"A China Evergrande deixou investidores globais em dúvida sobre se irá realizar um importante pagamento de juros, ampliando os temores de que o governo chinês permitirá que detentores de títulos do exterior sofram grandes perdas, conforme se aprofundava, nesta sexta-feira, a crise de liquidez na empresa imobiliária mais endividada do mundo.
A Evergrande, que deve 305 bilhões de dólares, ficou sem dinheiro e os investidores estão preocupados que um colapso possa apresentar riscos sistêmicos ao sistema financeiro da China e reverberar em todo o mundo.
O prazo de quinta-feira para o pagamento de 83,5 milhões de dólares em juros de um título em dólar passou sem a Evergrande se pronunciar, e detentores de títulos não foram pagos nem ouviram nada da empresa, disseram à Reuters duas pessoas familizarizadas com a situação.
A empresa tem um período de carência de 30 dias e dará calote se esse prazo passar sem pagamento.
O silêncio da Evergrande agora contrasta com seu tratamento aos investidores domésticos. Nesta semana, a empresa resolveu o pagamento de cupom de um título doméstico.
"A visão de Pequim é que os detentores de títulos externos são amplamente instituições ocidentais e, portanto, podem receber tratamento diferente", disse Karl Clowry, sócio da Addleshaw Goddard.
O banco central da China injetou de novo dinheiro no sistema bancário nesta sexta-feira, o que é considerado um sinal de suporte aos mercados. Mas as autoridades mantêm o silêncio sobre a situação da Evergrande e a mídia estatal da China não deu nenhum sinal sobre um eventual pacote de resgate." Por Anshuman Daga, Andrew Galbraith e Tom Westbrook, da Reuters, 24/09/2021.
Entretanto, a herança socialista, o grau de intervenção estatal continua existindo e é o responsável pela alocação ineficiente de capital, por bolhas especulativas, por “cidades fantasmas”, por províncias repletas de dívidas fora do balanço, por problemas gravíssimos que agora começam a cobrar seu preço.
Olhando-se para o que lá ocorria há dez anos e o que está acontecendo mais recentemente, nos revela um cenário bastante diferente. Chama a atenção o óbvio e contraditório contraste econômico ocorrido em menos de uma década. O contraste é, ao mesmo tempo, enigmático e assustador, e nos revela algo de importante sobre a natureza do recente milagre econômico chinês: ele é fundamentalmente falso e sem solidez.
Nas grandes cidades, localizadas nas zonas de desenvolvimento econômico, o cenário é de enormes arranha-céus comerciais ao lado de grandes complexos de prédios residenciais de pelo menos 30 andares, agrupados em dúzias de edifícios enormes e idênticos.
O que a noite revela
Porém, o cair da noite revela um cenário bastante diferente nestas mesmas cidades. Embora o pôr do sol faça com que as torres se destaquem ainda mais, é gritante a ausência daquele sinal mais básico da civilização: a iluminação artificial. A maioria destes edifícios já finalizados se transforma em meras silhuetas contra o pôr do sol. E, à noite, são tão escuros e completamente mortos. E não são edifícios recém-construídos, que apenas estariam esperando a mudança de novos moradores; são edifícios completamente desabitados e que nunca foram usados.
Mas os imóveis não representam toda a má alocação de recursos da economia chinesa. Com efeito, representam apenas uma fatia dela. Houve maciços e esbanjadores projetos de construção em toda a China, os quais envolveram a construção de basicamente qualquer coisa que você seja capaz de imaginar.
Durante um período de apenas dois anos, 2011 e 2012, o qual representou o ápice da tão aclamada "agressiva política de estímulos" do governo chinês em resposta à recessão do mundo desenvolvido, a China consumiu mais cimento do que os EUA consumiram durante todo o século XX!
Furos e megalomania
O tão falado projeto do 'novo cinturão chinês', chamado de "Um cinturão, uma estrada" -- um projeto do governo chinês que busca, por meio de ferrovias, portos e rodovias, recriar caminhos milenares que conectavam o Ocidente e o Oriente -- nada mais é do que tudo isso em escala internacional. O objetivo do projeto é recriar a rota da seda com uma infraestrutura moderna, ligando o extremo oriente à Europa via terra e água. O projeto consiste em várias obras de infraestrutura em aproximadamente 60 países, e recorre a acordos comerciais para alavancá-lo. Na prática, trata-se de um grande projeto político. Ele é planejado pelo estado, financiado pelo estado e executado por empreiteiras ligadas ao estado. A intenção do projeto, ao menos durante sua fase de construção, é criar obras para empresas chinesas no exterior, garantindo empregos e receitas. Trata-se de algo baseado exclusivamente em planejamento central, e não em reais demandas de mercado.
Como bem resumiu o economista David Stockman, em 2017,
"a China é uma aberração cujo modelo econômico simplesmente não tem semelhança a nenhum outro modelo econômico já adotado por algum outro país em algum momento da história (nem mesmo ao modelo mercantilista de estímulo às exportações originalmente criado pelo Japão, e que já se comprovou insustentável). A economia chinesa é hoje uma mistura maluca de empreendedorismo de livre mercado em algumas áreas, de investimentos subsidiados e dirigidos pelo governo, de mercantilismo keynesiano, e de planejamento central comunista. Quando entrar em colapso, não será bonito."
Conclusão
O que a China nos ensina sobre economia e política econômica é aquela lição que quase nunca é fornecida nas salas de aula: é de crucial importância distinguir entre uma produção voltada para a criação de valor e uma produção que apenas consome e destrói capital.
A história do desenvolvimento econômico da China é, majoritariamente, uma história de crescimento insustentável e centralmente planejado, o qual mira apenas os números do PIB. Há uma visível falta de criação de valor, de acumulação de capital e de empreendedorismo voltado à satisfação das necessidades da população.
No Brasil, essa crise não mudou o tom bajulador da velha mídia e de outros personagens, já bastantes conhecidos e que exercem comando nos governos estaduais, a um regime opressor, ditatorial e centralizador, que não demonstra respeito algum por liberdades individuais, minorias, ou pelo clima, bandeiras que os "progressistas" costumam adorar.
Curiosamente, é essa parte que parece atrair tanto os “intelectuais” e jornalistas brasileiros. Eles pensam que os modelos democráticos ocidentais se esgotaram, e que a solução pode estar numa liderança firme, centralizadora, por meio do estado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário