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27 maio 2022

Alemanha destrói floresta de 12 mil anos e vilarejos para extração de carvão (*)


"A Floresta é um símbolo do que há de errado com nossa sociedade e nossa economia. Precisamos protegê-la, não destruí-la para o lucro de apenas uma grande empresa. A crise climática é uma realidade que temos que agir agora, mas a RWE e outras grandes empresas de combustíveis fósseis não vão parar de escavar carvão. Na realidade climática de hoje, não deveríamos cortar carvalhos de 300 anos para chegar ao carvão a 400 metros de profundidade na terra, apenas para queimá-lo. Só produzirá mais CO2", disse  Gelände Kathrin Henneberger, porta-voz do grupo ativista Ende Gelände.

A cicatriz marrom-cinza na terra que é a mina de Garzweiler já engoliu mais de uma dúzia de vilarejos. Igrejas centenárias, casas, rodovias foram demolidas e o solo sobre a qual foram construídas foi removido. Terras agrícolas desapareceram, os cemitérios foram esvaziados.

Com mais de mais de 5.500 hectares, a Floresta Hambach era a maior floresta da Renânia do Norte-Vestfália. Única em sua ecologia, e uma das florestas mais antigas da Europa, é descrita como “o último remanescente de um ecossistema silvestre que ocupou esta parte da planície do rio Reno entre Aachen e Colônia desde o final da última era glacial”. 

Começando em 1978, a RWE começou a derrubar a floresta de 12 mil anos para escavar e queimar as vastas quantidades de carvão marrom depositados abaixo das árvores centenárias. Agora, menos de um décimo do dossel original sobrevive, com um núcleo de apenas 200 hectares restantes.

Em seu lugar está um dos maiores buracos da Europa. Entre 370 e 450 metros de profundidade, a mina se estende por uma paisagem lunar de 85 quilômetros quadrados. É a maior mina de lignite a céu aberto da Alemanha e, segundo a empresa, produz 40 milhões de toneladas de lignite por ano, fornecendo trabalho para cerca de 1.300 pessoas.

A Alemanha continua sendo o maior consumidor de carvão da Europa e as usinas a carvão perto da mina estão entre as maiores emissoras de dióxido de carbono da União Europeia.

A Alemanha está considerando adiar o fechamento de algumas usinas de energia de lignite — tanto as de reserva quanto as que operam no mercado — e trazer de volta as usinas de lignite que fecharam recentemente, disse Sabrina Kernbichler, analista de energia europeia da S&P Global.

A lignite é um dos combustíveis menos eficientes, porque tem um alto teor de água, representa cerca de 45% do grid de eletricidade do Estado, com o excedente de energia exportado para a França e a Holanda.


A geração de eletricidade de carvão lignite foi elevada ao "status militar estratégico" na Alemanha nazista sob a Lei de Promoção da Indústria de Energia de 1935, adotada para fortalecer as capacidades de guerra e permitir o despejo de comunidades inteiras para escavação de carvão. Apesar das promessas de remover todas as leis nazistas, "o espírito dessas conveniências em tempos de guerra prevalece em muitas regulamentações energéticas até hoje".

A Lei Federal de Mineração, revisada em 1980, estipula a "renúncia obrigatória de propriedade privada às mineradoras [...] por domínio eminente sempre que o bem-estar público for atendido, particularmente por fornecer ao mercado matérias-primas, garantir emprego na indústria de mineração, estabilizar as economias regionais ou promover procedimentos de mineração sensatos e ordenados".


(*) A postagem original desta matéria você pode acessar clicando aqui Nela consta também informações sobre os aspectos jurídicos travados entre a população (perdedora da causa), a empresa e o Estado.

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