Neste domingo (18/01/2021) a ANVISA apresentou, em tempo real, resultados e recomendações para duas vacinas contra a COVID-19, a Coronovac e a Covishield, visando a concessão das respectivas autorizações para Uso Emergencial, solicitadas por seus fabricantes, tendo como objetivo a vacinação de parcela da população brasileira.
Os resultados a seguir apresentados sumarizam a apresentação realizada pela Gerência-Geral de Medicamentos e Produtos Biológicos para a Covishield, disponível, em sua íntegra, aqui. Em post anterior foi publicado, de igual forma, um resumo para a vacina Coronavac.
Boa leitura.
Cenário Regulatório Internacional
Autorização semelhante à solicitada nesta petição – de uso emergencial – foi concedida pelos Órgãos Regulatórios do Reino Unido, da Argentina e da Índia.
Público Alvo
Uso exclusivo do PNI, concentrando-se, em razão do limitado número de doses, nos integrantes dos grupos prioritários, conforme classificação descrita no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19.
Desenvolvimento da Vacina
- A plataforma ChAdOx1 foi ou está sendo usada em estudos clínicos com antígenos de vários patógenos, como gripe, tuberculose, malária, chikungunya, Zika, MERS-CoV e meningococo capsular do grupo B. Os vetores ChAdOx1 induzem respostas imunes humoral e mediadas por células;
- A vacina ChAdOx1 nCoV-19 consiste no vetor de adenovírus símio deficiente para replicação ChAdOx1, contendo DNA que codifica o antígeno da glicoproteína de superfície estrutural (proteína Spike) do SARS-CoV-2 (nCoV-19).
Controle de Qualidade
- A totalidade dos ensaios foram desenvolvidos internamente;
- A validação dos métodos analíticos foi realizada pelo INCQS;
- A quantidade de lotes analisados até o momento é reduzida. A princípio, os dados obtidos variaram dentro da variabilidade do método, mas algumas especificações, principalmente as relacionadas as impurezas, deveriam ser revisadas, considerando as especificações da USP e Ph. Eur.
Estabilidade do Produto Terminado
- O estudo de longa duração está em andamento. Para definição do prazo de validade, dados dos próximos tempos ainda são necessários. Contudo, para o uso emergencial sugere-se um prazo de validade provisório de 6 meses, considerando os dados de estabilidade disponíveis da vacina da AZ (6 meses).
- O produto demonstrou ser estável na temperatura de 25oC±2oC por apenas1mês.
- A vacina pode se rutilizada por até 6horas a 2-8oC, após aberta.
Estudos Não-Clínicos realizados
- Até o momento, estudos de imunologia e atividade biológica (incluindo vacinação de reforço inicial) de AZD1222 foram realizados em camundongos, primatas não humanos, furões e porcos.
- Os estudos de toxicidade de dose repetida que embasaram os estudos clínicos basearam-se naqueles realizados com a mesma plataforma, mas, para vacinas diferentes.
- Estudos de toxicidade de dose repetida e de reprodutividade com a AZD1222 estão em andamento.
Estudo Clínico / Desenvolvimento Clínico
Eficácia, segurança e imunogenicidade: dados clínicos provenientes de uma análise integrada de 4 estudos do programa de desenvolvimento clínico;
4 Estudos:
- Randomizados, controlados e cegos
- Estudos estão em andamento
- 3 países envolvidos: COV001 (Fase I/II; Reino Unido), COV002 (Fase II/III; Reino
Unido), COV003 (Fase III; Brasil) e COV005 (Fase I/II; África do Sul) - Desenhos permitiram o agrupamento das análises.
Dados Demográficos e Características de Linha de Base
No conjunto de análise de eficácia SDSD + LDSD (dose padrão (SD); dose baixa (LD)) soronegativos, aproximadamente:
- 6%dosparticipantestinham≥65anosdeidadeeamédiadeidadeerade aproximadamente 42 anos;
- 61%dosparticipanteserammulheres;
- 83%dosparticipanteserambrancos,4%eramnegros,5%eramoutros,4%
eram asiáticos; - 36% dos participantes tinham uma comorbidade no início do estudo.
Objetivos Primários do Estudo
- Avaliar a eficácia da vacina ChAdOx1 nCoV-19 contra a doença COVID-19 confirmada com PCR.
- Medida de desfecho: Casos sintomáticos confirmados virologicamente (PCR positivos) de COVID-19.
Objetivo Secundário do Estudo
Objetivo: Avaliar o perfil de segurança, tolerabilidade e reatogenicidade da vacina candidata ChAdOx1 nCoV-19.
Medida de desfecho:
a) Ocorrência de sinais e sintomas de reatogenicidade local e sistêmica durante 7 dias após a vacinação (em um subconjunto de 200 participantes*);
b) Ocorrência de eventos adversos sérios;
c) Ocorrência de episódios; intensificados da doença.
Resultado Primário de Eficácia
- Eficácia total (conforme desfecho primário): 70,42% (54,84%, 80,63%)*
- A análise de eficácia primária foi baseada no SDSD Soronegativo + LDSD Soronegativo para o conjunto de análise Eficácia (ou seja, participantes randomizados que receberam LDSD ou SDSD, foram soronegativos e tinham dados de seguimento ≥ 15 dias após a segunda dose).
Resultados Exploratórios de Eficácia
Análise Exploratória de Doses e Intervalo
- Os estudos da análise agrupada não foram projetados para investigar o nível de dose e regime;
- No entanto, a determinação discrepante da concentração do produto entre os primeiros métodos analíticos usados levaram ao fato de que alguns participantes receberam uma dose mais baixa do que o planejado;
- Além disso, atrasos na segunda dose associados à indisponibilidade do produto levou ao fato de que os participantes receberam a segunda dose em vários intervalos de tempo.
Efeito do nível de dose na Eficácia
- A estimativa de eficácia contra COVID-19 foi maior no grupo com dose primária menor, LDSD, do que no grupo com dose primária padrão, SDSD: 90,05% (IC 95,84%: 65,84%, 97,10%) em comparação com 62,10% (IC 95,84%: 39,96%, 76,08%).
- Os títulos médios geométricos do grupo LDSD foram maiores após duas doses em comparação com o grupo SDSD nos ensaios (Spike, RBD, pseudoneutralização, nAb in vivo). Este achado é consistente com o nível mais alto de eficácia observado neste grupo.
Efeito do nível de dose na Eficácia
- Porém,comparandoosgruposSDSDeLDSDcomomesmointervaloentre as doses, a resposta imune após a segunda dose foi semelhante.
- OsníveismaiselevadosdeimunogenicidadegeradosnogrupoLDSDforam influenciados mais por intervalo do que por nível de dose
Efeito do intervalo de dose na eficácia
- Para o grupo SDSD,após respostas imunes iniciais semelhantes à primeira dose, há uma tendência clara de que intervalos de dose mais longos estão associados a respostas mais altas induzidas pela segunda dose.
Efeito do nível de dose na Eficácia
Eficácia contra internação hospitalar COVID-19 e COVID-19 grave
Segurança
Eventos Adversos (EAs) solicitados
- Maioria dos EAs solicitados: gravidade leve a moderada;
- Reatogenicidade: foi maior no dia 1, foi menor em participantes com intervalo de dosagem <6 semanas, mas nenhuma preocupação foi identificada com base nas diferenças de intervalos de dosagem.
- Nos 28 dias após qualquer dose:
- 37,8% apresentaram no grupo vacinado
- 27,9% apresentaram no grupo controle
- Maioria dos EAs não solicitados: gravidade leve a moderada
- Incidência de Eas com gravidade > 3: 1,9% dos participantes que receberam vacinavs. 1,5% dos participantes do grupo controle.
Eventos Adversos Graves (EAGs)
- Menos de 1% dos participantes relataram um EAG:
- 0,7% apresentaram no grupo vacinado
- 0,8% apresentaram no grupo controle
- Os EAGs com maior frequência foram:
- infecções e infestações (0,1% no grupo vacinado e 0,2% no controle)
- Lesões, envenenamento e complicações do procedimento (<0,1% no grupo vacinado
e 0,1% no controle) - Total de 6 EAGs com desfecho fatal (2 no grupo vacinado e 4 no controle), mas nenhum foi considerado relacionado à intervenção do investigador no estudo.
- Menos de 1% dos participantes relataram um EAG:
- 0,7% apresentaram no grupo vacinado
- 0,8% apresentaram no grupo controle
- Os EAGs com maior frequência foram:
- infecções e infestações (0,1% no grupo vacinado e 0,2% no controle)
- Lesões, envenenamento e complicações do procedimento (<0,1% no grupo vacinado
e 0,1% no controle) - Total de 6 EAGs com desfecho fatal (2 no grupo vacinado e 4 no controle), mas nenhum foi considerado relacionado à intervenção do investigador no estudo.
Eventos Adversos de Interesse Especial (EAIEs)
- No geral, baixa incidência:
- 0,8% apresentaram no grupo vacinado
- 1,1% apresentaram no grupo controle
- Incluíram eventos neurológicos, vasculares, hematológicos e imunológicos.
- Dentro das categorias de eventos neurológicos e potenciais condições neurológicas imunomediadas, os mais frequentemente relatados foram parestesia, hipoestesia e fraqueza muscular (incidências numericamente menor nos vacinados que no controle).
- Não houve evidência de uma associação entre a vacina e eventos relacionados a possível doença agravada pela vacina.
Incertezas e Riscos
Banco de semente de vírus e banco de células
- O banco de semente de vírus mestre do Serum difere do banco de semente de vírus mestre da AstraZeneca;
- O que significa que os produtos gerados por estes 2 fabricantes têm, na verdade, origem direta diferente, e consequentemente podem constituir produtos diferentes, ainda que possuam características similares, como alegam os fabricantes.
Documentação da Qualidade Faltante
- Não foi apresentada validação do método de espectroscopia (UV) para determinação da concentração de partículas virais
- Apenas lotes fabricados pelo Serum Institute of India PvT. Ltd. foram considerados para o uso emergencial, contudo a empresa apresentou comparabilidade com outros fabricantes, para os quais pretende-se solicitar o registro em breve.
- Não foi apresentado um relatório comparativo para os controles de qualidade e controles em processo, nem para as etapas e parâmetros críticos do processo do produto terminado, adotados pela AZ e pela SIIPL.
- Não foram fornecidas informações dos lotes a serem utilizados durante o uso emergencial, incluindo comparabilidade analítica;
- Não foi esclarecido se os dados de estabilidade (parciais) apresentados dos lotes fabricados no Serum correspondem aos dos lotes de uso emergencial.
Eficácia e perfil de segurança em longo prazo
- Dados clínicos são provenientes de análises preliminares de estudos ainda em andamento;
- O seguimento médio dos participantes dos estudos foi de 105 dias após a dose 1 e 62 dias após a dose 2. Dados que demonstrem a duração da proteção conferida pela vacina e o perfil de segurança em longo prazo não estão disponíveis.
- Aempresadeclaraqueaproteçãoporumtempodeacompanhamentomaior será avaliada à medida que mais dados dos estudos em andamento se acumulam e que dados adicionais serão enviados à Anvisa quando disponíveis.
Eficácia relacionada ao intervalo de dose
- Uma maior eficácia da vacina foi associada aos maiores intervalos entre as doses avaliados, isto é, com 8 e 12 semanas de intervalos entre as doses.
- Os dados sobre intervalos de doses menores são limitados e dificultam a conclusão sobre a eficácia quando utilizado o intervalo entre doses menor que 8 semanas.
- A empresa informa que mais dados em intervalos de 4 a 6 semanas serão submetidos com análises adicionais dos estudos em andamento.
Eficácia em População Idosa
- O número de adultos mais velhos (≥ 65 anos) com dados disponíveis era muito pequeno para determinar a eficácia da vacina nessa população.
- Neste subgrupo, as taxas de seroconversão para anticorpos de ligação e os títulos de anticorpos neutralizantes foram semelhantes aos de adultos jovens, mas seus títulos absolutos de ligação e de anticorpos neutralizante tendeu a ser menor.
Eficácia relacionada às doses mais baixas utilizadas como dose primária no esquema posológico de duas doses
- A estimativa de eficácia contra COVID-19 foi maior no grupo com dose primária menor, LDSD, do que no grupo com dose primária padrão, SDSD: 90,05% (IC 95,84%: 65,84%, 97,10%) em comparação com 62,10% (IC 95,84%: 39,96%, 76,08%).
- A utilização da dose menor como dose primária não estava prevista e foi decorrente de um desvio.
- Apesardaeficáciamaiordemonstradaparaoesquemaposológicocomdoseprimaria menor, fatores confundidores podem ter influenciado nesse resultado, como diferenças maiores entre intervalos de doses para o grupo LDSD, características da população e estágios da pandemia COVID-19 nos países dos estudos.
Eficácia relacionada a dose única
- Foram realizadas análises para determinar se alguma proteção foi induzida pela primeira dose. Os resultados obtidos indicaram que a primeira dose, no esquema de dose padrão SD, fornece imunidade protetora até a administração da segunda dose, para 12 semanas de intervalo entre as doses.
- Porém os dados referentes a essa eficácia são limitados quando se considera um período de intervalo de 22 dias após a dose 1 até a segunda dose. Apesar da demonstração de eficácia relacionada à dose única da vacina, dados de acompanhamento são mais limitados do que para duas doses. Não se pode estabelecer qual seria a duração da resposta após uma dose única além das 12 semanas avaliadas.
Eficácia para formas graves da doença COVID-19
- Existem dados limitados sobre a eficácia contra formas graves da doença, o que não permite conclusão estatisticamente significativa e definitiva.
- Os dados disponíveis são insuficientes para conclusão sobre a eficácia, porém é possível observar uma tendência favorável à proteção para as formas graves de COVID-19.
Populações de crianças, adolescente, gestantes e indivíduos imunossuprimidos
- Não foram demonstradas a eficácia ou segurança para essas populações visto que não foram incluídos na avaliação clín
Estudo de Imunogenicidade na Índia
- Embora a empresa alegue que a vacina COVISHIELD apresenta imunogenicidade comparável à vacina Oxford/AZ ChAdOx1 nCoV19, entende-se que ainda existem incertezas sobre a comparabilidade dos produtos;
- Não havia informações sobre a metodologia utilizada para avaliar os títulos de anticorpos;
- Não há um imunocorrelato de proteção para SARSCoV-2, portanto, níveis aparentemente semelhantes de anticorpos induzidos pelas vacinas podem não corresponder ao mesmo nível de proteção contra a doença.
Recomendação à Diretoria Colegiada
- Tendo em vista o cenário da pandemia;
- Aumento do número de casos;
- Ausência de alternativas terapêuticas;
- A Gerência-Geral de Medicamentos recomenda a aprovação do uso emergencial, condicionada ao monitoramento das incertezas e reavaliação periódica.
A vacina foi aprovada para uso emergencial no Reino Unido em 30 de dezembro. Segundo o Guardian, ela é usada “amplamente” no país em maiores de 70 anos.
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