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12 novembro 2015

LAMA ELEITORAL


"Chama a atenção, no desastre provocado pela mineradora Samarco, a benevolência que as autoridades têm dispensado à empresa diante de um dos maiores desastres ambientais do país e de uma tragédia humana irreparável".

"Talvez as prestações de contas das eleições de 2014 ajudem a ver melhor as coisas. A Vale fez uma série de doações para a campanha de Fernando Pimentel. Por meio da subsidiária Vale Energia, aportou R$ 1,2 milhão. Pela Minerações Brasileiras Reunidas, outros R$ 895 mil, e, em nome da Vale Manganês, mais R$ 257,5 mil. Somando tudo, foram R$ 2,3 milhões para a campanha do petista".

Tal lama, a eleitoral, está esparramada em todo o País. E não há indicativos de que será interrompida. A lama para as eleições em 2016 já está em pleno movimento. A estimativa dos custos para essa eleição, feita por um prefeito, que deseja se reeleger, em uma cidade de Goiás, próxima a Brasília, e que possui apenas 12 mil habitantes, já atingiu a cifra de R$ 2,5 milhões.

Por essas e outras, é que se torna obrigatória, com urgência, a mudança do atual sistema político brasileiro. Algumas idéias aqui.

Infelizmente, no caso da cidade de Mariana - MG e de todas as regiões a jusante, estas tiveram/têm/terão de conviver com a lama eleitoral e a resultante dos rejeitos da exploração mineral, com indícios de que a última tem forte relacionamento com a primeira.

O texto completo do artigo "Lama eleitoral" se encontra abaixo e foi publicado no Correio Braziliense desta 5a. feira (12).

Lama eleitoral

Chama a atenção, no desastre provocado pela mineradora Samarco, a benevolência que as autoridades têm dispensado à empresa diante de um dos maiores desastres ambientais do país e de uma tragédia humana irreparável, com uma série de mortes, dezenas de desaparecidos e centenas de desabrigados.

Os danos ambientais, ainda incalculáveis, se estendem por centenas de quilômetros, afetando a bacia do Rio Doce e levando ao litoral brasileiro substâncias ainda desconhecidas. Centenas de milhares de pessoas estão sem abastecimento de água. A lama soterrou vidas, moradias, nascentes de água e leitos de rios no povoado histórico de Bento Rodrigues. São prejuízos graves e irreversíveis.

Ainda assim, o governador mineiro, Fernando Pimentel, escolheu a sede da empresa — que pertence à Vale e à anglo-australiana BHP Billiton — para dar entrevista coletiva sobre o caso. Fazendo as vezes de porta-voz da Samarco, disse que a empresa “está cuidando do que ela é responsável” e que “não podemos apontar culpados”. O secretário de Desenvolvimento Econômico do estado, Altamir Rôso, qualificou a Samarco como “vítima”.

O que a legislação ambiental estabelece, no entanto, é que, independentemente de culpa, o causador do dano é obrigado a reparar e a recuperar os prejuízos. O governo do Espírito Santo anunciou que vai multar a empresa, enquanto o mineiro se limitou a embargar as atividades dela em Mariana. Fez um favor. Alguém imagina que a empresa tivesse condições de continuar operando?

Talvez as prestações de contas das eleições de 2014 ajudem a ver melhor as coisas. A Vale fez uma série de doações para a campanha de Fernando Pimentel. Por meio da subsidiária Vale Energia, aportou R$ 1,2 milhão. Pela Minerações Brasileiras Reunidas, outros R$ 895 mil, e, em nome da Vale Manganês, mais R$ 257,5 mil. Somando tudo, foram R$ 2,3 milhões para a campanha do petista. O setor de mineração ainda contribuiu por meio da Arcelormittal e da Companhia Ferroligas Minas Gerais, entre outros grandes doadores.

Enquanto doadores abrem as portas a Pimentel, para a população de Bento Rodrigues cunham-se novos e trágicos significados para os versos do mineiro Carlos Drummond de Andrade: “Com a chave na mão, quer abrir a porta, não existe porta; quer ir para Minas, Minas não há mais”.

Warner Bento Filho
warnerbento.df@dabr.com.br
Publicação: 12/11/2015 04:00

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