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26 junho 2018

NÃO TEMOS ESTADISTAS PARA NELES VOTARMOS

As consequências da não renovação da vida partidária do País e de seu sistema político se tornou mais visível durante a realização do segundo turno da eleição para governador em Tocantins.

A ele não compareceram 52% dos eleitores, repetindo o resultado do primeiro turno quando 43,5% se negaram a escolher um candidato.

Um dos motivos dessa ausência foi a presença, como candidatos, de velhas figuras carimbadas da política. O eleitor cansou de ser obrigado a votar em candidatos impostos por siglas políticas de um sistema há muito tempo ultrapassado.

O nível de confiança do eleitor nos partidos políticos caiu para um dos menores da história, segundo a última pesquisa do INCT/IDDC, realizada entre 15-23 de março deste ano, em 26 estados do País, onde oito em cada dez brasileiros afirmam não ter nenhuma confiança nessas instituições. Os principais motivos citados são a existência de corrupção nos partidos e a falta de capacidade de representar os interesses dos eleitores.

Para piorar, caem em escala global os índices de apoio à democracia. Na pesquisa Latinobarômetro de 2010, em 18 países, 61% dos latino-americanos disseram acreditar que a democracia é a melhor forma de governo existente. Em outubro de 2017, esse número caiu para 53%. México, com 38%, e Brasil com 43%, apresentaram os menores percentuais de apoio à democracia.

Estamos bem próximos das eleições, e bem ao contrário do desejado pelos eleitores, o que se constata diariamente, até o presente, entre os já anunciados candidatos em todos os estados da federação, é que as mazelas como demagogia, corrupção, fisiologismo, patrimonialismo permanecem presentes.

As velhas figuras carimbadas continuam dominando o processo político-eleitoral. Nesse espectro encontramos velhas caras manjadas tanto pelo cidadão quanto pela justiça, herdeiros dessa gente por descendência de sanguinidade, além de prepostos fantoches.

Não temos estadistas para neles votarmos.

O grande desafio para o Brasil está posto. Ou abandonamos a velha política, ou as mazelas que atormentam a vida do cidadão e o nosso subdesenvolvimento continuarão existindo.

Soluções existem. Entre elas, o fim do voto obrigatório. Tal anacronismo está presente em apenas 10% das nações, a maioria na América Latina. O voto facultativo é adotado praticamente em 100% dos países democráticos. No Brasil, em pesquisa realizada em junho de 2015, 66% dos eleitores reprovam que o voto seja obrigatório. O voto facultativo amplia o diálogo entre eleitor e candidato pois este tem que convencer aquele a ir votar.

Na mesma direção, a recente pesquisa realizada pela Pew Research Center em 38 países, nos mostra que o apoio à democracia sobe quando ela é associada a medidas que ampliam a possibilidade de participação cidadã no processo político, como o direito de a população ser ouvida em plebiscito sobre as principais questões que lhe afetam e com uma maior transparência das ações dos governantes.

03 junho 2018

PETROBRAS: EXCELÊNCIA CORPORATIVA SACRIFICADA

A semana que se encerrou deixou registros nos livros que dizem respeito à governança de nosso País. Todos eles, incluindo as soluções apresentadas para os problemas surgidos, não merecem aplausos da população. Estamos nos referindo a paralisação dos caminhoneiros e a mudança de comando da Petrobras.

Ambos extremamente interligados e decorrentes dos últimos governos que ocuparam o Palácio do Planalto. A politicagem falou mais alto do que uma boa gestão. 

Em sua coluna na Folha, de 30/03/2014, Jânio de Freitas advertia: "Não levar a sério a Petrobras, e tudo que lhe diga respeito, é ser irresponsável com o país. O que adverte para a utilização política que dela façam os oposicionistas". E governistas acrescento eu. 

Para corroborar isso, na mesma edição, Elio Gaspari alertou "Se o governo quer evitar surpresas, deve dar uma olhada nos negócios que copatrocina juntando grandes empreiteiras, bancos oficiais e cleptocratas africanos. Nunca é demais lembrar que Isabel dos Santos, filha do presidente de Angola, é a mulher mais rica d'Africa, com uma poupança estimada em US$ 4,1 bilhões".

Em setembro de 2015, a presidente Dilma viajou aos EUA. O que a presidente tinha para dizer sobre a Petrobras? Considerando os dados de seu último balanço à época, o endividamento da empresa atingia um valor próximo dos R$ 500 bi no final do 3o. trimestre, ou seja, um adicional de R$100 bi em relação ao trimestre anterior. Para completar, em 5 anos, a empresa tinha perdido 69% de seu valor. 

Em maio de 2018, um dia antes da crise atual, bem diferente dos resultados acima, após uma gestão, sem interferência política,  nos últimos 2 anos, a Petrobras voltou a ser a maior empresa brasileira em valor, depois que o preço de sua ação saltou de R$ 8,04, em 31/05/2016 para R$ 27,39.

Entretanto, nenhum dos governos, nem o da Dilma e nem o do Temer, prestou a devida atenção aos alertas dos colunistas. Deu no que deu. O País viveu em caos durante mais de uma semana e passará a conviver com suas sequelas, a partir da semana que ora se inicia. 

Preferiu-se sacrificar a excelência corporativa praticada na Petrobras nos dois últimos anos de uma gestão sem politicagem, e que a tirou do fundo poço, para aliviar a pressão do povo sobre os ocupantes do Palácio do Planalto, o que nos faz lembrar de um possível regime parlamentarista que já deveria estar em pleno funcionamento como sistema político do Brasil.

Para o País e para a sua população, sobrou um mundo de incertezas, ainda mais quando acrescido dos resultados absolutamente imprevisíveis das próximas eleições.