Não é bem assim que grande parte da população enxerga a China. Alckimin, a China não nos inspira. Talvez seja isto apenas para alguns brasileiros que hoje transitam pelos gabinetes do poder
Foto: Wang Zhao/EF |
O vice-presidente Geraldo Alckmin deu um afago na China nesta sexta (7/6/2024) durante uma visita ao presidente do país, Xi Jinping, em meio a uma missão oficial. Ele afirmou que o gigante asiático é inspirador para o Brasil.
Não é bem assim que grande parte da população mundial enxerga a China, uma das propulsoras e exportadoras do novo modelo de totalitarismo, conforme já se comentou aqui.
Para isso, uma das ferramentas, entre outras, utilizadas pela China, está descrita no livro "We have been harmonised: Life in China's surveillance state".
Nele, Kai Strittmater, mostra como a China refutou uma crença dogmática dos teóricos da Internet: que a Internet não podia ser controlada. Hoje, os próprios remanescente/criadores da Internet sabem e admitem que pode ser. Se o Estado quiser fechar um país ao resto do mundo, pode fazê-lo. Se quiser controlar a Internet dentro de suas próprias fronteiras, isso também é possível.
Kai descreve como nas novíssimas “Cidades Inteligentes” da China, os cidadãos dificilmente podem atravessar a rua ou comprar uma laranja sem que o Partido saiba, e publicar um comentário satírico online sobre as características do Ursinho Pooh do Presidente Xi pode levá-lo à prisão.
O livro é uma viagem a uma terra onde o "Grande Irmão" adquiriu todo um novo conjunto de "brinquedos" com os quais pode controlar e persuadir – “harmonizar” – as massas. É também um aviso contra a complacência ocidental. Pequim já está encontrando compradores ávidos para o seu “Sistema Operacional para Ditadores” – em países de todos os continentes e exercer seu papel econômico para controlar o discurso em todos eles.
Nesse sentido, literalmente, no livro consta esse trecho:
"Em um post do serviço de mensagens WeChat (Weixin) - rapidamente excluído - o sociólogo Sun Liping, da Universidade Tsinghua de Pequim, identificou três técnicas para o "controle da mente". Um técnica central é o controle das fontes de notícias [ ... ]. O sistema bloqueia com sucesso as informações de fora e as substitui por "educação patriótica ". [ ... ] Em segundo lugar, o sistema começa a construir os parâmetros para o seu pensamento quando você é muito jovem, mudando a maneira como você faz perguntas e direcionando você para canais predeterminados. A partir do momento em que você engoliu e internalizou o que o Partido lhe deu, diz Sun Liping, você não pode nem mesmo fazer certas perguntas: elas estão fora do seu domínio de experiência e poderes de imaginação. E em terceiro lugar, o sistema inspira o tipo de medo que suprime perguntas embaraçosas. "Se você nao engolir tudo isso, será punido".
Tal fato, e é apenas um exemplo, demonstra uma ferramenta importante - a Internet - usada para a implantação de ditaduras. O novo totalitarismo é muito mais sofisticado do que as versões implantadas por Mao e Stalin. Esse novo totalitarismo é um luxo - inimaginável no passado - de poder dispensar o terror como ferramenta cotidiana. Assim se insinua o novo regime, a principio silencioso e imperceptível, fazendo dos cidadãos seus cúmplices.
Kai também identifica que parte do presente tecnototalitário da China já está acontecendo também no Ocidente, pois com a colaboração e até interveniência dos Estados, grande parte da privacidade dos cidadãos está sendo sugada e/ou entregue ao Big Data, público e privado, de comum acordo e cooperação entre eles.
Na China seus habitantes já não podem fazer nada que desagrade ao Estado, a começar pelo liberdade de expressão. Usando poderes preditivos da IA, o estado chinês saberá que o cidadão pode estar prestes a fazer algo "errado" antes mesmo de perceber - e o estado intervirá para impedí-lo.
Seremos nós amanhã?
Alckimin, a China não nos inspira. Talvez seja isto apenas para alguns brasileiros que hoje transitam pelos gabinetes do poder.
Atualizado em 07/06/2024, 23h30, apenas erros de digitação e supressão de algumas palavras.
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