Translate

06 setembro 2021

A LIGAÇÃO DA HISTÓRIA DE BRASÍLIA COM O 7 DE SETEMBRO (*)

Brasília foi concebida nos sonhos geopolíticos do Marquês de Pombal, em 1755, que queria transferir a capital de Salvador, no litoral, para o interior do Brasil.

Concepção reiterada por José Bonifácio de Andrada e Silva, na primeira tentativa de Constituição do Império, em 1823. Na Constituição de 1891, primeira da República, que mandou reservar para a União, no Planalto Central, uma área de 14.400 km², que seria oportunamente demarcada para nela se estabelecer.

Em 1892, por ordem do presidente Floriano Peixoto, que determinou que uma comissão de cientistas (Missão Cruls) explorasse o Planalto Central e demarcasse a área para ser destinada ao futuro Distrito Federal.

Brasília renasceu na Constituição de 1934, no artigo quarto das Disposições Transitórias, que deixou claro: “Será transferida a capital da União para um ponto central do Brasil”. O mesmo sonho registrou a Constituição de 1946, quando Juscelino Kubitschek era também constituinte. O artigo quarto das Disposições Transitórias voltou a sacramentar: “A capital da União será transferida para o Planalto Central do país”.

Mas antes mesmo das disposições constitucionais de 1934 e 1948, Brasília teve um renascimento histórico, solene e nacional determinante: em 7 de Setembro de 1922, Dia da Pátria. Foi para comemorar os 100 anos da Independência que o presidente Epitácio Pessoa (**) mandou erguer um obelisco dentro do quadrilátero Cruls, justamente a Pedra Fundamental de Brasília. Uma História cheia de curiosidades e de muito civismo num tempo sem estradas e de comunicação precária.

Obelisco

Portanto, há 100 anos, duas histórias importantes, dois momentos distintos e duas celebrações de relevância nacional aconteceram em um só monumento construído a 35km do Palácio do Planalto, quando nem havia Brasília: nesse dia, foram comemorados os 100 Anos da Independência do Brasil e o lançamento da Pedra Fundamental de Brasília.

O Brasil era um imenso vazio no Centro-Oeste. Prova disso é que o decreto do presidente da República só chegou ao conhecimento do responsável, engenheiro Balduíno Ernesto de Almeida, diretor da Estrada de Ferro de Goyaz, em 27 de agosto de 1922. Ele ficava em Araguari-MG. Recebeu a comunicação do Inspetor Geral das Estradas de Ferro, Palhano de Jesus, transmitindo-lhe ordem do Ministro da Viação e Obras, José Pires do Rio, faltando apenas 10 dias para cumprir a missão.

A jornada de Balduíno começou em Araguari, em 1º de setembro de 1922. Foi organizada uma caravana composta por 22 membros, que se dirigiram para Mestre d’Armas em nove automóveis (Ford Bigode) e seis caminhões, que transportaram 40 pessoas e todo o material necessário para erguer o obelisco.

Seguiram pela ferrovia Mogiana, num trem especial, até o final da linha férrea localizada em Ipameri. No dia 02 de setembro, a caravana deixou Ipameri e seguiu por 302km com destino a Mestre d’Armas — Planaltina. Relatório da Missão: “Nas primeiras 7 horas, foram percorridos apenas 20km, com os caminhões estancando a cada momento, nas grandes rampas que tinham de vencer. No total, no primeiro dia de viagem, das 5h às 21h, foram vencidos apenas 76km. No segundo dia, três de setembro, a caravana avançou mais 84km até o cair do sol, quando chegou ao povoado de Cristalina”.

Balduíno, que vinha à retaguarda, decidiu, acossado pelo tempo, seguir à frente com os Ford Bigode, deixando os caminhões atrás da caravana. Tarde da noite, chegou ao arraial de Mestre d’Armas, fixado como referência e base dos trabalhos.

Pedra Fundamental de 
Brasília - Arthur Menescal -13/8/17

Os caminhões chegaram à manhã do dia 5, e, nessa mesma manhã, o engenheiro Balduíno escolheu um local bem mais próximo: um promontório sobre o vale do rio São Bartolomeu, a apenas 8km de Mestre d’Armas. Às 17h do dia 5, todo o material dos caminhões estava descarregado no morro do Centenário. No dia 7, às 10h, estava pronto o monumento”. 

(*) Sumário de um texto produzido por Silvestre Gorgulho - Jornalista e ex-secretário de Cultura do DF.

(**) Epitácio Pessoa foi um político, magistrado, diplomata, professor universitário e jurista brasileiro, presidente da República entre 1919 e 1922. Nasceu em Umbuzeiro, na Paraíba, mesma cidade natal de Assis Chateaubriand. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário