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28 julho 2023

Há exatos 70 anos Oppenheimer visitou o Brasil

No dia 28 de julho de 1953, o físico esteve reunido com os conselheiros do CNPq e proferiu palestra

A história do físico Robert Oppenheimer ganhou destaque nas últimas semanas graças ao lançamento do filme biográfico que leva seu nome. Mas o que poucos sabem é que Oppenheimer esteve no CNPq há exatos 70 anos para preferir palestra durante reunião do Conselho Deliberativo da Agência. Além disso, a física nuclear e o ambiente pós-guerra são fatores diretamente ligados à criação do CNPq.  

Oppenheimer (esquerda) e Orlando Rangel, membro da Comissão de Planejamento do CNPq e do Conselho Deliberativo de 1951 a 1956. Acervo Centro de Memória do CNPq.

Naquele momento pós-Segunda Guerra Mundial, encontrava-se fortalecida no cenário mundial a ideia de que o conhecimento e a tecnologia gerados pela ciência auxiliavam a promoção do desenvolvimento e da soberania de um país. Nesse contexto, a evolução técnica e científica na área nuclear era fator estratégico importante e emergente na geopolítica entre Estados, o que levou ao apoio da criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), em 1949, além de estabelecer contatos com físicos estrangeiros como Enrico Fermi, Robert Oppenheimer e outros.   

O CNPq foi fundado em 1951, pelo Almirante Álvaro Alberto, então representante brasileiro na Comissão de Energia Atômica do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) onde, neste mesmo ano, formulou e defendeu a tese das "compensações específicas", que estabelecia o direito ao acesso à tecnologia nuclear para fins pacíficos para os países possuidores de matéria prima com potencial atômico, como era o caso do Brasil, rico em areias monazíticas, as quais vinham sendo exportadas para os EUA.

O Conselho Deliberativo (CD) do CNPq, criado como instância decisória máxima da Agência, contou com a participação de políticos, representantes de diversos ministérios, membros da Academia Brasileira de Ciências e eminentes cientistas, em relação à questão nuclear, tratou da formulação de normas, políticas e da criação de divisões específicas para fundamentar as ações governamentais.

Ainda por influência do pós-guerra, era concedido maior número de bolsas para campos das ciências básicas ligados à Física, especialmente em estudos relativos à energia atômica. Já na primeira reunião do CD, dia 17 de abril de 1951, foi discutida a aquisição de um sincrocíclotron (tipo de acelerador de partículas) para o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), que serviria para realização de pesquisas e para o treinamento de pesquisadores.

Foi nesse contexto que o CD recebeu, no dia 27 de julho de 1953, a visita de Robert Oppenheimer. Antes disso, em junho do mesmo ano, consta na Ata da 160ª reunião do CD, o anúncio da chegada de Oppenheimer no Brasil e um convite para que os conselheiros conheçam o físico em um jantar oferecido pelo presidente em exercício do CNPq, já que o então presidente, Álvaro Alberto, estava em viagem ao exterior. Nesse encontro, Oppenheimer falou aos conselheiros:

“(...) O Professor OPPENHEIMER, depois de agradecer as calorosas e cordiais palavras do Senhor Presidente em exercício, disse que três coisas o haviam impressionado profundamente ao chegar ao Brasil: ter sido recebido pela manhã por um grupo de jovens afeiçoados aos trabalhos de sua própria especialidade, a física, cujo desenvolvimento no Brasil ele conhece e admira; ter passado já algumas horas no Rio de Janeiro cuja esplendida beleza e rápido progresso tanto admirou, e achar-se entre os membros do Conselho, que tão sabiamente vem desenvolvendo uma política científica, cujos resultados muito contribuirão para o engrandecimento do Brasil. (...)”

Ata da 160ª reunião do CD (25/06/1953)

Um mês depois, em 28 de julho, Oppenheimer proferiu a palestra durante a reunião do CD, no CNPq, registrada na íntegra em atas guardadas pelo Centro de Memória do CNPq.

Entrevista concedida à imprensa por Robert Oppenheimer e Adel da Silveira no CNPq. Acervo Centro de Memória do CNPq.

Destacam-se os seguintes trechos:

“(...) O Professor OPPENHEIMER iniciou a sua palestra declarando que abordaria, principalmente, três questões que julgava sumamente importantes para o Brasil: responsabilidades do Conselho Nacional de Pesquisas; problemas relacionados com o sistema educacional brasileiro; e problemas relacionados com a energia atônica no Brasil. Prosseguindo, mencionou a intervenção construtiva e precisa do Conselho junto às instituições que visitou, quer sob a forma de concessão de equipamento, bolsas de estudo e de pesquisa dentro e fora do país, facilidades para aquisição de revistas e livros técnico-científicos, quer quanto à modificação dos currículos nos currículos nos estudos superiores, etc. Afirmou que, se tivesse visitado o nosso país três anos antes, imploraria a criação de um órgão como o Conselho Nacional de Pesquisas. Discorrendo sobre os três itens aludidos, esclareceu que o problema do patrocínio da ciência e auxílio a trabalhos técnico-científicos é insolúvel no mundo inteiro, o que é facilmente compreensível em face da dificuldade em interessar o público em geral na ajuda à pesquisa científica. Ponderou que as responsabilidades do Conselho Nacional de Pesquisas poderiam ser englobadas em dois itens principais: auxílio à pesquisa e ao treinamento de cientistas, e desenvolvimento da energia atômica. Terminou a agradecendo a oportunidade que lhe foi proporcionada de conhecer o nosso país e entrar em contacto com os cientistas brasileiros. (...)”

Ata da 162ª reunião do CD (28/07/53)

Ata da 162ª Reunião do Conselho Deliberativo do CNPq, mencionando a palestra de Oppenheimer. 

Todos esses registros fazem parte do acervo do Centro de Memória do CNPq e este texto foi divulgado hoje, (28/07/2023), pelo CNPq.

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Ps.: Robert Oppenheimer retornou ao Brasil em setembro de 1961. Na oportunidade, (20/09) proferiu palestra e se reunião com lideranças do Instituto de Pesquisas da Marinha - IPqM, fundado em 1959.

   
        


  

     
    









 


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