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22 maio 2019

AS RAÍZES DO ATRASO BRASILEIRO

Na época do "milagre econômico" parecia havermos descoberto a tecnologia de superação do subdesenvolvimento. Naquele decênio, o Brasil se destacou ao poupar respeitáveis 21% do produto interno bruto. Hoje, a "questão terrível", para nós e para o mundo perplexo, consiste em saber como o Brasil consegue continuar pobre.

Há 29 anos o PIB brasileiro era superior ao da China em US$ 102 bilhões  (462 x 360). Ao longo desse período, vimos aquele país nos igualar e, rapidamente, nos ultrapassar, tornando-se a segunda economia mundial neste momento. Se, pelo menos, tivéssemos acompanhado a média do crescimento global, o nosso PIB seria 76% maior do que o valor atual.

No que diz respeito à renda per capita, o Brasil ocupa a 75ª posição no mundo, segundo os dados do FMI e do Banco Mundial. Somos um país de renda média e também um dos mais desiguais. Não temos avançado. Somos 20% da renda per capita dos EUA desde 1960.

O Chile, seguindo os asiáticos, destoa dos demais países da nossa região e deve sagrar-se o primeiro sul-americano desenvolvido na próxima década.

Quem estiver a procura de soluções para os problemas do desenvolvimento econômico brasileiro não precisa ir muito longe.

Basta dar uma espiada e verificar que todos os países que lograram êxito em seu desenvolvimento e nos ultrapassaram em riqueza, buscaram associações entre empresas nacionais e estrangeiras no campo da alta tecnologia. "Temos de reconhecer que a maneira mais sábia e efetiva de proteger nossos interesses nacionais é pela cooperação internacional —a saber, por meio de esforços conjuntos pela obtenção de objetivos comuns" —discurso de encerramento do secretário do Tesouro americano Henry Morgenthau Jr. na conferência de Bretton Woods, em 20 de julho de 1944.

Os segmentos mais sofisticados reúnem a indústria de eletrônica e informática; máquinas e equipamentos; química; automobilística e farmacêutica. O economista Paulo César Morceiro, que terminou seu doutorado na USP (Universidade de São Paulo) em 2018, orientado pelo pesquisador Joaquim Guilhoto, da USP e da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), nos trouxe um trabalho que resultou em análises inéditas sobre a trajetória da indústria brasileira. 

O setor industrial como um todo atingiu, em 2018, sua menor participação no PIB desde 1947. Ele recuou para apenas 11,3%, menos da metade do pico de 27,3% atingido em 1986. "A indústria de mais alta tecnologia no Brasil não conseguiu sustentar seu pico de participação no PIB nem por uma década. É um resultado ruim se comparado ao de países que se desenvolveram", afirma Morceiro. O Brasil perde empresa de alta tecnologia antes de se tornar um país inovador.

Tais números nos trouxeram a lembrança do que ocorreu com o setor de informática a partir de meados da década de 70, cuja reserva de mercado ocupou toda a década de 80, permanecendo até outubro de 1992, com prejuízos incalculáveis à sua utilização, em larga escala, por todo o País. O Brasil demorou muito para ser informatizado.

As repercussões de tal política foram danosas para o País, em especial para o setor de educação. Naquela época já havia computadores nas escolas primárias e de segundo grau dos países desenvolvidos. 

No ensino superior, na Universidade de Chicago (1989), existia um computador por aluno. No Brasil, nem os professores podiam adquiri-los.  Um PC-XT, fabricado aqui por força da reserva de mercado estabelecida, na configuração de 640 kb de memória, teclado e monitor de vídeo, custava 50 salários mínimos (SM) de NCz$ 63,00. Nos EUA esse mesmo equipamento custava um pouco menos de 1 SM, no Reino Unido 1 1/2 e na Coréia do Sul 3 SMs.

Passados cerca de trinta anos melhoramos, mas ainda não conseguimos ter um computador para cada aluno em nossas escolas primárias, salvo algumas exceções no setor privado. Naquelas, as escolas públicas, as noticias diárias são de desânimo dado o estado físico em que se encontram e o baixo valor do salário pago aos seus professores.

Um outro aspecto a ser cuidado com grande atenção, mais do que em qualquer outro momento de sua história, é o da ciência. A falta e/ou a não execução de planejamento estratégico, de investimento e de formação de cientistas poderá nos levar para posições de menor importância no cenário mundial. O Brasil precisa elevar de forma considerável a produtividade da sua economia, o que só ocorrerá com grande investimento na formação/retenção de talentos e na inovação tecnológica.

E temos bons exemplos aqui mesmo que comprovam isso. O Brasil jamais teria alcançado a posição de sétima economia do mundo não fosse o investimento feito em ciência, tecnologia e inovação, que lhe permitiu produzir alimentos a preços acessíveis para sua população e ainda exportar excedentes para todos os cantos do planeta. E a C&T brasileira nos permitiu produzir aeronaves sofisticadas, extrair petróleo das profundezas do mar e produzir uma matriz energética limpa baseada no uso do etanol combustível.

Hoje o Brasil aparece em 12˚ lugar no ranking de investimento em C&T que totalizam apenas 2% do investimento chinês. A Índia segue a China. Nosso País precisa se inspirar no conjunto das nações que estão apostando em investimentos e políticas cientificas e tecnológicas robustas e de longo prazo, únicos caminhos possíveis para alcançar o seu desenvolvimento sustentável e deixar de ser pobre.

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