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12 junho 2020

É TUDO O QUE NÃO DEVEMOS SER

Em tempos de contabilização de pessoas mortas pelo vírus chinês, Rodrigo Silva, fundador do Spotniksem um thread no seu twittercita diversas fontes de informação. Em uma delas se encontra uma matéria de 2010, publicada no Independent, na qual o autor cita um estudo que afirma que Mao Tsé-Tung é o maior assassino em massa da história mundial.

A matéria do Independent aponta as informações de Frank Dikötter, historiador de Hong Kong, que estudou a história rural chinesa de 1958 a 1962, quando o país estava passando fome. O historiador comparou a tortura sistemática, a brutalidade, a fome e a morte de camponeses chineses à Segunda Guerra Mundial em sua magnitude e concluiu que pelo menos 45 milhões de pessoas morreram de fome ou foram espancadas até a morte na China nesses quatro anos; o número mundial de mortos na Segunda Guerra Mundial foi de 55 milhões.

 A seguir a edição(formatação) do thread do Rodrigo Silva em seu twitter.

"Eles eram jovens e condenavam tudo o que encontravam pela frente capaz de ofendê-los. Ao final, muita gente morreu na caça às bruxas. Aconteceu nos anos 1960. As pessoas também eram canceladas naquele tempo - e não apenas metaforicamente. Conto aqui embaixo.

Esse cara aqui se chama Mao Tsé-Tung (毛澤東). Se você só conhece de nome, Mao foi o líder da revolução comunista chinesa, chefe de Estado do país por quase três décadas e maior genocida do século vinte.  






Em 1958 esse cara lançou um programa de governo insano chamado Grande Salto Adiante. Foi uma tragédia. 45 milhões de pessoas morreram em apenas 4 anos. É como se a população da Espanha sumisse do mapa no intervalo entre duas Copas do Mundo.







Essa aqui é a curva global de mortes entre 1950 a 2017. Tá vendo essa ponta completamente solta na virada para os anos 1960? Esse é o tamanho da destruição causada por Mao Tsé-Tung na China. O cara foi um predador da espécie humana.







Como você deve imaginar, a galera não ficou muito contente com o que rolou. Essa imagem aqui é da reunião partidária da Conferência dos Sete Mil (七千人大会), de 1962. O prestígio de Mao começou a ser atacado a partir desse dia. Mao precisava agir. E foi o que ele fez.





E a resposta foi curta e grossa: dar um reboot no país. Em maio de 1966, Mao montou um novo órgão no governo chinês - o Grupo da Revolução Cultural (中央文革小组). A ideia era audaciosa: comandar um Grande Expurgo, apagar o passado e fortalecer sua imagem como uma divindade.



O primeiro passo foi transformá-lo numa febre. Mao projetou a maior campanha de propaganda da história. 4,8 bilhões de pins com seu rosto foram fabricados. 1,2 bilhão de retratos seus foram produzidos. A China passou a respirar Mao Tsé-Tung nos jornais, nas artes e nas ruas. 




Foi nessa época que o Pequeno Livro Vermelho (毛主席语录), uma coletânea de citações de Mao Tsé-Tung, passou a ser distribuído pra todo mundo. Era preciso carregá-lo, empunhá-lo e recitá-lo em todas as ocasiões públicas. À força, Mao virou um deus ateísta onipresente.




O segundo passo foi tacar o terror perseguindo educadores e intelectuais. Essa era uma Revolução Cultural. Mao convocou os estudantes para condenar seus professores por envenenar suas cabeças com “ideias burguesas” e incomodá-los com exames. A única educação era a revolução. 


Em 2 de junho, alunos de uma escola secundária de Pequim colaram um cartaz numa parede assinado como “Guardas Vermelhos” (紅衛兵). A proposta do grupo era atacar os "Quatro Velhos" da sociedade (四旧): as velhas ideias, a velha cultura, os velhos hábitos e os velhos costumes.


Para garantir a total disponibilidade dos estudantes na Revolução Cultural, Mao mandou encerrar as aulas. Os professores sofreram: os homens foram espancados e as mulheres estupradas. As cenas se repetiram por toda a China, provocando uma onda de suicídios. 




Depois do terror nas escolas, Mao orientou seus Guardas Vermelhos contra a sociedade chinesa. Primeiro, os mais jovens passaram a destruir estátuas, placas de ruas, lojas, igrejas, imagens religiosas. O passado passou a ser apagado porque era ofensivo à revolução.




E então os Guardas Vermelhos queimaram livros, destruíram pinturas, derrubaram obras arquitetônicas. Os estudantes invadiam as casas das pessoas e demoliam qualquer objeto que considerassem ofensivo. A geração de 1966 julgava ser capaz de condenar milhares de anos de História. 

Em Pequim, dos 6.843 monumentos ainda de pé em 1958, 4.922 foram vandalizados. Nós estamos falando de uma depredação de mais de 70% das obras culturais da capital da China em poucos anos. 





E então os guardas passaram a perseguir escritores, pintores, atores, jornalistas, cantores, bailarinos. Placas com insultos eram penduradas nos pescoços de intelectuais e artistas em humilhantes sessões de "autocrítica" (批鬥大會). Eles eram espancados com socos e pontapés. 




Hábitos e costumes da população foram perseguidos. Cabelos longos, saias e sapatos com salto eram vandalizados. Alguns chineses tiveram seus próprios nomes alterados para vangloriar a Revolução. O plano era construir um país culturalmente deserto, com um povo sem identidade.




Em pouco tempo a histeria tomou conta da população. Qualquer pessoa estava sujeita a ser uma vítima da Revolução Cultural. Os incentivos se tornaram os piores possíveis: denunciar virou uma prática para se proteger dos demais agressores e subir de posição no partido.




Em chinês se chama dazibao (大字報) e significa “jornal mural afixado na rua”. Durante a Revolução Cultural, essa era a rede social. Os chineses usavam esses murais para incriminar uns aos outros em postagens anônimas. Ser acusado era o fim: o mesmo que cancelar alguém.





Nomes eram denunciados clandestinamente por não apoiarem o partido, serem "capitalistas", "liberais", "pró-Ocidente", "burgueses", "direitistas", "anti-revolucionários". Havia um achincalhe público, com sessões de tortura. Era ofensivo pensar diferente do partido.






A Revolução Cultural durou até 1976, com a morte de Mao Tsé-Tung. Há quem fale em 1, 3 e até 20 milhões de mortos por execução ou suicídio nesse período. Mas a verdade é que não dá pra cravar nenhum número, graças à falta de transparência do governo chinês.





Em 1981, o Partido Comunista da China condenou o "grave erro" da Revolução Cultural.

Jiang Qing (江青), a viúva de Mao Tsé-Tung, foi condenada à morte após o fim da Revolução - e então à prisão perpétua. Ela se suicidou em 1991.




A Revolução Cultural foi um dos capítulos mais tristes da História - e como tal, não deve ser apagado. Este é o retrato extremo de um país dominado pela cultura do cancelamento, desavergonhadamente autoritário e mal resolvido com seu passado.
 É tudo o que não devemos ser."



5 comentários:

  1. Semelhança com nosso tempo atual? Grande. Estamos com manifestação destruindo estátuas, monumentos históricos. Que Democracia é essa que esses vândalos querem?

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    1. Pois é. Felizmente, na época da "Revolução Cultural" chinesa, no Brasil vivíamos com ordem e progresso - http://bit.ly/2MFro2R - Está na hora de revivermos novamente um período como aquele.

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  2. Neste vídeo, o ministro da Educação, Abraham Weintraub explica a situação atual do MEC, o que encontrou após 8 anos de governos FHC e 16 do PT: orçamento, número de funcionários, parte deles para criar uma estrutura aparelhada ideologicamente. Há também malversação do dinheiro público. corrupção. Metade das crianças, no terceiro ano escolar do nível básico não sabem ler/escrever resultado do modelo de educação Paulo Freire, ... https://youtu.be/23wnzDykTRY

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  3. Who Killed More: Hitler, Stalin, or Mao?
    In these pages nearly seven years ago, Timothy Snyder asked the provocative question: Who killed more, Hitler or Stalin? As useful as that exercise in moral rigor was, some think the question itself might have been slightly off. Instead, it should have included a third tyrant of the twentieth century, Chairman Mao. And not just that, but that Mao should have been the hands-down winner, with his ledger easily trumping the European dictators’.

    While these questions can devolve into morbid pedantry, they raise moral questions that deserve a fresh look, especially as these months mark the sixtieth anniversary of the launch of Mao’s most infamous experiment in social engineering, the Great Leap Forward. It was this campaign that caused the deaths of tens of millions and catapulted Mao Zedong into the big league of twentieth-century murders.

    But Mao’s mistakes are more than a chance to reflect on the past. They are also now part of a central debate in Xi Jinping’s China, where the Communist Party is renewing a long-standing battle to protect its legitimacy by limiting discussions of Mao. ...

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  4. O governo do presidente Xi Jinping elevou a perseguição contra cristãos no país. A imprensa estrangeira garante que as autoridades estão usando o poder do Estado para violar direitos, como a liberdade religiosa.
    Entre as medidas adotadas pelo Partido Comunista da China estão o fechamento de igrejas, a prisão de fiéis e a retirada de símbolos do cristianismo. ... Na cidade Chengdu, no sudoeste do país, uma igreja cristã chamada Early Rain foi fechada pelo governo e substituída por uma loja comercial. Além disso, mais de 100 religiosos foram detidos enquanto praticavam suas liturgias no local. Para se ter ideia, o pastor daquela comunidade chamado Wang Yi, e sua esposa, estão presos por supostamente incitar a “subversão”. Na China, esse crime prevê 15 anos de cadeia — os que não foram presos, se esconderam.
    No início deste mês, conforme o Daily Mail, agentes comunistas invadiram casas, nas províncias de Hebei, Anhui, Jiangsu e Zhejiang. Assim sendo, retiraram imagens de Jesus e substituíram por fotos de Mao Tsé-Tung e Xi Jinping.

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