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10 março 2021

A ACEITAÇÃO DA TOTAL INDIVIDUALIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO E DA IMPOTÊNCIA DA SOCIEDADE ANTE O SEU DESTINO

O registro publicado por Amelia Pagano em sua página do Facebook aponta com todas as letras a ameaça presente no mundo em que hoje estamos vivendo.

Ameaça esta já prevista, em meados dos anos (19)90 pelo sociólogo e ex-marxista(?) Manuel Castells em seus três livros que compõem a trilogia "A era da informação: economia, sociedade e cultura" (A sociedade em rede, O poder da identidade e o Fim do milênio), após 12 anos de pesquisa e redação.

Em seu conceito de rede, os nós dessa rede podem ser qualquer coisa: em uma rede social, por exemplo, as pessoas seriam os nós. Da mesma forma, uma corrente política também é uma rede cujos nós são o(s) partido(s), sites e pessoas. As fronteiras das redes são delimitadas pela conexão entre os nós e essas conexões podem ser criadas ou canceladas a qualquer momento. Com elas, ações políticas têm seu alcance ampliado, tornando-se comum a disseminação e a imposição de campanhas como a do NÓS X ELES, citada por Amelia Pagano.

Em seus livros Castells afirma:

"Cada vez mais, as pessoas organizam seu significado não em torno do que fazem, mas com base no que elas são ou acreditam que são. ... Nossas sociedades estão cada vez mais estruturadas em uma oposição bipolar entre a Rede e o Ser.
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Nessa esquizofrenia estrutural entre função e o significado, padrões de comunicação social ficam sob tensão crescente. E quando a comunicação se rompe, quando já não existe comunicação nem mesmo de forma conflituosa, (como nos casos de lutas sociais e de oposição política), surge uma alienação entre os grupos sociais e indivíduos que passam a considerar o outro como um estranho, finalmente uma ameaça."
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A teoria e a cultura pós-moderna celebram o fim da história e, de certa forma, o fim da razão, renunciando a nossa capacidade de entender e encontrar sentido até no que não tem sentido. A suposição implícita é a aceitação da total individualização do comportamento e da impotência da sociedade ante seu destino." 


Aos discursos de políticos se somam as opiniões de outros personagens de segunda linha, youtubers, funkeiras, celebridades e subcelebridades. Embora todos tenham o direito de expressar seus pontos de vista, o que escapa a lógica é por que razão a chancela política de artistas e influenciadores digitais deveria receber tamanha consideração em vários segmentos da sociedade em detrimento dos especialistas que se dedicam ao estudo profissional, por anos a fio sobre os vários assuntos trazidos à pauta. Qual a credencial desses ídolos midiáticos para pontificar de forma categórica sobre quase tudo? A escritora Selma Santa Cruz, em seu ótimo artigo "O culto à ignorância" responde com maestria:

"Esse mito do artista onisciente, reconheça-se, não é novidade nem exclusividade brasileira. Haja vista a desenvoltura com a qual roqueiros globais se metem constantemente nas discussões sobre a Amazônia e o destaque dado às estrelas de Hollywood nas eleições norte-americanas. Porém, a intensidade que o fenômeno vem ganhando por aqui, além de empobrecer o debate público, parece indicar algo mais grave sobre nosso atual estágio civilizatório: o pouco valor que atribuímos, como sociedade e Estado, à educação e ao conhecimento."


Tais ocorrências - ... "eles agora colocaram suas garras de fora", lembradas pela Amelia Pagano, nos sinaliza, nos parece, que estamos cada vez mais próximos da "aceitação da total individualização do comportamento e da impotência da sociedade ante seu destino"prevista por Castells, hoje fortemente estimulada pelas redes sociais digitais da atualidade e carente dos pré-requisitos citados pela escritora Selma Santa Cruz.


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