“Brasil, pátria educadora” é o lema adotado pela presidente Dilma Rousseff para o seu novo governo. Ontem e hoje (07/01/2015) foram publicados dois artigos sobre a educação universitária e a ciência no Brasil, na Folha de São Paulo e no Correio Braziliense, respectivamente.
Os artigos são de autores reconhecidos na comunidade acadêmica que, para nossa satisfação, reabrem, desta vez também estimulados pelo lema do novo governo, uma discussão necessária ao País, a qualquer tempo.
O primeiro artigo "Produção científica e lixo acadêmico no Brasil", é do pesquisador Rogério Cerqueira Leite, físico e professor emérito da UNICAMP, que aponta a resistência dos medíocres e a falta de coragem política das autoridades como fatores que impedem o crescimento da ciência de alta qualidade no nosso país.
O segundo artigo, "A universidade brasileira - 2013 temos o melhor modelo?", é do pesquisador Luiz Antonio Barreto de Castro, presidente da Sociedade Brasileira de Biotecnologia e membro titular da Academia Brasileira de Ciências, pondo em cheque o modelo universitário brasileiro, passando pela sua gratuidade na universidade pública.
Percebe-se, nos artigos, a convergência dos autores quando sinalizam duas das causas que mais impactam a eficiência e a eficácia dos resultados provindos dos investimentos realizados no andar de cima da educação brasileira. Trata-se da opção pelos investimentos e de sua respectiva gestão.
Como exemplo do que acontece durante a decisão dos investimentos, é salientada a distribuição política e demagógica dos recursos, que ocorre sem os estudos e indicadores necessários para que sejam realizados. Em outras palavras, joga-se dinheiro pelo ralo, ou pelos dutos, para se usar uma palavra mais em uso ultimamente.
Com relação à gestão dos recursos, foram abordados alguns aspectos que incluem desde o regime de trabalho com emprego vitalício, aplaudido, principalmente, pelos que não possuem compromissos com resultados, passando pela burocracia que soterra qualquer iniciativa dos bem-intencionados professores, pesquisadores e auxiliares.
E por falar em resultados, como consequência direta dos dois parágrafos acima, o professor Rogério exemplifica com dados do artigo publicado no periódico britânico Nature. A revista contabilizou para o Brasil 670 artigos publicados em revistas de grande prestígio, enquanto no mesmo período o Chile publicou 717, nessas mesmas revistas. O dado profundamente inquietante é que enquanto o Brasil desembolsou em ciência US$ 30 bilhões, o Chile gastou apenas US$ 2 bilhões.
Os artigos citados são, portanto, uma iniciativa louvável e merecem o nosso aplauso. Que outros apareçam. Demonstram a vontade de participação da sociedade na discussão do tema. Com certeza esta também irá acompanhar e cobrar o cumprimento das promessas conferidas à prioridade das prioridades do governo que se inicia.
Assim sendo, ao mesmo tempo em que aplaudimos o discurso da presidente e a participação da sociedade, aguardamos medidas que invertam rapidamente o descaso da gestão anterior com a educação e que ponham fim aos investimentos que terminam transformados em mais dutos de desperdícios.
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07 janeiro 2015
01 janeiro 2015
QUANDO 2016 CHEGAR
O otimismo é uma obsessão das passagens de ano. Imagine que o Brasil pode melhorar, deve melhorar, tem que melhorar. Finja que o momento é agora. Faça cara de quem acredita que tudo dará certo em 2015. Muito bem.
No
balanço dos artigos e colunas que foram publicadas na mídia, desde o primeiro
dia de 2014, com exceção de matérias oficiais do governo, diversos autores
apontaram os principais desafios para o último ano de um governo que se
encerrou ontem, em 31 de dezembro de 2014.
Em outras
palavras, os autores queriam evitar que os equívocos cometidos no período 2011-2013 fossem
repetidos em 2014 e que, ao final de seu exercício, fosse entregue um País pronto para retomar o seu crescimento ao novo governo que tomará posse neste 01 de janeiro de 2015.
Infelizmente isto não acontecerá. Em 2014, apesar dos inúmeros alertas, os equívocos
se repetiram, e até foram ampliados, gerando decréscimo de resultados em todos
os indicadores aferidos. Sobrou para 2015.
Por isso mesmo, já se sabe que o ano de 2015 será de inflação alta, juros elevados, credito
restrito e baixo crescimento, o que poderá resultar em aumento do desemprego,
mesmo que em ritmo lento.
Há problemas em outras áreas, como é caso do rombo nas transações com o exterior, de 4% do PIB, que nos colocou em um grupo do qual deveríamos estar distante.
Na
produção, espera-se por reformas que desonerem o setor e aumentem sua
competitividade. Não custa lembrar que a produtividade dos trabalhadores
brasileiros está entre as piores do mundo, estagnada a mais de 30 anos,
enquanto em outros países ela só tem crescido: 12% nos EUA, 50% na China e
quase 70% na Coréia do Sul.
Também há rumores de que a economia do País poderá ser rebaixada pelas agências de classificação de risco.
Nesse sentido, fica evidente que, no Brasil, o caminho para 2016 estará cheio de percalços, a despeito da economia
mundial dar sinais de que se recupera da crise iniciada em 2008. Torna-se urgente, portanto, que correções devam ser aplicadas. A entrevista concedia pelo novo ministro da fazenda ao Valor Econômico, no último 29/12, parece ir nesta direção.
Neste momento, cabe-nos então perguntar: Estará o novo governo sensível
ao necessário acerto de contas, promovendo as reformas indispensáveis para que
o Pais volte a crescer e seus indicadores tomem direções positivas a partir de 2016 ?
Tomara que sim ! E que, quando 2016 chegar, o Brasil possa dar mostras concretas
de que já é detentor de uma nova plataforma de crescimento, por ter feito o seu
dever de casa em 2015, após corrigir, para sempre, os erros cometidos
pelo (des)governo do período 2011-2014.
Brasília,
01 de janeiro de 2015.
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