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18 fevereiro 2023

O smartphone é a agulha hipodérmica moderna, fornecendo dopamina digital 24 horas por dia, sete dias por semana, para uma geração conectada

Em mais um ótimo e longo artigo, publicado na Revista Oeste (152), deste final de semana , Ana Paula Henkel aborda o assunto contido em seu título, - O VÍCIO DO PRAZER - e afirma que estamos vivendo em uma época de acesso sem precedentes a estímulos de alta recompensa e alta dopamina.

Trago-o aqui, especialmente, pelo destaque dado, em um de seus parágrafos, ao smartphone. Mais adiante registro, também, informações sobre o movimento "Aproveitar a vida real: o movimento para abandonar os smartphones".

Em seu artigo, Ana Paula cita o livro Nação Dopamina, escrito pela psiquiatra Dra. Anna Lembke. O livro, recentemente lançado no Brasil, explora as novas descobertas científicas que explicam por que a busca incansável do prazer leva à dor, e como estamos vivendo em uma época de acesso sem precedentes a estímulos de alta recompensa e alta dopamina: drogas, comida, notícias, jogos de azar, compras, jogos, mensagens de texto, aplicativos de relacionamento (não deu certo com alguém? Troca. Troca. Troca…), redes sociais e seus cliques e por aí vai.

A Dra. Lembke, diretora médica de medicina da Universidade de Stanford, relata que seus pacientes que lutam contra o abuso de substâncias geralmente acreditam que seus vícios são alimentados por depressão, ansiedade e insônia. Mas ela afirma que o oposto costuma ser verdadeiro: os vícios podem se tornar a causa da dor – não o alívio dela. Isso porque o comportamento desencadeia, entre outras coisas, uma resposta inicial da dopamina, que inunda o cérebro de prazer.

No entanto, uma vez que a dopamina passa, a pessoa geralmente se sente pior do que antes: 

Eles começam a usar a droga para se sentirem bem ou sentirem menos dor”.

 “Com o tempo, com a exposição repetida, essa droga funciona cada vez menos. Mas eles se veem incapazes de parar, porque, quando não estão usando, ficam em estado de déficit de dopamina"diz Lembke.

A dopamina é o caminho final comum para todas as experiências prazerosas, intoxicantes e gratificantes. "O smartphone é a agulha hipodérmica moderna, fornecendo dopamina digital 24 horas por dia, sete dias por semana, para uma geração conectada."



Aproveitar a vida real: o movimento para abandonar os smartphones

No final de 2021, Dulcie Cowling, de 36 anos, diretora de criação na agência de publicidade Hell Yeah!, baseada em Londres, concluiu que parar de usar seu aparelho melhoraria sua saúde mental. Então, durante o Natal, ela disse a sua família e a seus amigos que estava mudando para um antigo telefone Nokia que só poderia fazer e receber chamadas e mensagens de texto. Ela planeja usar o tempo adquirido com o abandono do smartphone para ler e dormir melhor.

"Eu pensei sobre quanto da minha vida era gasto olhando para o celular e o que mais eu poderia estar fazendo. Estar conectado constantemente a muitos serviços cria muitas distrações, e é demais para o cérebro processar." 

Alex Dunedin, que vive e trabalha na Escócia, largou seu smartphone dois anos atrás. "Culturalmente nós nos tornamos viciados nessas ferramentas", diz ele, que é pesquisador educacional e especialista em tecnologia. "Eles estão afetando a cognição e prejudicando a produtividade."

Ele diz ter ficado mais feliz e mais produtivo desde que parou de usar seu smartphone. Dunedin afirma que hoje nem tem um celular de modelo antigo ou mesmo uma linha telefônica terrestre. Outras pessoas só podem contatá-lo eletronicamente por meio de emails, que ele abre em seu computador na sua casa.

Hilda Burke, uma psicoterapeuta e autora de The Phone Addiction Workbook (O Guia do Vício do Telefone), diz que existe uma forte ligação entre o uso pesado de um aparelho celular e questões de relacionamento, qualidade do sono, nossa capacidade de nos desligarmos e relaxarmos e níveis de concentração.

Por último, repetimos aqui o que disse Jaron Lanier, que viveu/vive no olho do furacão.

"O que quer que uma pessoa possa ser, se você quer ser uma, delete suas contas nas redes sociais".


 Jaron Lanier é cientista, músico e escritor, mais conhecido pelo trabalho em realidade virtual e sua defesa do humanismo e da economia sustentável no contexto digital. Autor de diversos livros de crítica sobre a Era Digital, ele lançou em 2018 seu quarto livro, no qual denuncia o Vale do Silício de um modo geral, e o Facebook, em particular, como uma verdadeira máquina de fazer cabeças.


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