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Jornalista da RIA Novosti e ex-informante da PGU KGB que desertou para a Grécia, EUA e Canadá (1970-1972). |
As discussões, ora em curso, sob o titulo "Professor doutrinador", expõem um grave problema convivido no Brasil desde meados dos anos 1960 por frequentadores de universidades, colégios, editoras e redações.
O tema tem sido objeto de reflexões de muitos analistas e a emissão de opiniões como a do Yuri Bezmenov exposta na imagem ao lado.
No Brasil, tal doutrinação perverteu a produção artística e intelectual, abrindo as ideias marxistas a todos os setores da vida: das rodas de samba à Academia Brasileira de Letras, dos sindicatos às universidades, das associações de bairro ao Palácio do Planalto, dos terreiros de umbanda à CNBB - uma teia de controle ideológico que abarca a programação televisiva, as políticas editoriais, a escola de nossos filhos, a filosofia e a teologia, a produção literária e os comentaristas das rádios, da Web e dos jornais.
A doutrinação marxista
Tudo começou quando o italiano Antonio Gramsci percebeu que, dada a complexidade do desenvolvimento capitalista no mundo ocidental à sua época, o modelo marxista-leninista ortodoxo de tomada violenta do poder mediante um golpe de estado, seguida de uma "ditadura do proletariado" conduzida com mão de ferro por uma vanguarda revolucionária, como a adotada pelos bolcheviques liderados por Lenin, tornara-se inadequado e passando a exigir uma tática mais sofisticada e de longo prazo. A essa nova tática, Gramsci a denominou de revoluçãao passiva.
Em tal contexto, a revolução haveria de ser conduzida por meio de pequenas e quase imperceptíveis rupturas, que se acumulariam lenta e gradativamente. Esse paciente processo de penetração na sociedade civil Gramsci chamou de hegemonia. No vocabulário gramsciano, a hegemonia se distingue do controle. Este se refere ao domínio do aparelho de Estado; aquela, à direção intelectual e moral da sociedade civil, ou em outras palavras, um plano para implantar o comunismo por vias democráticas, tendo a democracia aí um valor meramente estratégico. A ideia era que, quando os partidos comunistas conseguissem, enfim, assumir o controle da sociedade política, já houvesse toda uma cultura pronta para recebê-los de maneira consensual.
O problema é que, para organizar uma cultura preexistente, era preciso primeiro desorganizá-la. Para isto, Gramsci propôs uma distinção entre duas categorias de intelectuais: os tradicionais e os orgânicos. Estes um produto direto de suas classes, atuando tão somente na defesa e promoção dos interesses e valores de sua respectiva classe. Nesse sentido, o conceito gramsciano de intelectual passou a incluir indivíduos de diversas profissões e atividades. Um ator, um cineasta, um publicitário, um jornalista, um comediante, um roqueiro, um rapper, um cantor de axé, um agitador profissional, uma top model, uma drag queen, um apresentador de programa de auditório, um padre progressiva ..., todos eles como sendo intelectuais orgânicos em potencial, conquanto trabalhem (sabendo ou não) em favor da hegemonia comunista.
Gramsci no Brasil
O ano de 1966 marca a primeira tradução brasileira dos escritos de Gramsci, através da "Civilização Brasileira" que foi a maior editora comunista do País, dirigida pelos militantes históricos Ênio Silveira e Edmar Morel.
Entre 1966 e 1968, as ideias de Gramsci repercutiram tão somente no interior de um restrito circulo de intelectuais e professores universitários de ciências sociais, sobretudo na USP. FHC (sempre ele), por exemplo, num artigo publicado na revista Les temps modernes, foi um dos primeiros intelectuais brasileiros a fazer menção ao conceito gramsciano de hegemonia.
Nessa mesma época, de modo geral, os partidos políticos de esquerda estavam muito presos ao modelo ortodoxo marxista-leninista, optando sistematicamente pela luta armada e o aparato conceitual de Gramsci - que eles não conheciam, é verdade, não parecia ser de grande serventia para os objetivos imediatos da luta política da esquerda nacional. No final do ano de 1968, a decretação do AI-5 acabou dificultando ainda mais a difusão da estratégia gramsciana para fora da academia.
Foi somente em meados da década de 1970 que as coisas começaram a mudar. Depois de aniquilada a luta armada, e com os primeiros sinais de um projeto de abertura política que fez surgir novos movimentos sociais e organizações da sociedade civil, o pensamento de Gramsci começa a ser reavaliado pela esquerda, transbordando da universidade para o campo político.
E, em 1976, o tradutor gramsciano Carlos Nelson Coutinho publicou um artigo sobre Gramsci em jornal de circulação nacional atingindo um publico mais amplo. Diante da própria academia, o interesse por Gramsci se intensificou e alcançou novas áreas. Só na década de 1990, aproximadamente um terço das dissertações ou teses no campo acadêmico-educacional citava o Gramsci.
Findo o AI-5, nascia no ano seguinte o PT e graças a um longo processo de guerra de posição, ele veio a se tornar a encarnação do que previa Gramsci sobre o aparelhamento do petista do Estado - que transformou os poderes Legislativo e Judiciário, além de dezenas de entidades e organizações da sociedade civil (UNE, OAB, CNBB, entre outras) em meros órgãos do partido.
Assim, partindo inicialmente de acadêmicos que abusavam de sua autoridade intelectual para dar ares de ciência ao que era puro ativismo político ideológico, logo passou a ser assumida por jornalistas e artistas, transformados, ato contínuo, em intelectuais orgânicos do partido.
E hoje como está ?
Sem demora, veja neste vídeo, o que Vitor Brown, jornalista da Jovem Pan, acaba de declarar, neste momento, no Oeste Cast da revista Oeste.