Em seu primoroso livro, "IBM e o Holocausto", seu autor, Edwin Black, nos brindou com um texto com registros de um condenável período no qual milhões de pessoas morreram, com destaque para o assassinato de 6 milhões de judeus.
A obra é o resultado de quase uma década de pesquisas, iniciadas em 1993 e concluídas em 2001, após uma visita que ele fez ao Museu do Holocausto, em Washington, EUA, quando se deparou com uma máquina IBM Hollerith D-11, de classificação de cartões perfurados, ocupando lugar de destaque, mas com apenas uma pequena explicação de que a IBM foi a responsável pela organização do recenseamento alemão de 1933, o primeiro a identificar judeus.
Edwin ficou indignado com tão pouca informação e prometeu aos seus pais que o acompanhavam, ambos sobreviventes do Holocausto, que descobriria mais fatos. É o que está relatado em seu livro de quase 600 páginas, do qual alguns parágrafos da introdução estão expostos a seguir, com o propósito de chamar atenção de que a destruição humana, ocorrida há 90 anos, já contou com a ajuda da automação e, principalmente, que essa ajuda não se encerrou. Ao contrário, está cada vez mais presente, incluindo a composição de listas de pessoas que deverão ser punidas, inclusive aqui no Brasil.
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[ ... ] "A obsessão do Führer pela destruição dos judeus contou com os poderes da automação. Hitler não o fez sozinho. Teve ajuda.
[ ... ] A polícia ignorava seus deveres para proteger vilões e perseguir vítimas. Juristas pervertiam conceitos de justiça para formular leis anti-semitas. Médicos conspurcavam a arte da medicina para perpetrar os mais pavorosos experimentos e até selecionavam os mais saudáveis para trabalhar até a morte - identificando os que, por uma questão de eficácia em relação ao custo, deveriam ser enviados para as câmaras de gás.
[ ... ] Cientistas e engenheiros aviltavam as mais nobres vocações, concebendo instrumentos e explicações para a destruição. E estatísticos recorriam à sua disciplina ainda pouco conhecida, mas poderosa, para identificar as vítimas, projetar e racionalizar os benefícios da mortanidade, organizar a perseguição e até mesmo auditar a eficiência do genocídio. E nesse ponto entram a IBM e suas subsidiárias no exterior.
[ ... ] A humanidade mal se deu conta de quando surgiu discretamente o conceito de organização maciça de informação para se transformar em ferramenta de controle social, em arma de guerra e em manual de orientação para a destruição em massa.
[ ... ] Durante o Terceiro Reich, a cruzada de Hitler foi vigorosamente ampliada e energizada pela engenhosidade e ambição pelo lucro de uma única empresa americana e de seu lendário e autocrático chairman. A empresa foi a IBM e o chairman, Thomas J. Watson.
[ ... ] Quando Hitler assumiu o poder, um dos objetivos centrais do nazismo era identificar e destruir os 600.000, imaginados inicialmente, judeus da Alemanha. Contudo, a pesquisa de sucessivas gerações de registros comunitários, paroquiais e governamentais em toda a Alemanha - e depois em toda a Europa - tornou-se uma tarefa tão monumental de indexação cruzada que demandava auxilio de computadores. Igualmente para a identificação e destruição de seus bens, para transferí-los para os guetos e campos de concentração em vagões e para as câmaras de gás já em prontidão.
[ ... ] A logística era missão tão complexa que também requeria computadores. Mas em 1933, ainda não existia computador.
[ ... ] Porém, havia uma outra invenção: o cartão perfurado e o sistema de classificação de cartões (máquina Hollerith) da IBM. A subsidiária da empresa, na Alemanha, com o conhecimento da sede em Nova York, a Dehomag, usando seu próprio staff e equipamentos, projetou, produziu e forneceu a assistencia técnica indispensável de que o Terceiro Reich de Hitler necessitava para realizar o que jamais fora feito antes - a automação da destruição humana.
Máquina Hollerith Alemã USHM Museum, Washington, USA |
Cartão perfurado para mão-de-obra escrava National Archives |
Cartão perfurado para o Escritório de Raça da SS National Archives |
[ ... ] Durante os doze anos da existência do Reich, a sede da IBM recebeu informações diárias sobre parte desses atos. Mesmo quando a legislação americana tornou ilegais essas operações, o escritório da IBM na Suíça transformou-se em elo de ligação, proporcionando à sede em NY, informação contínua.
[ ... ] Quem acreditar que de algum modo o Holocausto não teria ocorrido sem a IBM está redondamente enganado. O Holocausto teria prosseguido - e muitas vezes foi adiante - apenas com munição, marchas fúnebres e massacres resultantes de perseguições movidas a lápis e papel.
[ ... ] Mas há razões para examinar os fantásticos números atingidos por Hitler na matança de tantos milhões de seres humanos, com tanta rapidez, e analizar o papel crucial da automação e da tecnologia no genocídio.
[ ... ] Muitos de nós ficamos fascinados pela era da computação e pela era da informação. Sou uma dessas pessoas. Mas hoje estou dominado por uma nova percepção que, para mim, filho de sobreviventes do Holocausto, significa toda uma nova consciência.
[ ... ] Chamo-a de Era da Compreensão, à medida que olhamos para trás e observamos a onda da tecnologia.
[ ... ] A não ser que compreendamos como os nazistas adquiriram os nomes dos judeus, novas listas serão compostas, contra outras pessoas", nos diz Edwin Black.
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Contudo, pelos fatos com os quais estamos convivendo em pleno século XXI, diversas lideranças políticas aprenderam e estão reproduzindo, diariamente, os ensinamentos e as experiências nazistas, utilizando, para isso, toda a tecnologia de automação hoje disponível.
Verdadeiramente assustador!
ResponderExcluirSe lá, com todas as limitações que bem conhecemos, Hitler fez o que fez, imagine agora, com as ferramentas de controle que têm à disposição, o alcance do poder punitivo e a capacidade de destruição que essa corja que se apossou do Brasil exerce sobre nós!