito a opção rodoviária.
O Brasil, portanto, chegou a 2016,
não com "trens bão", mas com uma extensa rede de "trens da
alegria", como a revelada por Nestor Cerveró, em delação
premiada.
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