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10 fevereiro 2023

COMO OS EUA EXPLODIRAM O OLEODUTO NORD STREAM

Foto aérea de um caça F16 da Defesa da Dinamarca
mostra o vazamento de gás do Nord Stream 2. 
Em 26 de setembro de 2022, um avião de 
vigilância P8 da Marinha Norueguesa fez um voo 
aparentemente rotineiro e lançou uma boia de sonar. 
O sinal se espalhou debaixo d'água, inicialmente 
para o Nord Stream 2 e depois para o Nord Stream 1. 
Poucas horas depois, os explosivos C4 de alta 
potência foram acionados e três dos quatro 
gasodutos foram colocados fora de serviço.
Foto: Defesa Dinamarquesa

No artigo How America Took Out The Nord Stream Pipeline, Seymour Hersh faz um relato minucioso de como mergulhadores treinados especificamente para missões militares foram enviados para o mar Báltico em junho de 2022, durante exercícios navais de rotina com outros países, com o objetivo de instalar secretamente explosivos com detonação remota nos gasodutos russos .

 O processo de planejamento começou em dezembro de 2021, quando uma força-tarefa especial foi criada com a participação direta do Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, afirma o jornalista.


Todo mês de junho, nos últimos 21 anos, a Sexta Frota Americana patrocinou um grande exercício da Otan no Mar Báltico envolvendo dezenas de navios aliados em toda a região. O exercício atual seria conhecido como Baltic Operations 22, ou BALTOPS 22, explica Hersh.

Washington convenceu os planejadores da BALTOPS 22 a acrescentar um "exercício de pesquisa e desenvolvimento", envolvendo a Sexta Frota em colaboração com os “centros de pesquisa e guerra” da Marinha. O evento, realizado na costa da ilha dinamarquesa de Bornholm, envolveu mergulhadores plantando minas e equipes usando a mais recente tecnologia subaquática para encontrá-las e destruí-las, conta Hersh.

Sob este disfarce, uma operação secreta não fiscalizada pelo Congresso com mergulhadores da Marinha, plantou durante o BALTOPS as cargas de explosivos que destruiram os gasodutos, afirma o renomado jornalista, mas a Casa Branca temia que uma detonação próxima do fim das manobras navais indicaria envolvimento dos EUA nas explosões, acrescentou.

As bombas foram detonadas três meses depois, em 26 de setembro, com um sinal remoto enviado por uma bóia hidroacústica, lançada na zona onde se encontravam os explosivos por um avião de vigilância P8 da Marinha norueguesa, de acordo com Hersh.

Dois dos gasodutos, que eram conhecidos coletivamente como Nord Stream 1, vinham fornecendo à Alemanha e a grande parte da Europa Ocidental gás natural russo barato há mais de uma década. Um segundo par de gasodutos, chamado Nord Stream 2, havia sido construído, mas ainda não estava operacional.

"A decisão de Biden de sabotar os gasodutos ocorreu após mais de nove meses de debates altamente secretos dentro da comunidade de segurança nacional de Washington sobre a melhor forma de atingir esse objetivo. Durante grande parte desse tempo, a questão não era como cumprir a missão, mas como realizá-la sem nenhuma pista clara de quem era o responsável", escreve Seymour Hersh.

Uma ação que pudesse ser atribuída ao governo americano violaria as promessas dos EUA de minimizar o conflito direto com a Rússia. O sigilo era essencial.

A Marinha propôs usar um submarino recém-comissionado para atacar diretamente o gasoduto. A Força Aérea discutiu o lançamento de bombas com fusíveis retardados que poderiam ser ativados remotamente. A CIA argumentou que o que quer que fosse feito, teria que ser secreto. Todos os envolvidos entenderam o que estava em jogo”, afirma Hersh.

Enquanto a Europa permanecesse dependente dos gasodutos de gás natural barato, Washington temia que países como a Alemanha relutassem em fornecer à Ucrânia o dinheiro e as armas necessárias para derrotar a Rússia”, escreveu.

Questionada por Hersh sobre o assunto, Adrienne Watson, porta-voz da Casa Branca, disse em um e-mail: "Isso é falso e uma completa ficção". Tammy Thorp, porta-voz da Agência Central de Inteligência (CIA), respondeu da mesma forma: "Esta afirmação é completamente e totalmente falsa", relata Hersh.

O presidente Biden e sua equipe de política externa – o Conselheiro de Segurança Nacional Jake Sullivan, o Secretário de Estado Tony Blinken e Victoria Nuland, Subsecretária de Estado para a Política – foram vocais e consistentes em sua hostilidade aos dois gasodutos, que correram lado a lado por 750 milhas sob o Mar Báltico a partir de dois portos diferentes no nordeste da Rússia, perto da fronteira com a Estônia,  passando perto da ilha dinamarquesa de Bornholm antes de terminar no norte da Alemanha.

A rota direta, que contornava a necessidade de transitar pela Ucrânia, tinha sido extremamente favorável para a economia alemã, que desfrutava de uma abundância de gás natural russo barato para operar suas fábricas e aquecer suas casas, permitindo ainda que os distribuidores alemães vendessem o excesso de gás, com lucro, em toda a Europa Ocidental. 

Moscou classificou as explosões como um ataque terrorista e afirmou que os EUA foram a nação que mais se beneficiou com a destruição dos gasodutos, acelerando as tentativas da Europa de se livrar do gás russo.

Depois dessa reportagem, O líder do Parlamento russo, Vyacheslav Volodin, classificou Joe Biden como "terrorista" e culpou Washington por sabotar os gasodutos Nord Stream.

Volodin disse nesta quinta-feira (9) que o discurso de Biden sobre o Estado da União, no qual ele afirmou que os EUA eram "uma nação que permanece como um farol para o mundo", o lembrou de "declarações de líderes do Terceiro Reich".

As ramificações dessa "ideologia do excepcionalismo" foram descobertas na investigação de Hersh, escreveu o parlamentar russo em rede social.

"Se [Harry S.] Truman se tornou um criminoso, que usou armas nucleares contra civis em Hiroshima e Nagasaki, Biden se tornou um terrorista, que ordenou a destruição da infraestrutura energética de seus parceiros estratégicos: Alemanha, França, Holanda", disse Volodin. 

As revelações de Hersh devem ser motivo para uma investigação internacional para "levar Biden e seus cúmplices à justiça" e garantir que as nações afetadas por esse "ataque terrorista" recebam indenização, acrescentou Volodin.

As autoridades russas vêm há meses apontando que o único lado que se beneficiou da destruição dos gasodutos foram os EUA, que aumentaram maciçamente suas entregas de gás natural liquefeito (GNL) à Europa após a sabotagem.

Quem é Hersh? 

SEYMOUR HERSH estabeleceu-se na vanguarda do jornalismo investigativo com uma exposição do massacre em My Lai, Vietnã, pelo qual ganhou um Prêmio Pulitzer. Desde então, ele descobriu histórias que Washington preferiria que permanecessem escondidas. Do papel de Kissinger no governo Nixon, passando pelo arsenal oculto de armas químicas e biológicas americanas, à exposição do regime de tortura militar nas prisões de Abu Ghraib e Guantanamo, Hersh tem consistentemente descoberto a verdade desconfortável por trás do poder dos EUA no mundo. Sua controversa exposição sobre a morte de Osama bin Laden (The Killing of Osama bin Laden, 2016), desafiou a narrativa oficial americana do assassinato. Ele ganhou o George Polk Award cinco vezes, o National Magazine Award for Public Interest duas vezes, o Pulitzer Prize for Journalism, o L A Times Book Prize e o National Book Critics Circle Award, além de dezenas de prêmios para o New York Times e New Yorker, onde foi um escritor de longa data.

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