Translate

01 fevereiro 2025

O mundo pós-Guerra Fria

    A China está construindo um centro de operações militares em uma extensa área a oeste de Pequim, capital da China. De acordo com informações do Financial Times, o local de obras possui aproximadamente 6km², dez vezes maior que o próprio Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.

    Segundo o departamento de inteligência dos EUA, a estrutura está localizada a 30 km da capital chinesa e possui profundas cavidades que podem abrigar enormes e fortificados bunkers. Denis Wilder, ex-chefe de análise da CIA, disse que "se confirmado, este novo bunker de comando subterrâneo avançado para a liderança militar sinaliza a intenção de Pequim de construir não apenas uma força convencional de classe mundial, mas também uma capacidade avançada de combate nuclear". Atualmente o principal centro de comando seguro da China está nas Colinas Ocidentais, a nordeste das novas instalações, e foi construído há décadas no auge da Guerra Fria.

    A reportagem ainda traz informações de que o início das obras nas Colinas Ocidentais coincide com o crescente desenvolvimento de novas armas (inclusive nucleares) e projetos militares por parte do governo e do exército chineses. Ainda, de acordo com a matéria publicada, o próprio ditador chinês já teria ordenado que as forças militares se preparem para um possível ataque a Taiwan, república independente não reconhecida pela China.

O mundo pós-Guerra Fria


East Berlin border guards atop the Berlin Wall, Germany, November 1989 Reuters

    No início da década de 1990, quando os Estados Unidos emergiram triunfantes de sua luta de décadas com a União Soviética, a única superpotência restante do mundo se viu em um terreno desconhecido. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os assuntos globais foram definidos — embora de forma simplista — por uma disputa entre democracia e totalitarismo. Após a vitória decisiva da democracia, o que poderia vir a seguir? Em 1991, o historiador John Lewis Gaddis postulou que a era pós-Guerra Fria seria marcada por uma nova competição — travada entre as forças da integração e da fragmentação.

    O livre fluxo de bens, ideias e pessoas já estava "quebrando barreiras que historicamente separavam nações e povos em áreas tão diversas como política, economia, religião, tecnologia e cultura", escreveu Gaddis. E depois que o aumento da conexão por meio de mercados globais, segurança coletiva e comunicações fáceis ajudaram a acabar com a Guerra Fria, muitos anteciparam a consolidação de um "mundo pacífico, integrado, interdependente e capitalista". Mas esse futuro dificilmente era inevitável, pois as pressões do nacionalismo, protecionismo e queixas estavam "ressuscitando velhas barreiras entre nações e povos — e criando novas — mesmo quando outras [estavam] caindo". As forças da integração, ele alertou, "podem não estar tão profundamente enraizadas quanto gostamos de pensar".

    Essa relação de empurra-empurra entre integração e fragmentação perdura hoje. Uma economia cada vez mais globalizada que tirou milhões da pobreza também aumentou a desigualdade e as tensões sociais. As mesmas tecnologias que conectaram o mundo também ajudaram a alimentar a polarização política. Gaddis alertou que nem a integração extrema nem a fragmentação extrema eram um resultado desejável — e que o desafio para os formuladores de políticas seria equilibrar os dois. "Precisamos manter um ceticismo saudável sobre a integração: não há razão para transformá-la em algum tipo de vaca sagrada", escreveu ele. "Mas balançar em direção à autarquia, ao nacionalismo ou ao isolacionismo também não funcionará."

    Tal como a hostilidade entre a Alemanha e a Grã-Bretanha há mais de um século, o antagonismo entre a China e os Estados Unidos tem raízes estruturais profundas. Mas após o colapso do Estado soviético, o seu inimigo comum, o que significou quase imediatamente que os decisores políticos se fixassem mais naquilo que separava Pequim e Washington do que naquilo que os unia. Os Estados Unidos deploravam cada vez mais o governo repressivo da China. A China ressentia-se da hegemonia global intrometida dos Estados Unidos.

    A nível geopolítico, a visão da China sobre os Estados Unidos começou a escurecer em 2003 com a invasão e ocupação do Iraque. A China opôs-se ao ataque liderado pelos EUA, mesmo que Pequim pouco se importasse com o regime do presidente iraquiano Saddam Hussein. Os decisores políticos chineses temiam que, se os Estados Unidos pudessem tão prontamente desprezar as mesmas normas que esperavam que outros defendessem, pouco iria restringir o seu comportamento futuro. O orçamento militar da China duplicou entre 2000 e 2005 e depois duplicou novamente em 2009. Pequim também lançou programas para melhor treinar as suas forças armadas, melhorar a sua eficiência e investir em novas tecnologias. Revolucionou suas forças navais e de mísseis. Em algum momento entre 2015 e 2020, o número de navios da marinha chinesa ultrapassou o da Marinha dos EUA.

    Portanto, a construção do novo centro de operações militares não surpreende mais ninguém. A pergunta que resta: o resultado desta disputa - EUA x China - terá o mesmo destino da anteriormente vivida e denominada de Guerra Fria? A torcida, obviamente, é que seja o mesmo, caso contrário, sem dúvida, os resultados serão piores do que aqueles resultantes da Segunda Guerra Mundial. Taiwan será a nova Berlim?

Nenhum comentário:

Postar um comentário