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20 abril 2019

MANIFESTO PÓS-FUTURISTA





Acaba de chegar ao Brasil, com prefácio de janeiro de 2019, o livro "Depois do Futuro", de Franco Berardi, publicado originalmente em 2009, no aniversário de cem anos do Manifesto Futurista.


Manifesto Futurista foi escrito pelo poeta italiano Fillipo Tommaso Marinetti e publicado no jornal francês Le Figaro em 20 de fevereiro de1909. Segundo Berardi, este manifesto marcou a fundação do futurismo, um dos primeiros movimentos da arte moderna. Consistia em 11 itens que proclamavam a ruptura com o passado e a identificação do homem com a máquina mecânica de metal reluzente, a velocidade e o dinamismo do novo século.

Em seu livro, o autor afirma que no decorrer de um século (1909-2009), essa máquina visível no espaço da cidade se transformou em uma maquina invisível, interiorizou-se, tornou-se infomáquina, biomáquina, nanomáquina, potência penetrante que se autogera e canibaliza o tempo.

O que quer dizer "futuro"a essa altura? Na época moderna, os indivíduos puderam construir uma biografia para si mesmos, ter lembranças pessoais, imaginações próprias. Homens e mulheres eram força-trabalho à disposição da máquina produtiva, mas eram também pessoas com seu corpo, com sua memória pessoal e de grupo. Agora, o tempo de vida se apresenta como um mosaico de fragmentos celularizados, células de tempo a serem emprestadas à rede. O que resta da singularidade de percursos biográficos individuais?, pergunta o autor.

Berardi faz um balanço das ideias de porvir gestadas na aurora das vanguardas artísticas e políticas do século passado. O autor articula filosofia, política, arte, cinema e literatura para fazer uma diagnóstico crítico do nosso tempo e lançar o seu "Manifesto Pós-futurista", contendo também 11 itens.

Manifesto Pós-futurista

1. Queremos cantar o perigo do amor, a criação diária da energia doce que nunca se dispersa.

2. A ironia, a doçura e a rebelião serão elementos essenciais da nossa poesia.

3. A ideologia e a publicidade exaltaram até agora a mobilização permanente das energias produtivas e nervosas da humanidade para o lucro e para a guerra; nós queremos exaltar a ternura, o sonho e o êxtase,  a fragilidade das necessidades e o fazer dos sentidos. 

4. Afirmamos que a grandiosidade do mundo enriqueceu-se com uma beleza nova, a beleza da autonomia. Cada um tem o seu ritmo e ninguém deve ser obrigado a correr em velocidade uniforme. Os automóveis perderam da raridade; sobretudo, não podem mais desempenhar a tarefa para a qual foram concebidos. A velocidade se tornou lenta. Os automóveis estão imóveis como estúpidas tartarugas no tráfego das cidades. Apenas a lentidão é veloz.

5. Queremos cantar o homem e a mulher que se acariciam para se conhecer melhor e conhecer melhor o mundo.

6. É necessário que o poeta se esbanje com calor e generosidade para aumentar a potência da inteligência coletiva e para reduzir o tempo do trabalho assalariado.

7. Só há beleza na autonomia. Nenhuma obra que não expresse a inteligência do possível pode ser uma obra de arte. A poesia é uma ponte lançada sobre o abismo do nada para criar compartilhamento entre imagens diferentes e libertar a singularidade.

8. Estamos sobre o promontório extremo entre os séculos. Temos que olhar para trás de nós para relembrar o abismo de violência que a agressividade militar e a ignorância nacionalista podem desencadear a qualquer momento. Vivemos há muito tempo na religião do tempo uniforme. A eterna velocidade onipresente já está atrás de nós, na internet; por isso, agora podemos esquecê-la para encontrar nosso ritmo próprio.

9. Podemos ridicularizar os idiotas que difundem o discurso da guerra, os fanáticos da competição, os fanáticos do deus barbudo que nos incita ao massacre, os fanáticos aterrorizados pela feminilidade desarmaste que há em todos nós.

10. Queremos fazer da arte uma força de mudança da velocidade da vida, gostaríamos de abolir a separação entre a poesia e a comunicação de massa, gostaríamos de tirar a mídia do comando dos mercados para entregá-la aos sábios e poetas.

11. Cantaremos as multidões que podem, enfim, libertar-se da escravidão do trabalho assalariado, cantaremos a solidariedade e a revolta contra a exploração. Cantaremos a rede infinita do conhecimento e da invenção, a tecnologia imaterial que nos liberta do cansaço físico. Cantaremos o intelectual rebelde, que executa um trabalho precário, mas que se põe em contato com o próprio corpo. Cantaremos a infinidade presente e não teremos mais necessidade do futuro.

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