25 setembro 2022

ARGENTINA É A VENEZUELA DE AMANHÃ

Antes do peronismo

No fim do século 19, a Argentina era o país mais rico do planeta. Em 1895, tinha o maior PIB do mundo, acima do de Estados Unidos e Bélgica. Reza a lenda que, entre o fim do século 19 e começo do século 20, a expressão “tão rico quanto um argentino” era comum e frequentemente utilizada por aristocratas britânicos que tentavam casar suas filhas com argentinos ricos.

Durante as três primeiras décadas do século 20, a Argentina ultrapassou o Canadá em renda total e per capita

Entre 1860 e 1930, o país enriqueceu acentuadamente, em decorrência, entre outras coisas, da exploração das férteis terras dos pampas. Os investimentos estrangeiros eram livres e diversificados, oriundos da França, da Alemanha, da Bélgica e, majoritariamente, da Grã-Bretanha. Indústrias e ferrovias foram construídas com capital estrangeiro. Os altos salários atraíram vários imigrantes, principalmente italianos, espanhóis, alemães e franceses. Em 1899, o país retornou ao padrão ouro e, durante 14 anos, cresceu a uma taxa anual de 7,7%.

Durante as três primeiras décadas do século 20, a Argentina ultrapassou o Canadá e a Austrália não somente em termos de população, mas também em renda total e per capita. Nesta época, a famosa loja de departamentos Harrods, de Londres, abriu uma filial em Buenos Aires — a única em todo o mundo.

A Argentina inaugurou o primeiro metrô de América Latina, em 1913 (55 anos antes que o de São Paulo). Um argentino era, em média, 29% mais rico que um francês, 14% mais rico que um alemão, três vezes mais rico que um japonês e cinco vezes mais rico que um brasileiro. Em 1946, a Argentina tinha o oitavo PIB per capita do mundo e o maior da América Latina. Era duas vezes mais alto que o do México. O mesmo acontecia quando comparado com países europeus, como Espanha e Portugal. A inflação era de 1,5% ao ano.

Juan Péron, ex-presidente argentino | Foto: Wikimedia Commons

Hoje

Depois de muitos anos de peronismo, ditaduras e, sobretudo, dos últimos anos do kirchnerismo, o país entrou em queda dramática. A pobreza chegou a 50% da população. Quase 70% das crianças menores de 13 anos são pobres e têm comprometido o desenvolvimento cognitivo. A projeção de inflação para 2022 supera 100%.

Simon Kuznets, prêmio Nobel em Economia, afirmou que existem quatro tipos de países no mundo — os desenvolvidos, os subdesenvolvidos, o Japão e a Argentina. Após a crise de 2001, em que Argentina teve cinco presidentes em apenas uma semana e decretou a moratória da dívida (novamente), a situação econômica se agravou e o equilíbrio entre os que produzem e os que se aproveitam dos que produzem ficou cada vez pior.

Em 2001, o país tinha 2,5 milhões de pessoas trabalhando para o Estado (nos Três Poderes e nas três esferas). Dois milhões de pessoas recebiam ajuda social, e o país tinha 6 milhões de trabalhadores com registro em carteira. Pouco mais de 20 anos depois, os números só pioraram: 4,5 milhões de pessoas trabalham para o Estado, 22 milhões recebem alguma ajuda social e apenas 5,8 milhões trabalham com registro em carteira.

A conta não fecha: o salário mínimo é de U$S 191 (AR$ 51.200, em setembro de 2022) e, para uma família não estar abaixo da linha de pobreza, ela precisa de pelo menos AR$ 100.000 (equivalente a U$S 374). Em outras palavras, é necessário ter dois salários mínimos (pelo menos) por família para não ser pobre.

Em função da ajuda social absurda e impossível de financiar — dependendo do programa, pode beneficiar uma família com mais de um salário mínimo —, o governo populista criou duas gerações de pessoas que não têm motivação nenhuma para a atividade econômica, já que ganham mais sem fazer nada.

Desvalorização do peso argentino | Foto: Shutterstock

Argentina é a Venezuela de amanhã!

Como política econômica comum, os governos de Cuba, da Venezuela e da Argentina defendem a ideia de que não é importante a busca do superavit fiscal, que o Estado tem de tirar de quem tem para dar a quem não tem, controle de câmbio, regulamentações e burocracias absurdas que a única coisa que geram são altíssimos índices de inflação, redução do investimento e perda do emprego privado.

Em função do controle de câmbios, existem nos três países um mercado oficial de câmbios (com valores impeditivos para a população comprar dólares, mas que os exportadores devem considerar para suas exportações) e um mercado paralelo, em que a economia deve rodar com todos os problemas que isso significa em termos de custos e baixas rentabilidades. Os três países têm controle de preços, desabastecimento e empresas estatais com perdas milionárias.

Fonte: Gustavo Segré - Revista Oeste

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