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23 maio 2017

O GRAVADOR É O CRIMINOSO ?

Cada vez que o presidente Michel Temer fala ao público, pela TV ou por entrevista, como é o caso da publicada hoje no jornal Folha de São Paulo, a sensação que se tem é a de que nos brasileiros deve aumentar a decepção por tê-lo como mandatário da Nação.

Sem entrarmos no mérito de alguns assuntos tratados na entrevista e que já foram comentados aqui, como os trechos referentes ao Eduardo Cunha, segurar membros da justiça, indicar um deputado para tratar dos assuntos de interesse da JBS junto ao governo, fiquemos, desta vez, apenas com algumas questões que estão ao redor do conteúdo da conversa realizada.

Primeiro, o presidente contestou ferrenhamente a veracidade da gravação que foi feita. Ora, bastava ele ter prestado atenção nas suas próprias palavras visto que em nenhum momento refutou a conversa. Bem ao contrário, a comentou e tentou explicar o seu conteúdo.

Segundo, a contratação de peritos externos para verificação da legitimidade das gravações efetuadas, quando ele tem à sua disposição, na Polícia Federal,  equipe técnica qualificada para a execução deste serviço. Uma eventual falha técnica do gravador, ou mesmo uma edição do áudio é de menor importância. Fala mais alto o contexto/conteúdo da conversa reconhecida pelo presidente. Após se ver a exposição do perito contratado, pode-se concluir que estão querendo que o gravador seja o único criminoso da quadrilha.

Terceiro, os acertos para a realização da conversa. O presidente ao realizá-la sem o registro antecipado em sua agenda, com o interlocutor tendo acesso à sua casa e ao estacionamento na garagem sem nem mesmo sua identificação prévia e que, nas próximas vezes, em novas conversas, os mesmos procedimentos devem ser observados inclusive o horário, deixa claro que não há má vontade do presidente em realizar novos encontros dessa natureza, apesar do presidente saber que o empresário "é um falastrão, uma pessoa que se jacta de eventuais influências" como foi dito por ele em sua entrevista à Folha.

Quarto, as observações do presidente quando responde a uma pergunta sobre ter sido muito duro em relação ao acordo de delação realizado pela Procuradoria Geral da República e homologado pelo Supremo Tribunal Federal. Melhor seria não a tê-la respondido, ter permanecido em silêncio, ou respondido sobre os crimes de obstrução de Justiça, corrupção passiva e organização criminosa que constam do pedido de investigação submetido ao STF pela PGR.

O que surpreende os brasileiros é que tudo isso vai de encontro ao que estabelece a legislação pertinente e a moralidade administrativa. O presidente deveria ser o primeiro a obedecê-la e a possuí-la, respectivamente. Não foi isto o que aconteceu.

Last but not list, fica óbvio que não se pode ser favorável a permanência do Sr. Michel Temer na presidência da República.




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