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31 outubro 2021

CONCLUSÕES DA CPI DA CPI

A Controladoria de Pilantras e Impostores resume verdades que Renan e seus parceiros tentam esconder

Augusto Nunes - 29 OUT 2021

Revista Oeste - Edição 84

No mesmo dia em que foram escalados titulares e suplentes da Comissão Parlamentar de Inquérito instaurada no Senado para investigar delinquências ocorridas durante a pandemia de covid-19, a direção de Oeste entendeu que aquilo merecia atenções especiais. A lista de convocados parecia chamada oral em pátio de cadeia. A surpresa virou espanto com a escolha do relator: Renan Calheiros, um notório prontuário ainda em liberdade. Sim, no faroeste à brasileira produzido pela Era PT é o vilão que persegue o xerife. Mas incumbir Renan de investigar patifarias é algo como instalar Marcola, o chefão do PCC, no Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Uma CPI desse calibre exigiu a montagem na redação desta revista de uma Controladoria de Pilantras e Impostores, formada por jornalistas que nunca tratam a verdade a socos e pontapés. Assim nasceu a CPI da CPI. A orientação repassada aos investigadores limitou-se a dois lembretes: 1) ver as coisas como as coisas são; 2) contar o caso como o caso foi. Honrado com o cargo de relator, tive a missão facilitada pelo esforço dos engajados na força-tarefa e, sobretudo, por constatações feitas por J.R. Guzzo e Silvio Navarro. O resumo das conclusões traduz o bom trabalho da CPI da CPI. Aos fatos.

A origem

Os inimigos de Jair Bolsonaro jamais aceitaram o resultado das eleições de 2018. Assim que a apuração dos votos terminou, os devotos do derrotado tentaram impedir a posse do vitorioso, com o pretexto de que teria feito mau uso das redes sociais durante a campanha. De lá para cá, o governo federal não conheceu um só minuto de sossego. Mesmo nos fins de semana, feriados e dias santos, continua a luta da tropa formada pela esquerda parlamentar, por políticos que só têm compromissos com os próprios interesses, por figurões do Judiciário que enxergam um imperador quando contemplam o espelho e por uma imprensa que vê na derrubada do presidente da República a razão de sua existência. Os conspiradores fazem o diabo para impedir que o governo funcione. A mais recente ofensiva ficou por conta da CPI instaurada pelo Senado, por ordem do Supremo Tribunal Federal, para provar que o vírus chinês, no Brasil, não matou ninguém. Os mais de 600 mil mortos foram vítimas do genocídio praticado por Jair Bolsonaro.

O G7

Os partidos que deveriam defender o governo conseguiram quatro vagas no time titular. Apenas Marcos Rogério, de Rondônia, soube enfrentar com competência a ferocidade dos sete oposicionistas, escolhidos entre o que há de pior no Senado. Já na sessão inaugural, o relator Renan Calheiros, de Alagoas, o presidente Omar Aziz, do Amazonas, e seu vice Randolfe Rodrigues, do Amapá, deixaram claro que o parecer estava pronto e as conclusões estavam concluídas. Mas ficariam seis meses em campo para que a torcida brasileira conhecesse melhor os integrantes do que ficaria conhecido como G7. Má ideia. Quem ainda ignorava o caso ficou sabendo que Aziz foi anexado à fila de investigados no Supremo Tribunal Federal por ter tripulado um desvio de verbas destinadas à saúde que somaram R$ 260 milhões. Envolvidos no mesmo caso de polícia, foram presos a mulher e dois irmãos do agora conselheiro. Em julho, Arthur Virgílio Neto afirmou que Aziz só escapou de uma CPI da Pedofilia instaurada pela Assembleia Legislativa graças à interferência do ex-senador e ex-prefeito de Manaus. “A pedido de sua mãe, respeitável e querida senhora, livrei-o de uma dura condenação penal e da desmoralização completa”, contou Virgílio.

Omar Aziz | Foto: Edilson Salgueiro/Agência Brasil

O Brasil que pensa e presta foi apresentado aos chiliques e faniquitos de Randolfe, uma voz de castrato à procura de ministros do STF interessados em aumentar a confusão. A plateia entendeu também que as semelhanças entre o relator e o presidente não apareceram agora. Faz tempo que os dois são casos de polícia. Ganharam notoriedade ou voltaram ao palco outros integrantes do G7. (Nada a ver com o grupo das equipes que lideram o campeonato brasileiro de futebol. Esse G é de Gangue, com maiúscula.) O senador Otto Alencar, da Bahia, é médico formado, mas não veste um jaleco há muitas décadas. Para mostrar que ainda lembra que o antibiótico chegou depois da sulfa, resolveu animar o auditório com pegadinhas. Por pouco não perguntou a alguma Vossa Senhoria se sabia a diferença entre um vírus e um ovário. O senador Humberto Costa, de Pernambuco, mostrou-se tão preparado para socorrer algum doente quanto Otto Alencar. Mas meio mundo lembrou que o mais aflitivo soprano do PT foi aquele ministro da Saúde que se meteu no escândalo dos sanguessugas e acabou ganhando do Departamento de Propinas da Odebrecht o codinome Drácula.


Randolfe Rodrigues | Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado

O covidão

O G do G7 foi escancarado já na largada pela demarcação das fronteiras do território a ser devassado pela CPI. Na linha de tiro estavam Bolsonaro e todos os que se moveram desde março de 2020 nas cercanias do presidente da República. Ficaram fora os 27 governadores e mais de 5.500 prefeitos do Brasil. O alto comando da CPI fez de conta que estava na China, combatendo o inimigo no berço, quando o Supremo Tribunal Federal resolveu que caberia aos administradores estaduais e municipais a montagem e a execução da estratégia para a guerra contra a pandemia. Cuidariam da missão como bem entendessem e com plena autonomia. Nenhuma decisão tomada por governadores e prefeitos poderia ser modificada, muito menos vetada, pelo governo federal.

Humberto Costa | Foto: Edilson Rodrigues/Agência Brasil

Cabia ao Planalto arranjar a verba e pagar auxílios de emergência a quem perdeu emprego e renda por causa da repressão ao trabalho, à produção e à atividade econômica imposta pelas “autoridades locais”. Previsivelmente, juntaram-se aos estragos feitos pelo coronavírus surtos de incompetência, desperdício de bilhões de reais e uma ladroagem explícita de dimensões amazônicas. A decretação do estado de calamidade pública é uma gazua que, graças à dispensa de licitações e concorrências públicas, permite queimar e embolsar dinheiro até com a polícia por perto. As “autoridades locais” receberam ao longo do último ano, em verbas federais, cerca de R$ 60 bilhões para cuidar da epidemia. Cuidaram do que acharam mais urgente. Aumentar o patrimônio da família, por exemplo.

Entre março de 2020 e julho de 2021, registraram-se bandalheiras bilionárias em todos os Estados. Provas robustas acumulam-se nos porões de centenas de prefeituras. Ainda assim, a CPI pilotada por sete senadores que viravam oito, nove ou dez quando se tornava necessária a solidariedade de suplentes negou-se a enxergar a portentosa onda de saques. Wilson Witzel conseguiu a proeza de ser despejado do governo do Rio antes de chegar à metade do governo. Pousou na CPI como “convidado”, berrou um falatório de inocente injustiçado, combinou com os anfitriões uma “sessão secreta” e foi dispensado de explicações sobre o caso dos hospitais de campanha que foram pagos sem terem existido. Intimados por uma CPI de verdade, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, talvez reencontre na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte seu “irmão de alma” Carlos Gabas, que por decisão do Consórcio Nordeste chefiou o combate à pandemia e o ataque às verbas federais. Fraternalmente, foram poupados pelos detetives de picadeiro que até o começo desta semana agiram em Brasília. Será mais difícil driblar a CPI potiguar, que sabe como tratar fabricantes de álibis mambembes.

O relator

Em 2007, ao tropeçar em outra pilha de patifarias, Renan Calheiros era presidente do Senado. Encorajado pelo acervo de dossiês que coleciona e, segundo a lenda, guardam um colosso de deslizes protagonizados por dezenas de políticos, propôs um acordo aos colegas: toparia renunciar se o mandato não fosse cassado. Escapou por pouco da aposentadoria precoce, atestam trechos de um bate-boca com o cearense Tasso Jereissati ocorrido quando a degola ainda lhe ameaçava o pescoço:

— Renan, não aponte esse dedo sujo pra cima de mim! Estou cansado de suas ameaças.
— Esse dedo sujo infelizmente é o de Vossa Excelência. São os dedos dos jatinhos que o Senado pagou.
— Cangaceiro, cangaceiro de terceira categoria!
— Seu merda… — rebateu Renan.

Renan Calheiros | Foto: Jefferson Rudy/Senado Federal do Brasil

Nesta semana, lá estava a assinatura de Tasso, representante do PSDB na CPI, endossando o palavrório que ergue um monumento à pilantragem e à impostura. O senador cearense não pode ter esquecido o que Renan fez antes daquele duelo verbal em 2007 — nem ignora o que andou fazendo nos últimos 15 anos. Mas também Tasso parece achar que o Grande Satã a exorcizar é Jair Bolsonaro, e que essa tarefa patriótica justifica as mais repulsivas tessituras. Alianças do gênero exigem prodigiosas acrobacias. Deve-se esquecer, por exemplo, que a CPI passou ao largo dos governadores larápios para evitar que a relação de depoentes incluísse Renan Filho, candidato ao Senado, ou Helder Barbalho (filho do suplente Jader Barbalho), em busca de um segundo mandato no Pará.

Tentativas de intimidação mais de uma vez provocaram, em vez de temor, gargalhadas nacionais

Dez inquéritos em tramitação no Supremo Tribunal Federal atestam que Renan ainda é o recordista na modalidade bandidagem com direito a foro privilegiado. Outros três correm em sigilo ou sob segredo de Justiça. A marca seria ainda mais impressionante se o reincidente compulsivo não tivesse conseguido arquivar dez inquéritos por falta de provas, por decurso de prazo ou por amizade incestuosa entre réu e juiz. “É falso que sejam 17 os inquéritos em tramitação no Supremo Tribunal Federal que envolvem Renan Calheiros. São nove”, comunicou há poucos meses uma agência de checagem. A subserviência da imprensa velha e suas agências natimortas induziu Renan a dar um passo bem maior do que a perna. O relator pediu a quebra do sigilo bancário da rádio Jovem Pan, de uma produtora de documentários e de alguns sites conservadores, sob a acusação de que disseminavam fake news sobre a pandemia. Causou estranheza a abrangência da devassa nas contas: Renan queria que fosse examinada a movimentação financeira a partir de 2018, quando ninguém podia prever a aparição do vírus chinês. A reação dos próprios aliados aconselhou-o a transferir para Drácula a ideia de jerico e a conformar-se com os agrados do jornalismo euforicamente submisso.

Tentativas de intimidação mais de uma vez provocaram, em vez de temor, gargalhadas nacionais. Foi assim ao comparar o Brasil de Bolsonaro à Alemanha de Hitler. Ao dissertar sobre Hermann Goering, divertiu a plateia ao pronunciar em cangacês castiço o nome do temido nazista: “Góringue”. Durante o depoimento do empresário Luciano Hang, resolveu emparedar o depoente com a interpelação fulminante: perguntou-lhe se também lidava com “creptomoeda” e “biticóio”. Hang replicou com o jab na testa: “Nem sei o que é isso”. Mas nenhuma ousadia resultou tão desastrosa quanto a ideia de transformar Bolsonaro em “genocida”. Na véspera da apresentação do relatório, Renan foi alertado por advogados: seria mais fácil para o relator provar que é um homem honrado do que convencer qualquer juiz da pertinência da acusação. A retirada da sandice que julgava suficientemente grave para garantir o impeachment transformou o senador alagoano no disseminador da mais desprezível fake news registrada desde o começo da pandemia.

Ansioso por safar-se da desmoralização, Renan piorou as coisas. Colocou na cabeça — e no relatório — que Bolsonaro deveria pelo menos ser punido por “epidemia com resultado de morte”. O Código Penal informa que só se enquadra nesse crime quem causa um surto de bom tamanho “mediante a propagação de germes patogênicos”. Teria Bolsonaro capturado num laboratório chinês um bando de vírus responsáveis pelo maior desastre sanitário dos últimos 100 anos, e saído pelo mundo contaminando amigos e inimigos?

Ouça o conselho amparado nas conclusões da CPI da CPI, senador: agora sossegue. Melhor curtir enquanto é tempo a liberdade inexplicável. E leve junto Omar Aziz. Os dois, como o resto da turma, devem desculpas aos homens e mulheres agredidos e afrontados numa CPI que, como constatou J.R. Guzzo, nunca se dispôs a apurar com honestidade erros eventualmente ocorridos no combate à pandemia. O G7 não investigou coisa alguma. O que fez foi ocultar crimes. Comportou-se nos interrogatórios como uma delegacia policial de ditadura; ofendeu, perseguiu e pisoteou os direitos das testemunhas como cidadãos e como seres humanos. A seita dos insolentes e a tropa de choque arrogante só acusaram, como se os interrogados fossem criminosos comprovados e já estivessem condenados antes que pudessem abrir a boca. A CPI da CPI concluiu que, ao fim dos interrogatórios, os inquisidores é que deveriam ouvir dos depoentes a merecidíssima voz de prisão.

O cancelamento de Maurício Souza e a militância "woke"


 O cancelamento de Maurício Souza e a liberdade de expressão agredida

Por Gazeta do Povo 28/10/2021 07:00 - Copyright © 2021, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

Maurício Souza nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
| Foto: Miriam Jeske/CO

O cerco à liberdade de expressão, que vive um verdadeiro “apagão” no Brasil, patrocinado até mesmo pelas instituições que têm o dever constitucional de defendê-la, ganhou novo capítulo nesta quarta-feira, quando o jogador de vôlei Maurício Souza foi desligado do Minas Tênis Clube, como consequência de uma campanha de cancelamento promovida contra ele. O atleta, que já era alvo de críticas frequentes por ser apoiador do presidente Jair Bolsonaro, teve seu contrato rescindido unilateralmente pelo clube mineiro após publicações em mídias sociais. Além disso, o técnico da seleção brasileira de vôlei, Renan dal Zotto, afirmou que não há espaço “para profissionais homofóbicos” na equipe, insinuando que Souza não será mais convocado para defender o Brasil em competições internacionais.

Em uma das publicações, o atleta criticou o uso da chamada “linguagem neutra”, uma criação artificial que viola os padrões da língua portuguesa que, segundo informações de bastidores, estaria presente em uma novela com exibição prevista para o ano que vem; Souza fez o comentário “O céu é o limite se deixarmos! Está chegando a hora dos silenciosos gritarem”. Em seguida, comentando o fato de a DC Comics lançar uma história em que o personagem Super-Homem se assume bissexual, Souza escreveu: “A (sic) é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar…”. Depois, Souza publicou uma foto de uma equipe feminina de basquete que conta com um atleta transexual, Gabrielle Ludwig, afirmando: “Se você achar algum homem nessa foto você é preconceituoso, transfóbico e homofóbico. Mais uma conquista do feminismo para as mulheres!” E, por fim, publicou um vídeo defendendo suas posições e seu direito à liberdade de expressão, relatando insultos sofridos.

Classificar as manifestações de Maurício Souza como “homofóbicas” ou “ilegais” é muito mais que uma distorção grosseira do seu conteúdo; é a admissão de que, a partir de agora, há tabus, assuntos que não podem ser nem mesmo discutidos, quanto mais questionados

Quando a campanha de cancelamento já estava em curso, o Minas Tênis afirmou que “todos os atletas federados à agremiação têm liberdade para se expressar livremente em suas redes sociais”, que “não aceitamos manifestações homofóbicas, racistas ou qualquer manifestação que fira a lei”, e que “as opiniões do jogador não representam as crenças da instituição sociodesportiva”. No entanto, em poucas horas, pressionado pelos principais patrocinadores e pela intensificação da pressão dos canceladores, o clube mudou sua postura inicial: primeiro, afastou e multou Souza, pedindo que ele publicasse uma retratação; por fim, anunciou a demissão. Mas classificar as manifestações do atleta como “homofóbicas” ou “ilegais” é muito mais que uma distorção grosseira do seu conteúdo; é a admissão de que, a partir de agora, há tabus, assuntos que não podem ser nem mesmo discutidos, quanto mais questionados. 

Assumir como correta a postura dos canceladores significa, por exemplo, que não se pode nem mesmo contestar a adoção da “linguagem neutra” e que ela deve ser simplesmente aceita sem questionamentos, por mais que inúmeros especialistas apontem seu artificialismo e seu caráter de imposição ideológica, ao contrário de diversas outras mudanças que o idioma sofreu ao longo dos séculos, sempre fruto de uma evolução orgânica. Da mesma forma, torna-se “crime” apontar uma verdade evidente – que Ludwig é um homem biológico – e pretende-se bloquear o debate sobre a participação de atletas transexuais no esporte feminino, uma discussão que nem mesmo o Comitê Olímpico Internacional considera encerrada, já que a entidade manifestou sua intenção de rever as regras atuais sobre a presença de tais atletas em suas competições. Por fim, na mente dos canceladores, já não se pode nem mesmo criticar o fato de uma empresa de entretenimento atribuir determinada característica a um de seus personagens.

Nenhuma dessas posturas corresponde a homofobia; as manifestações de Souza não se encaixam naquelas condutas criminalizadas pela Lei 7.716, cujos efeitos o Supremo equivocadamente ampliou para incluir ações discriminatórias contra a população LGBT. Nem mesmo o ato descrito no artigo 20 (“Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito”) poderia ser aplicado às publicações do atleta, que não advogou nenhum tipo de preconceito, discriminação ou retirada de direitos de determinadas pessoas.

Apenas a extrapolação indevida explica a caracterização de “homofóbicas” dada às manifestações de Maurício Souza – ou por meio da deturpação das intenções do atleta em suas publicações específicas, ou por meio de um fenômeno mais generalizado que previmos já em março de 2019, quando o julgamento sobre a Lei 7.716 no Supremo ainda não estava concluindo: a proibição completa da crítica a comportamentos, algo sem precedentes na história das democracias ocidentais. Cada novo episódio de perseguição ou cancelamento deixa mais claro que este é o objetivo final de parte da militância identitária: calar quem quer que considere equivocadas determinadas práticas e que já não se resumem ao comportamento homossexual propriamente dito – daí, por exemplo, a revolta contra a crítica à “linguagem neutra”. 

Em março de 2019, a Gazeta do Povo afirmou: “Quando se vai além da criminalização do preconceito para estabelecer uma categoria de ‘crimes de opinião’, ignora-se completamente o fato de que, em todas as democracias sérias, não há comportamento humano que esteja imune ou blindado à crítica. O entendimento universal é o de que mesmo as condutas humanas mais nobres e quase que universalmente aceitas podem ser alvo de discordância, de crítica e de uma apreciação negativa, desde que não se caia no insulto, na agressão ou na violência”. Insulto, agressão e violência são tudo o que não existe nas manifestações que levaram ao cancelamento de Maurício Souza. A agressão e a violência reais são aquelas cometidas contra a liberdade de expressão do atleta, e são perpetradas por aqueles que não toleram a discordância, a ponto de buscarem inviabilizar completamente a vida de uma pessoa, pressionando para que lhe seja tirado até mesmo seu ganha-pão.

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Patrulhas woke - milicianos obcecados pelo controle do pensamento

A Revista Oeste, em matéria de capa de sua edição publicada em 8/10, nos trouxe um artigo da maior importância para o momento atual vivido pela sociedade. Em seu artigo "A tirania do cancelamento foi longe demais", Dagomi Marquezi nos diz que as patrulhas ""woke" não estão deixando pedra sobre pedra.

Nele, Marquesi afirma que a militância “woke” já foi longe demais. E poderá seguir em frente, nos levando a uma era de trevas e destruição cultural jamais vistas. A nova versão da história da Bela Adormecida “vítima” é só um dos muitos sinais da violência desses milicianos do controle do pensamento. A sua versão completa, incluindo as imagens, pode ser acessada neste link.

ELEIÇÕES DE CHÁVEZ E MADURO SOB O COMANDO DE LULA

Leonardo Coutinho, em seu livro "Hugo Chávez - o espectro", nos traz, de forma eloquente e estruturada, fatos que aconteceram na Venezuela, nas últimas décadas. Entre eles está o círculo de amizade dos presidentes Hugo Chávez e Nicolás Maduro com Lula. Abaixo cópia, na íntegra, das páginas 74 a 76, (livro capa dura) sobre o ocorrido no ano de 2011. Em posts anteriores o leitor poderá encontrar resumos de outras partes do livro já publicadas neste Blog. Estão acessíveis após cliques nos seguintes títulos:  Lula e Dilma sob as ordens de Chávez e  Narcobolivarianismo visitou o Brasil.

Boa leitura.

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O então embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Arvelaiz, e Lula
no funeral de Hugo Chávez, 2013. Foto de Ricardo Stuckert/Instituto Lula
 

Em fevereiro de 2011, um ano e nove meses antes das eleições que viriam a reeleger Hugo Chávez para seu terceiro mandato, o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, convocou o então embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Arveláiz, para traçar uma estratégia com vistas a resolver um problema que vinha tirando-lhe o sono.

 – Eu durmo tranquilo porque sei que Chávez está ali [na presidência], mas também, às vezes, perco o sono pensando que Chávez poderia perder as eleições de dezembro de 2012. 

O relato da conversa está em um telegrama diplomático enviado por Arveláiz a seu chefe, o então chanceler Nicolás Maduro. O documento descreve um encontro reservado no qual Lula, que havia deixado a presidência menos de dois meses antes, traçou sua estratégia para ajudar Chávez a vencer as eleições. Naquele momento, o brasileiro esbanjava confiança. Ainda tinha o gosto da vitória pessoal que fora eleger Dilma Rousseff como sua sucessora, para o terceiro mandato consecutivo do Partido dos Trabalhadores e, de certa forma do próprio Lula, pois ele se considerava o único responsável por construir – contra todos os prognósticos e o próprio partido – a candidatura vitoriosa de Dilma. 

Arveláiz relata que, para Lula, “uma derrota de Chávez em 2012 seria igual ou pior que a queda do Muro de Berlim”. O ex-presidente sugeriu a criação de um comando de campanha sediado no Brasil que ele coordenaria pessoalmente, ao lado de José Dirceu. Como peça central de sua estratégia, Lula enviaria para Caracas o publicitário João Santana, que havia comandado sua campanha à reeleição em 2006 e a vitória de Dilma em 2010. Meses depois, Lula foi pessoalmente à Venezuela para tratar dos detalhes de seu apoio. Em 2012, João Santana foi quem assinou a campanha do chavista e posteriormente a de Nicolás Maduro, que disputou a presidência após a morte de Hugo Chávez. 

Os detalhes da operação desenhada por Lula só se tornaram conhecidos cinco anos depois, como resultado da Operação Lava-Jato – uma das maiores investigações de crimes de corrupção realizadas na história do Brasil. A mulher de João Santana, e também sua sócia, Mônica Moura, assinou um acordo de colaboração com a Justiça brasileira, por meio do qual revelou, entre vários crimes cometidos em uma série de países da América Latina, como foi sua atuação, bem como a do marido, nas eleições presidenciais na Venezuela. 

Mônica disse aos procuradores federais brasileiros que ambos foram trabalhar nas campanhas venezuelanas por meio de um arranjo coordenado pelo ex-presidente Lula. Segundo ela, o próprio Lula foi quem fez a intermediação do “contrato” com os chavistas, e ao fim se estabeleceu, com um aperto de mãos apenas, que seriam pagos 35 milhões de dólares para João Santana, integralmente por meio de caixa dois. O acerto foi definido com Nicolás Maduro, que havia sido indicado por Chávez para negociar com os brasileiros. Lula e Maduro definiram que parte da conta apresentada por Santana seria paga por empreiteiras brasileiras com contratos na Venezuela. A Odebrecht pagaria 7 milhões de dólares, enquanto a Andrade Gutierrez teria que contribuir com 4 milhões de dólares. 

Para as autoridades brasileiras, Mônica afirmou que Nicolás Maduro repassou-lhe, diretamente, 11 milhões de dólares, em uma série de malas de dinheiro que ela ia buscar pessoalmente na sede da chancelaria venezuelana e, às vezes, no Palácio de Miraflores. Semanalmente, Maduro entregava-lhe malas com valores que variavam de 300 mil a 500 mil dólares. Em um desses encontros, segundo afirma Mônica, foram entregues, de uma só vez, 800 mil dólares. Como havia um grande risco em se transitar com milhares de dólares em cash pelas ruas de Caracas, Maduro oferecia-lhe proteção equivalente à que ele próprio utilizava. 

– Sabe o que ele fazia? Ele mandava me buscar com o carro dele, carro blindado, carro preto daquelas caminhonetes de roqueiro americano, de funkeiro americano, sei lá, rapper americano, com mais dois carros, um na frente e outro atrás, me levava para a chancelaria, entrava pela garagem. Os seguranças subiam comigo para a sala dele, eu ficava lá esperando, tomando muito chá de cadeira do Maduro. Eles não têm o menor compromisso com horário. Depois, ele me chamava na sala dele, conversava um pouquinho, conversa fiada de política e depois me entregava o dinheiro. Ele próprio, não mandava ninguém me entregar. Ele entregava. Depois eu descia com o segurança dele, os seguranças, para a mesma garagem. O carro estava me esperando, ele levava até o hotel de volta. 

Depois que Maduro e Lula definiram a atuação de João Santana na campanha, os arranjos para a arrecadação do dinheiro junto às empreiteiras brasileiras ficaram sob a responsabilidade do então embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Arveláiz, e de um dos líderes do Partido dos Trabalhadores, o ex-ministro de Lula, José Dirceu. Mônica Moura afirmou que Arveláiz era o “articulador” da campanha de Chávez, por causa de sua “boa relação” com as construtoras e com a cúpula do PT. 

Segundo a empresária Mônica Moura, apenas a Odebrecht – entre todos os que participaram do “consórcio” montado por Chávez e Lula e administrado por Arveláiz – pagou integralmente o combinado. A empresária revelou que, dos 35 milhões previamente combinados, apenas 20 milhões foram efetivamente pagos. A Odebrecht entregou à empresa de João Santana os 7 milhões de dólares previstos. O pagamento foi realizado no exterior por meio de contas e empresas offshore. Dos quatro milhões de dólares prometidos pela Andrade Gutierrez, apenas metade foi entregue. Os 11 milhões de dólares que Nicolás Maduro fez questão de entregar pessoalmente a Mônica Moura tem origem – conforme suspeitam ex-chavistas no exílio – somente em duas possíveis fontes: a corrupção e o narcotráfico.



26 outubro 2021

NARCOBOLIVARIANISMO VISITOU O BRASIL

No contexto das delações feitas por ex-castristas e ex-chavistas, Leonardo Coutinho em seu livro "Hugo Chávez - o espectro", nos traz o que disse um ex-militar que fez parte do círculo do presidente Hugo Chávez revelando que a justificativa moral para o uso do aparato estatal em favor do narcotráfico foi ensinada por Fidel Castro. 

Em uma visita a Havana, o presidente venezuelano revelou ao ditador cubano sua disposição em dar suporte às Farc. No entanto, havia o inconveniente da cocaína. Fidel, sem titubear, corrigiu o discípulo. Disse que a cocaína não era um problema, e sim um instrumento de luta contra o imperialismo.

De forma didática, o cubano convenceu Chávez de que, ao oferecer apoio total e irrestrito aos colombianos, não só fomentaria a revolução no país vizinho como causaria danos aos Estados Unidos. O incremento do tráfico, ensinou Fidel, obrigaria os americanos a gastar mais dinheiro com as ações de repressão e com os tratamentos dos adictos. 

O casamento do castrismo com o narcotráfico ocorreu após superadas as exigências de Pablo Escobar que resistia a se aproximar dos irmãos Castro. Estes cada vez mais desesperados por dinheiro, pois as esmolas que recebiam dos russos estavam diminuindo.

A isca lançada pelos cubanos foi a possibilidade de empregar todo o seu aparato militar para acobertar as rotas de tráfico. A ferramenta, vislumbrou Escobar, que possibilitaria burlar a fiscalização dos Estados Unidos. Quando apertou as mãos de Escobar, os cubanos haviam aceitado receber 1 milhão de dólares por dia para que o Cartel de Medellín pudesse usar livremente o espaço aéreo, as águas, os portos e aeroportos e montar um entreposto para estocagem de cocaína. 

Cumprimentados por Fidel Castro, Escobar e seu companheiro Roberto Suárez (o maior produtor de folhas de coca e pasta base do planeta) ouviram do ditador: "Vocês serão o míssil com o qual perfuraremos o bloqueio e o injusto embargo que sofre meu país”.

A tese do líder cubano se alicerçava também sobre outro pilar - o da expansão do regime cubano na América Latina. O dinheiro originário do tráfico era uma forma de patrocinar partidos de esquerda e grupos guerrilheiros em todo essa região. E o melhor: esse dinheiro que financiaria a expansão da revolução no continente teria origem, de certo modo, nos Estados Unidos. Assim, por meio desse argumento, Fidel Castro celebrou a união do tráfico de drogas com os movimentos insurgentes do continente, criando o que se convencionou chamar de narcoguerrilha.

No início de 2015, o guarda-costas, Leamsy Salazar, um capitão de corveta da Marinha venezuelana, recém-exilado nos Estados Unidos, declarou às autoridades americanas ter presenciado, em 2013, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Diosdado Cabello, despachar quatro lanchas de cocaína a partir de uma praia localizada na Península Paraguana, porção do território venezuelano que avança pelo Mar do Caribe.

Em junho de 2015, Diosdado, visitou o Brasil a convite da maior indústria de carnes do país e principal fornecedora da Venezuela, a JBS Friboi. Ciceroneado pelo presidente do Conselho da companhia, Joesley Batista, Diosdado foi recebido duas vezes pelo descondenado Lula da Silva na sede do instituto que leva seu nome, em São Paulo. 

E embora não tivesse comunicado sua presença ao Itamaraty ou sequer marcado previamente, conseguiu “furar” a agenda das principais autoridades da política nacional e foi recebido pela ex-presidente Dilma Rousseff, pelo vice-presidente Michel Temer, e pelo presidente do Congresso, o senador Renan Calheiros. 


Oficialmente, o tour pelo Brasil tinha como meta renegociar dívidas da Venezuela com os fornecedores e atrair mais investimentos para o país, apesar da crescente insolvência junto aos exportadores brasileiros. 

Mas o périplo de Cabello tinha um objetivo estratégico. Por causa das afinidades com o governo brasileiro, o Brasil foi escolhido como laboratório para verificar se os americanos apresentariam alguma ordem internacional de captura. Ele sabia que em um país amigo as chances de uma prisão seriam remotas.

Bom, esses laços de "amizade" não se iniciaram só a partir desse dia. Há muito tempo Lula e Dilma já viviam sob as ordens de Chávez. Confira isto clicando aqui.





24 outubro 2021

LULA E DILMA SOB AS ORDENS DE CHÁVEZ

"Na trilha do dinheiro de Chávez: dois presos com muito a revelar",  é o título de uma matéria da Veja, publicada esta semana, 20/10/2021, que pode ser lida através deste link, na qual se comenta a prisão de ex-colaboradores do regime chavista.

A matéria aponta que um deles é Alex Saab empresário colombiano que se tornou uma figura importante nos subterrâneos do chavismo, e foi deportado de Cabo Verde para os Estados Unidos no sábado passado. Outro é Hugo Carvajal, considerado um dos mais importantes operadores da rede de narcotráfico na Venezuela, ex-chefe do serviço militar de inteligência, que caiu numa armadilha feita por seus próprios colegas e teve que fugir da Venezuela depois de declarar apoio ao oposicionista Juan Guaidó. Carvajal era o “espião dos espiões”, o homem encarregado por Chávez de ficar de olho no seu entorno mais próximo, principalmente os líderes militares que juravam lealdade e poderiam traí-lo.

A reportagem selecionou, sob sua ótica, o trecho mais significativo que o Carvajal entregou à justiça:  

... “Enquanto fui diretor de Inteligência e Contrainteligência Militar da Venezuela, recebi uma grande quantidade de informes assinalando que o financiamento internacional estava ocorrendo”. ...

... “Exemplos concretos são: Néstor Kirchner na Argentina, Evo Morales na Bolívia, Lula da Silva no Brasil, Fernando Lugo no Paraguai, Ollanta Humala no Peru, Zelaya em Honduras, Gustavo Petro na Colômbia, Movimento Cinco Estrelas na Itália e Podemos na Espanha. Todos estes foram registrados como receptores de dinheiro enviado pelo governo venezuelano”. 

Em seguida traz outras informações que tentam demonstrar um pouco o caminho dessas operações, com "portos" em vários países do mundo.

Tais revelações não são novidades e muitas delas já foram publicadas pela Veja em seus velhos e gloriosos tempos de uma imprensa com letra maíuscula, e não as minúsculas dos tempos atuais.

Esses registros também podem ser encontrados no livro "Hugo Chávez: o espectro", publicado em janeiro de 2018, de Leonardo Coutinho, jornalista há mais de 20 anos, dezessete deles na revista Veja. O livro mostra, detalhadamente, como o presidente venezuelano alimentou o narcotráfico, financiou o terrorismo e promoveu a desordem global, com pretensões que iam muito além da América Latina.

O livro nos conta que em entrevista concedida ao próprio Leonardo, em 01/08/2015, em Washington, DC, um exilado venezuelano, ex-executivo da PDVSA, reafirmou que dezenas de malas de dinheiro "desceram da Venezuela" rumo ao sul. Segundo ele, "esse dinheiro foi utilizado por chavistas para patrocinarem as campanhas de Evo Morales, na Bolivia, Pepe Mujica, no Uruguai, Fernando Lugo, no Paraguai, e Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil", p. 42, livro capa dura.

E por falar em eleições, Leonardo confirma (p. 40), o que os brasileiros souberam durante as eleições de 2012 e 2014 no Brasil. Trata-se das impressões digitais deixadas pela empresa Smartmatic nessas eleições. A Smartmatic foi contratada pelo TSE para cuidar da atualização do software utilizado nas urnas eletrônicas e prover tecnologia para transferência de dados. A Smartmatic é umbilicalmente ligada ao chavismo. Sua criação contou com o financiamento secreto do governo venezuelano e é a responsável pelas eleições venezuelanas.

Em todos os capítulos do livro, há fatos que conectam o Brasil e a Venezuela durante os treze anos de governo petista. Contudo, sua última parte, seu posfácio - E o Brasil com isso? - é dedicado ao nosso País, p. 183-94. Resumiremos a seguir três de seus seis subtítulos: " Sob as ordens de Chávez" -  "O Brasil bolivariano" - "Affair totalitário".

Sob as ordens de Chávez

Foi por meio da Lava Jato que se pôde ver as bizarras relações que o Brasil estabeleceu com os governos bolivarianos. Emilio Odebrecht revelou os bastidores de como Chávez lhe encomendou a construção do porto de Mariel, em Cuba, para ajudar o regime dos irmãos Castro. Segundo Emílio, bastou uma ligação de Chávez para Lula.

E assim foi feito. Lula interveio junto ao BNDES para conceder empréstimos que somaram US$ 682 milhões. Para se liberar o financiamento, foram negligenciados vários pareceres técnicos desfavoráveis. Emílio disse aos procuradores da Lava Jato que, em condições normais, nem o BNDES, nem a Odebrecht entrariam no negócio. Como se tratava de uma operação totalmente atípica, o contrato foi classificado como secreto até o ano 2027.

Contudo, os delírios de Chávez com a cumplicidade de Lula iam mais longe. Atingiram proporções superlativas e nada se iguala ao prejuízo, causado ao Brasil, pela construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Projetada ao custo de US$ 2,5 bilhões em 2005, só chegou a ser inaugurada em 2017,  sem estar concluída, tendo custado US$ 20,1 bilhões, sem nenhum investimento venezuelano como incialmente previsto e produzindo apenas 110 mil barris diários, menos da metade dos 230 mil para os quais fora projetada. Para se ter uma idéia comparativa, no mundo a maior refinaria está na India, com processamento de 1,2 bilhão de barris/dia e consumiu US$ 30 bilhões. Em valores proporcionais custou sete vezes menos que o projeto chavista.

O Brasil bolivariano

Os bilhões de dólares torrados pelo Brasil na aventura bolivariana do chavismo se tornaram ínfimos diante do prejuízo institucional. Em junho de 2011, após seis meses de ter assumido o Planalto, Dilma Rousseff recebeu a visita de Chávez. Dilma não esperou um minuto para dizer ao colega que não se preocupasse. Lula tinha ido embora, mas com ela seguia tudo igual.

Dilma lhe informou que estava "trabalhando" o Congresso do Paraguai para aprovar a entrada da Venezuela no Mercosul. Como moeda de troca, Dilma submeteu ao Congresso brasileiro um projeto de reajuste de 200% do valor pago pelo Brasil pelo excedente de energia gerada em Itaipu pelo Paraguai. Dilma fez subir de US$ 120 milhões para US$ 360 milhões o custo da aquisição do excedente de energia. Mas o plano de Dilma fracassou: os senadores do Paraguai agradeceram o presente e rejeitaram o pedido de autorização de admissão da  Venezuela no Mercosul.

Dilma e Chávez perderam também a próxima batalha travada no Paraguai ao tentarem impedir o impeachment do presidente Fernando Lugo. Contudo não desistiram e planejaram um castigo a ser aplicado ao Paraguai. Alegando rompimento democrático no país vizinho, Dilma, em conluio com a Cristina Kirchner, pediu a expulsão do Paraguai do Mercosul. Conseguiu a suspensão ao conquistar os votos da Argentina e do Uruguai.

Affair totalitário

... "Em 2010, sob o pretexto de "defesa dos direitos humanos", o governo Lula tentou emplacar uma lei de meios que foi interpretada pelo setor como uma medida que restringiria a liberdade de imprensa. O aparelhamento da máquina estatal chegou a contar com mais de 107 mil funcionários ocupando cargos sem concurso público. FHC deixou o governo em 2003 com menos de 19 mil servidores nessa situação. No episódio do Mensalão, na falta de uma base política, comprou-se uma."...

... "Apesar disso em treze anos de governos definidos como de esquerda, nenhuma dessas medidas prosperou, mas elas tiveram efeito sobre a percepção do que seja autoritarismo para os brasileiros. Por mais paradoxal que pareça, o mesmo Brasil que flerta com modelos ditatoriais tem aversão a eles. Os mesmos 23% da população que se dizem favoráveis a um governo militar são aqueles que também rejeitam o avanço do totalitarismo da esquerda. Boa parte dos eleitores que abominam movimentos e candidatos que pregam as virtudes do regime militar são aqueles que toleram e justificam os crimes e os desmandos da esquerda. O que sugere que ambos os polos do espectro político brasileiro tolerariam uma inflexão ao totalitarismo. Cada um deles conforme a sua preferência política." ...

... "O Brasil jamais precisou ser uma cópia exata do vizinho para reproduzir alguns de seus exemplos mais sinistros. Este por sinal foi o legado de Chávez também para o Brasil. Ele está presente, mesmo quando não pode ser visto. Este é o seu espectro."



23 outubro 2021

ARTIGO 220 TEM SIDO IGNORADO SISTEMATICAMENTE

Em post de abril/21, falamos sobre as empresas denominadas de agências de checagem (fact checkers) e dissemos que elas atuavam sem limites. Fazem o que bem entendem

Durante esta semana o nosso "Ministério da Verdade", se tornou mais visível, foi mais longe, superando tais agências. Desta vez, a caneta é de quem usa o uniforme oficial, e a utiliza para fechar tudo aquilo que desejar e mandar prender aquele que julgar conveniente.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a prisão preventiva do jornalista Allan dos Santos por suspeitas de atuação em organização criminosa, crimes contra honra e incitação a crimes, preconceito e lavagem de dinheiro. Em outra decisão, ele determinou que o Google informe sobre lives e doadores do canal Terça Livre, desde janeiro de 2020. Também foi determinado o bloqueio de contas e de remessas de dinheiro a Santos, que está nos Estados Unidos, e requisitada cooperação jurídica para sua extradição. A embaixada norte-americana também foi informada.

As decisões do ministro Alexandre de Moraes estavam sob sigilo, mas foram posteriormente divulgadas. Estão acessíveis através dos links oficiais citados abaixo.


O outro lado

Assista os vídeos abaixo para melhor compreensão do que aconteceu. Comece com a opinião da Procuradora da República e professora de Direito Penal, Thaméa Danelon, seguida dos comentários efetuados no programa Pingos Nos Is, a entrevista do Allan dos Santos e o que disseram dois outros jornalistas da Jovem Pan, o Jorge Serrão e a Bruna Torlay.

Thaméa Danelon - Liberdade de Opinião

Alexandre de Moraes manda prender jornalista Allan dos Santos

Allan dos Santos comenta pedido de prisão: "Perseguição abjeta"

STF continua cometendo abusos contra as liberdades


É a censura anunciada. Nenhuma democracia merece tal nome sem liberdade de expressão. Quem luta por ela não se limita a defender o próprio direito de falar. Um genuíno democrata luta com igual tenacidade para que mesmo quem dele diverge possa expor livremente opiniões e ideias, sejam elas quais forem

O Artigo 220 da Constituição brasileira em seu capítulo V determina que “a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição”. O parágrafo 1º estabelece que“nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social”. 

Em resumo, a lei garante a liberdade de opinião, de expressão e de imprensa e está sendo sistematicamente ignorada.



19 outubro 2021

O PREÇO DA GASOLINA NA EUROPA DISPARA

O preço da gasolina na Europa voltou a disparar neste mês de outubro. Interessante o que mostra o vídeo abaixo, gravado num posto em Paris, onde o litro do combustível atingiu a marca de 1,78, o que em Real, a preço de hoje, corresponde a R$ 11,42. Em maio deste ano custava 1,54, ou seja, de lá para cá houve um aumento de 15,5%. 



Durante a última semana, os Países Baixos (Holanda, Bélgica e Luxemburgo) ocuparam a primeira posição da gasolina mais cara em toda a Europa com um preço de 1,80 por litro. Seguem-se Noruega, Dinamarca e Finlândia, cujos governos tem insistido nos apoios à compra de carros elétricos e, por isso, tem onerado também os combustíveis de origem fóssil.

O Boletim da Comissão Europeia coloca ainda Portugal em 8º lugar entre os 33 países analisados na Europa com a gasolina mais cara.

A cotação do petróleo vem em uma sequência de alta forte desde o início do ano. O preço do barril do tipo Brent, referência internacional, passou de US$ 80 no último dia 28 de setembro pela primeira vez desde outubro de 2018.

Essa trajetória de alta impacta diretamente nos derivados — gasolina, diesel, gás natural, gás de cozinha — e é explicada por pressões dos dois lados: maior demanda e restrição de oferta.

Parte do aumento do consumo é explicada pela reabertura dos países que têm conseguido implementar de seus programas de vacinação contra a Covid-19 — e o impacto da retomada tem sido mais forte do que o esperado em algumas regiões. Mas essa não é a única razão.

Na Ásia, a China vem usando mais gás natural como substituto do carvão em suas termelétricas, como parte do esforço do país para cumprir as metas para redução da emissão de poluentes e entra na política de médio e longo prazo de transição energética da China.

Se a demanda por petróleo e derivados cresceu de um lado, a oferta não acompanhou.

Uma das razões vem da própria dinâmica da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), um cartel que reúne 13 países e concentra cerca de 33% da produção global da commodity (por volta de 30 milhões de barris por dia).

O grupo muitas vezes limita a produção para evitar quedas substanciais nos preços ou mesmo valorizar a cotação do barril.

Isso aconteceu no ano passado, quando a Opep decidiu cortar a produção por conta da pandemia. As atividades estão sendo normalizadas gradativamente, com a expectativa de que a oferta seja completamente retomada até dezembro de 2022.

A demanda, contudo, vem crescendo em ritmo mais rápido.

17 outubro 2021

TIRO NO PÉ

Neste domingo (17),  a CPI da Covid-19 no Senado Federal adiou a leitura do relatório final, a cargo de Renan Calheiros, de 3ª (19.out.2021) para 4ª feira (20.out). A votação do parecer, por sua vez, passou de 4ª feira para 26 de outubro.

A CPI da Covid-19, é composta por 11 senadores,  tendo sua liderança formal constituída pelos: presidente da Comissão, Omar Aziz (PSD-AM), como vice-presidente, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e como relator, Renan Calheiros (PMDB-AL). 

Além desses três,  compõem o grupo de oposição ao governo o denominado G-7, com os seguintes senadores: Otto Alencar (PSD-BA),  Humberto Costa (PT-PE) Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Rogério Carvalho (PT-SE).

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) também participa de reuniões desse grupo, frequentemente realizadas, à noite, na casa do presidente da CPI. Mesmo sem voto, Eliziane, assim como suplentes da CPI, são considerados parte do núcleo decisório que tem traçado os caminhos da comissão, já que há titulares da CPI que não viajam a Brasília toda semana e participam de forma remota.

Ao longo de seis meses de duração, a CPI ouviu integrantes do governo federal e alguns de seus apoiadores, empresários, ex-ministros da Saúde, deputados, médicos e cientistas.

Contudo, em todo esse período, a CPI foi um tiro no pé para o G-7. Se antes a ficha suja de alguns senadores estavam restritas ao conhecimento de eleitores em seus estados de origem, passaram, desde os primeiros de funcionamento da CPI, ao domínio público nacional.

Para o Brasil e os brasileiros a CPI também foi um tiro no pé. Muitos recursos públicos desperdiçados e atraso na apreciação e votação de projetos encaminhados pelo governo para o desenvolvimento do País.

Na imagem ao lado, mais uma opinião sobre essa Comissão. O que disse, recentemente, Sergio Etchegoyen, em um dos trechos de seu artigo "A CPI não é um circo". 

Portanto, no momento em que o Senado convive com um dos piores momentos de sua imagem no cenário nacional, a eleição do próximo ano concede ao eleitor a oportunidade de renovar a sua composição

A política sofre quando fica com os mesmos líderes e não surge sangue novo que possa corrigir e sepultar os costumes daqueles que afundaram a Nação.


16 outubro 2021

ELEITOR, SAIBA QUEM PODE - E DEVE (?) - DEIXAR O SENADO EM 2023

Alcolumbre, Omar Aziz, Simone Tebet e mais 24 

Num momento em que o Senado vive um de seus piores momentos de sua imagem no cenário nacional, a eleição do próximo ano concede ao eleitor a oportunidade de renovar a sua composição. Ele poderá eleger novos representantes comprometidos com uma pauta de interesse para o desenvolvimento do País e não as particulares de cada um dos senadores.

Em 2022, haverá eleição para um terço das vagas (27 cadeiras), e figuras centrais do atual jogo político precisarão renovar seus mandatos nas urnas ou escolher outros rumos para suas carreiras. Essa turma inclui senadores da CPI da Covid, como o presidente da Comissão, Omar Aziz (PSD-AM), e os senadores Otto Alencar (PSD-BA) e Simone Tebet (MDB-MS), que mancharam a imagem da Instituição.

Fazem parte ainda desse grupo, cujo mandato termina no próximo ano, o ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP), o ex-presidente Fernando Collor (PROS-AL), o líder do governo Fernando Bezerra (MDB-PE), a senadora Kátia Abreu (PP-TO), o ex-governador mineiro Antonio Anastasia (PSD) e o ex-governador do Paraná Alvaro Dias (Podemos), entre outros. Os tucanos Tasso Jereissati (CE) e José Serra (SP) também encerram seus mandatos, mas não devem concorrer mais, por razões pessoais.

Confira a lista completa de senadores cujos mandatos terminam em 2022:

  • Mailza Gomes (PP-AC);
  • Fernando Collor (PROS-AL);
  • Omar Aziz (PSD-AM);
  • Davi Alcolumbre (DEM-AP);
  • Otto Alencar (PSDB-BA);
  • Tasso Jereissati (PSDB-CE);
  • José Reguffe (Podemos-DF);
  • Rose de Freitas (MDB-ES);
  • Luiz do Carmo (MDB-GO);
  • Roberto Rocha (PSDB-MA);
  • Antonio Anastasia (PSDB-MG);
  • Simone Tebet (MDB-MS);
  • Wellington Fagundes (PL-MT);
  • Paulo Rocha (PT-PA);
  • Nilda Gondim (MDB-PB);
  • Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE);
  • Elmano Férrer (PP-PI);
  • Álvaro Dias (Podemos-PR);
  • Romário (PL-RJ);
  • Jean Paul Prates (PT-RN);
  • Acir Gurgacz (PDT-RO);
  • Telmário Mota (PROS-RR);
  • Lasier Martins (Podemos-RS);
  • Dário Berger (MDB-SC);
  • Maria do Carmo Alves (DEM-SE);
  • José Serra (PSDB-SP);
  • Kátia Abreu (PP-TO).

Há uma tradição, de certa forma, que governadores que, por determinação da lei, não poderão mais disputar uma reeleição concorrerem a essas vagas para o Senado. No Nordeste, pelo menos cinco governadores deverão estar nesse caso: Wellington Dias (PT-PI), Camilo Santana (PT-CE), Paulo Câmara (PSB-PE), Flávio Dino (PSB-MA) e Renan Filho (MDB-AL).

Nesse xadrez do Senado, os integrantes da CPI da Covid se descapitalizaram politicamente pela má exposição conseguida durante os trabalhos da CPI. Mesmo já tendo sido governador do Amazonas, Omar Aziz, ao presidir a Comissão, ganhou exposição nacional negativa por ter proporcionado ao Paíss, em desejar, a oportunidade de todos conhecerem a ficha suja de sua atuação política no Amazonas. 

Outro participante do denominado G-7, da CPI, o senador Otto Alencar comprometeu acentuadamente, sua reeleição por participar desse grupo e seus pronunciamentos durante as sessões da Comissão. Outra que afundou ainda mais durante os trabalhos da CPI foi a senadora Simone Tebet. Esta já tem uma opositora que lhe aposentará politicamente. Trata-se da ministra da Agricultura Tereza Cristina, que tem realizado um trabalho de reconhecido valor no Brasil e no exterior.

Em Alagoas, onde o ex-presidente Fernando Collor deverá enfrentar o atual governador Renan Filho. Collor já se aproximou politicamente de Bolsonaro para se fortalecer no embate contra o filho de Renan Calheiros, outro que proporcionou a exposição de sua ficha suja, durante os trabalhos da CPI, na qual é o relator. 

No Amapá não será diferente. Após sua desastrosa passagem pela presidência do Senado,  Davi Alcolumbre afundou ainda mais ao comandar a Comissão de Constituição e Justiça da Casa. Mais recentemente, definhou acentuadamente por não colocar em pauta na Comissão a indicação de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal.

A democracia é o único regime político que nos oferece a sagrada oportunidade de podermos renovar os componentes do poder político do País. É a melhor forma de governo, mas é difícil e exige trabalho e engajamento. A política sofre quando fica com os mesmos líderes e não surge sangue novo que possa corrigir e sepultar os costumes daqueles que afundaram a Nação.