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11 outubro 2025

A árvore brasileira do Século XXI

    A semana termina com mais uma notícia que envergonha o Brasil e não foi a única. Desta vez o pronunciamento oficial americano sobre a mentira (proposital?) utilizada pelo STF para manter preso, até hoje, Filipe Martins. Outras do mesmo gênero estão relacionadas aos depoimentos de Eduardo Tagliaferro. Em comum a mesma origem, cuja definição precisa se encontra no conceito de uma árvore no âmbito da Teoria dos Grafos. Um grafo em árvore é um tipo especial de grafo sem ciclosconectado, e hierárquico — muito usado para representar relações de dependência.

    Pois bem, as notícias citadas sobre Eduardo Tagliaferro e Filipe Martins são exemplos perfeitos (não as únicas) da árvore brasileira do século XXI. Com elas não é difícil a identificação do nó especial denominado raiz e, sucessivamente, os demais nós até as respectivas folhas.

Texto original

Texto original

    A árvore nos traz, por exemplo, resposta para a pergunta do momento: por que o sistema insiste em ignorar as denúncias de Eduardo Tagliaferro contra Alexandre de Moraes e a PGR? E pior: por que o deixa ser investigado e processado pelos próprios denunciados? Suas denúncias não são triviais e partem de alguém de dentro (um nó da árvore), que testemunhou e participou dos fatos denunciados. Que democracia é esta que insiste em investigar o mensageiro, no lugar da mensagem?

    “A quem exatamente eu iria denunciar?”, perguntou Eduardo Tagliaferro, dias atrás. Ele depôs três vezes no Congresso, fez denúncias graves e diz ter provas. O resultado é curioso. Ao invés de investigar o que ele diz, é ele o investigado. Contas bloqueadas, pedido de extradição e tudo que sabemos. Como quase tudo no Brasil dos últimos anos, seu caso caiu na vala comum da guerra política. E isto não deveria ser assim.     Nos Estados Unidos há o Whistleblower Protection Act, que protege cidadãos com denúncias relevantes. É assim que funciona, em grandes democracias. No Brasil, vemos o contrário. E no fundo é isso que incomoda. Uma democracia pode viver com os gritões de redes sociais e mesmo com uma mídia que muito pouco investiga. Mas não com um aparato de Estado que recusa a investigação de si mesmo. Que opta pela lógica confortável do “não saber”. Lógica algo estranha, vamos convir, para a democracia republicana que um dia imaginamos construir.

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