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22 julho 2024

Olimpíadas. A amizade de estrelas do atletismo que desafiou o nazismo

Esta semana tem início, na França, as Olimpíadas de Paris. Infelizmente, passados quase 90 anos das imagens abaixo, o mundo atual, tanto o político quanto o da sociedade em geral, parece estar mais dividido do que no século passado. Paris estará em festa? Resposta na segunda parte deste artigo.

Em 1936, um gesto instintivo de esportividade entrou para a história olímpica. Mas, para o atleta Luz Long (1913-1943), campeão alemão de salto em distância, ele traria fortes consequências. Quando o negro americano Jesse Owens (1913-1980) superou a marca dos oito metros para garantir a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Berlim, na Alemanha, seu principal adversário – Long – saltou até a caixa de areia, para abraçá-lo e dar os parabéns.




Mais tarde, em surpreendente contradição à noção distorcida de supremacia ariana da Alemanha nazista e décadas antes do movimento dos direitos civis trazer mudanças radicais para os 
Estados Unidos, os dois atletas deram uma volta ao estádio juntos.

   






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Quando chegaram ao pódio, Long ofereceu a obrigatória saudação nazista, enquanto Owens saudava a bandeira dos Estados Unidos – um país que ainda não estava pronto para aceitá-lo totalmente como um de seus cidadãos.  Em seguida, os dois atletas deram uma volta ao estádio juntos. O atleta negro e o colega branco correram de braços dados. Os dois atletas não tinham a menor ideia do que viria em seguida.



Owens foi recebido como herói em uma cerimônia especial de boas-vindas em Nova York, nos Estados Unidos. Mas um incidente ocorrido em uma festa em sua homenagem no hotel Waldorf Astoria demonstrou que nada havia mudado. Na chegada ao hotel, um porteiro retirou Owens do lobby e o levou para uma entrada lateral, que era destinada aos fornecedores e pessoas negras. A entrada de serviço foi um duro lembrete da divisão e do preconceito racial enraizados no coração da sociedade americana. Em 1990, foi concedida a ele postumamente a Medalha de Ouro do Congresso dos Estados Unidos. E, em 2016, o presidente americano Barack Obama convidou os parentes de Owens para uma recepção na Casa Branca – a mesma que foi negada a ele e aos demais membros negros da equipe olímpica americana de 1936, após os Jogos de Berlim.

Long deixou Berlim como medalhista de prata olímpico, campeão nacional e dono do recorde europeu de salto em distância. Ele ampliaria sua marca para 7,90 metros no ano seguinte, um recorde que permaneceria até 1956. Mas ele não conseguiu escapar das suspeitas e investigações nazistas.

"O abraço de Long na caixa de areia teve consequências", segundo escreveu sua neta Kellner-Long. "Ele foi monitorado mais de perto pelas autoridades, o que o forçou a pisar com mais cuidado e manter um perfil mais discreto."

Long não voltaria a competir após o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Ele se concentrou na sua carreira de advogado. Ele se casou em 1941 e o casal teve um filho em novembro do mesmo ano.

Long já havia então sido convocado pelos militares. Inicialmente, suas tarefas estavam fora da linha de combate. Mas, em 1943, ele foi enviado para a Sicília, na Itália, com o 10º Regimento de Paraquedistas. Um mês depois, ele enviaria sua última carta para a esposa. Na época, ela estava no final da gravidez do segundo filho do casal. 

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Paris estará em festa?

Há opiniões contraditórias mas todos reconhecem que o clima de tensão entre os seus habitantes são similares aos vividos pela população de Berlim em 1936, e pior, desta vez emanado da própria sociedade e não pelo capricho e ódio de um ditador.

Grande parte da população irá deixar a cidade com medo dos riscos de segurança provocados por ameaças de ataques terroristas, o que levou o governo francês a elevar o alerta de segurança ao seu nível mais alto. 

Uma outra questão, segundo a BBC News, a "pátria dos direitos humanos" — como o país é conhecido por ter feito a primeira declaração nesse tema durante a Revolução Francesa —  expulsou milhares de moradores de rua para “embelezar” a cidade, como ocorreu em Olimpíadas em outros países, inclusive em Berlim, criticam associações.

"As autoridades fizeram a promessa de que um dos legados dos Jogos de Paris seria o de uma sociedade mais inclusiva. Mas Paris não será uma exceção na tendência de esconder os pobres nas Olimpíadas”, disse à BBC News Brasil o porta-voz da ONG "O Reverso da Medalha", que reúne uma centena de associações que atuam na área de assistência social.

Para a Olimpíada de Paris, segundo a ONG, mais de 12,5 mil pessoas foram removidas, sobretudo na capital francesa e na Seine-Saint-Denis, região ao norte de Paris onde fica a Vila Olímpica, o centro aquático e outros locais de competição, como o Stade de France, onde haverá provas de atletismo.

Hamas x Israel em pauta 

Segundo o Le Parisien, o deputado da LFI Thomas Portes, defensor do Hamas, falou no palco no sábado durante uma manifestação em apoio ao povo palestino em Paris e, perante uma multidão, condenou a participação da delegação israelita nos Jogos Olímpicos, apelando à “mobilização” nesse sentido.

“Estamos a poucos dias de um evento internacional que será realizado em Paris, que são os Jogos Olímpicos. E estou aqui para dizer que não, a delegação israelita não é bem-vinda em Paris. Atletas israelenses não são bem-vindos nos Jogos Olímpicos de Paris."

O presidente do Crif, o Conselho Representativo das Instituições Judaicas na França, Yonathan Arfi, condenou o pronunciamento, chegando ao ponto de traçar um paralelo entre o assassinato de onze atletas israelenses por terroristas palestinos nas Olimpíadas de Munique em 1972.


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