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16 setembro 2018

ORDEM E PROGRESSO

Durante a campanha eleitoral/2018, ao ser divulgado o crescimento do candidato Jair Bolsonaro nas pesquisas de opinião, fui alertado com o texto a seguir: "Os dados estão rolando no pano verde-oliva permeando diferentes classes, raças, gêneros, gerações e culturas... ao final, quem será vencedor ou arrependido sofredor? Só o tempo dirá! Este sórdido filme já foi exibido, em tela cinemascope de 64 a 85 polegadas! A avaliação e respectivos resultados foram dilacerantes!"

Confesso que gostei do alerta. Este me forçou a recordar os meus tempos vividos no período citado, como criança, adolescente, jovem estudante universitário e início de minha carreira profissional. Da mesma forma, expressar sobre a tela subsequente: a de 1985 a 2018. Vamos lá.

Para mim, e para todos aqueles com quem convivi durante o primeiro período, a tela cinemascope de 64 a 85 polegadas foi deslumbrante e não dilacerante como mencionada no alerta. Foram tempos de ordem e de progresso.

Lembro-me bem, para começar, do ambiente alegre de minha residência, a casa de meus pais. Foram quinze anos contínuos de boa educação familiar e social que forneceram ao jovem de então as bases para enfrentar os próximos desafios da vida nos anos seguintes, em alguns momentos em cidades distintas, por opção das escolas selecionadas para minha educação formal.

Em todo aquele período, testemunhei os avanços conseguidos pelo Brasil em curto espaço de tempo. Como, por exemplo, em uma só canetada do governo, a obrigatoriedade de matrícula em escolas para crianças de 7 a 14 anos. A criação de novas vagas em todos os níveis. No ensino superior 110 mil em 1969, juntamente com o estabelecimento do credito educativo para alunos que não conseguissem matrícula em universidades públicas, mas tivessem passado em vestibulares de universidade privadas e que tinham renda inferior a 15 salários mínimos.

Nas telecomunicações, um avanço considerável. Em 1970, a copa do mundo em tempo real nas TVs das residências brasileiras, sem esquecer de que, em 1969 vi, pela TV, um ser humano, ao vivo, Neil Armstrong, pisar na Lua pela primeira vez. Nesses mesmos tempos, consegui realizar chamadas telefônicas, nacionais e internacionais, a partir da minha própria residência.

Também nesses idos, percorri, de automóvel, o trecho Rio de Janeiro-João Pessoa-Brasilia, ida e volta, alguns mil quilômetros, em boas estradas asfaltadas, inclusive cruzando a ponte Rio-Niterói, recém inaugurada.

Posteriormente, de 1977 a 1985, já exercendo atividades profissionais, também em cidades distintas, não houve mudança na minha avaliação sobre a tela cinemascope referenciada. Tínhamos notícias do Proalcool, do programa nuclear brasileiro, da construção da usina de Itaipú (a maior do mundo), dos avanços conseguidos no agronegócio a partir dos resultados da EMPBRAPA e por ai vai.

O clima vigente sempre foi de otimismo e constatação de avanços econômicos e sociais na nação brasileira, apesar das crises surgidas e vencidas em todo esse período.

Tínhamos avançado bastante e muito ainda por fazer em diversas áreas, incluindo as citadas acima, mas já éramos a 8a. economia do mundo após conquistar 41 posições nesse período. Também, não tínhamos medo de permanecer ou sair de casa a qualquer hora do dia ou da noite, e ninguém queria deixar o Brasil para morar em outro País.

Chegamos a 1985 após um processo de anistia política, e o retorno do poder a um civil de forma indireta depois da derrota da emenda das Diretas Já, no Congresso Nacional, levando a bela Christiani Torloni a cair no choro, ao vivo e a cores para todo o Brasil.

Passamos a respirar uma nova atmosfera que alimentou a formulação de uma nova Constituição. A Constituição Cidadã, como a denominou o Deputado Ulysses Guimarães.

Infelizmente, de lá para cá, com a tela cinemascope de 1985 a 2018 polegadas, hoje constato que as emergentes lideranças, de minha geração, que assumiram o poder nesse período, ficaram olhando para trás e fizeram com que perdêssemos o futuro.

Se olharmos de forma mais ampla, estamos diante de resultados de três décadas de políticas implantadas/praticadas no País, que contaram com o apoio, e/ou a liderança, e/ou a contribuição de parcela considerável da denominada elite de vários setores de nossa sociedade, intelectual e empresarial. 

Neste momento, apesar de todos os passos dados no sentido da modernização do País e temos de reconhecer que o Brasil avançou em algumas áreas, mas em outras continua o mesmo de décadas atrás.

O que, então, depois de 30 anos, essa última tela e o grupo que governou o Brasil nos mostra e nos entregou ? 

Um País atrasado, ultrapassado por vários outros. Basta compararmos, mundialmente, nossos índices de desigualdade, de renda per capta, de nível educacional, de saúde, de infraestrutura e de segurança. A criminalidade já ultrapassou a marca dos 64 mil assassinatos por ano, 60% a mais do que em 2001(40 mil). E o nosso IDH ? Em 2001 ocupávamos a vergonhosa 69a. posição, e hoje a 79a., que vexame!

A análise de tais índices demonstram que esse grupo, ao longo desses últimos anos, não observou, de forma isenta, os fatos que estavam acontecendo no mundo afora e passou a ressuscitar e apregoar conceitos ideológicos e práticas políticas vencidas, pelo menos, desde a queda do muro de Berlim. 

Os componentes desse grupo, olharam, e continuam olhando, pro passado e não para o futuro. E para dar um exemplo neste sentido, uma das sementes ultrapassadas foi plantada no sistema educacional brasileiro em todo o seu espectro: do fundamental ao superior. 

Nessa estratégia, as universidades, e as demais escolas públicas no Brasil, passaram a ser administradas, com raras exceções, com forte viés político em detrimento de suas qualidades científicas e gerenciais.

Na Praça dos Três Poderes, o Congresso Nacional, o local de ressonância dos problemas nacionais, vê-se debruçado diante de uma crise permanente. A imagem da Casa é de corrupção e de desmandos que invadem os olhares da sociedade, desmanchando a moldura de riquezas e grandezas de nosso território.

Portanto, a nossa democracia esvaziada de conteúdo social, sem igualdades de oportunidades e que não tem servido para atenuar as constrangedoras distâncias entre as classes sociais é uma caricatura de si mesma.

O resultado desse modelo é um estado desolador, de degradação de amplas dimensões, encontrado atualmente no País.

Hoje, diferentemente de 1985, temos medo de permanecer ou sair de casa a qualquer hora do dia ou da noite, e muitos de seus habitantes já saíram ou querem deixar o Brasil para morar em outro País. Saíram do Brasil para residirem em outros países mais de 70 mil brasileiros nos últimos três anos.

Assim, nesta tela de 1985-2018 polegadas, caminhamos para trás em termos de formação das novas gerações e os frutos já estão sendo colhidos. Se não consertarmos esse modelo agora, além de já termos perdido o século XXI, corremos o risco de também perdermos o próximo.

E o começo dessa mudança é uma reforma política. Uma reforma em profundidade no sistema político há de proibir, por exemplo, o troca-troca partidário, a proliferação de siglas de aluguel, as leis eleitorais casuísticas e promover a moralização das campanhas eleitorais.

TUDO ISSO COM ORDEM E PROGRESSO !






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