Quando os guardiões da lei se tornam protagonistas da política, onde termina a defesa da democracia e começa o risco de autoritarismo?
Em tempos de estabilidade institucional, juízes constitucionais costumam ocupar um lugar discreto: interpretam a lei, julgam ações, equilibram tensões entre os poderes. Mas em contextos de crise democrática, esse papel muda. Eles deixam o bastidor e caminham para o centro do palco político, muitas vezes à revelia da própria tradição jurídica. No Brasil contemporâneo, nenhum nome simboliza melhor esse deslocamento do que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Desde 2019, Moraes assumiu protagonismo em investigações e decisões de grande impacto político. Relator do Inquérito das Fake News e da investigação dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, tornou-se símbolo das ameaças ao Estado Democrático de Direito.
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"As decisões do ministro Moraes têm imposto a Filipe Martins, transformando-o em uma não-pessoa, em um morto-vivo. Definitivamente, essa não é a função do direito, de um juiz ou de um Tribunal em uma sociedade democrática e civilizada. Na 2ª feira (7.abr.2025), soube-se pela imprensa que Moraes multou Filipe Martins por um post de seu advogado nas redes sociais", André Marsiglia |
Nesse contexto, há pelo menos quase 10 anos, a partir da condução do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o Supremo Tribunal Federal tem assumido uma posição cada vez mais ativa na cena política brasileira. Em parte, porque o Legislativo mostrou-se, em certos momentos, omisso ou complacente com ameaças à ordem democrática. Em parte, também, porque o próprio Executivo tem flertado com discursos e práticas de sistemas ditatoriais mundo afora.
O risco de que essa atuação transborde para o campo da governança cotidiana é real — e perigoso. Democracias fortes dependem de pesos e contrapesos. Quando um poder se agiganta para suprir a fraqueza dos outros, o sistema desequilibra.
Concluindo, o STF é, ao mesmo tempo, produto e protagonista de uma democracia em tensão. A história julgará. Mas enquanto isso, cabe à sociedade — e às instituições — manterem vigilância sobre seus guardiões. Porque até mesmo a defesa da democracia precisa ter limites democráticos.
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