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04 outubro 2024

Quem consegue arrastar mais vezes o Brasil para o fundo do poço?

É a pergunta feita por J. R. Guzzo em seu artigo na Oeste 237 desta semana. A resposta, obviamente, pode ser dada por qualquer adolescente de nosso Brasil atual. Aliás, por muito mais gente mundo afora, incluindo os dirigentes e parlamentares dos países que se submetem ao regime democrático. Nunca será igual as daqueles que conduzem ditaduras na Coreia do Norte, Rússia, Venezuela, China, Irã e seus similares. Destes, os brasileiros que estão arrastando o Brasil para o fundo do poço são muito amigos e têm em comun, como interlocutor brasileiro, o diplomata Celso Amorim.

Guzzo afirma que [ ... ] "Em comemoração ao seu primeiro ano no cargo, e num dos seus piores momentos de comentarista de si mesmo, Barroso, presidente do STF, proclamou que o seu “legado” será a “total recivilização” do Brasil. Põe fundo do poço nisso. Quem disse, em primeiro lugar, que ele vai deixar algum tipo de legado? Até agora, ao que se saiba, só ele mesmo. E essa “recivilização”, o que seria, além de uma palavra pretensiosa, falsamente erudita e basicamente tola?

[ ... ] O ministro quer que você acredite que o país vivia na barbárie até ele chegar à presidência do STF. É uma bobagem classe platinum plus extra magnum, que pode ser verificada em qualquer cartilha de curso primário. Muito pior, é uma afirmação mentirosa, neurótica e mal-intencionada. Se existe alguma coisa indiscutível na conduta do STF nos últimos cinco anos é exatamente o contrário: Barroso, Alexandre de Moraes etc. etc. etc. reduziram o Brasil a um estado de selvageria legal sacralizada. 

No curso de seu artigo Guzzo explica, em detalhes, as trapaças dos gatos gordos que a população brasileira sustenta em Brasília em ambientes de luxo. E acrescenta que ouvir Barroso e outros componentes do STF

[ ... ] É como ouvir aulas de Direito e de Ciência Política dadas pelo professor Idi Amin, ou por outros bandoleiros africanos que subiram ao status de “famosos” chefiando ditaduras de almanaque. O que o STF realmente fez no Brasil, sob o comando de Alexandre de Moraes e com a assistência de Antonio Dias Toffoli (em outro departamento), foi eliminar a pau, ao contrário do que diz Barroso, a condição fundamental para que qualquer sociedade receba o selo de “civilizada” — a segurança jurídica. É ela que obriga a autoridade pública a tomar todas as decisões com base no que está escrito na lei, e não naquilo que ela quer, ou no que acha “certo”.

[ ... ] Dias Toffoli, por sua vez, faz o contrário. Destrói a lei extinguindo um dos piores crimes que pode existir em qualquer sociedade civilizada — a corrupção. É algo que, segundo as decisões do STF, não existe mais no Brasil. Talvez até exista no papel, mas Toffoli anula automaticamente todas as condenações por corrupção dos governos do PT. Na verdade, virou jurisprudência oficial da “Suprema Corte” do Brasil de hoje. Roubou o Erário, confessou o roubo e pagou multa para sair da cadeia? É só procurar o STF — o ministro Toffoli anula todas as condenações e devolve o seu dinheiro. O resultado disso é o seguinte fenômeno: o Brasil, que é um dos países mais corruptos do mundo pelos levantamentos das organizações internacionais de vigilância, não tem um único corrupto na prisão.

[ ... ] Moraes, Toffoli e o STF, com seu apoio cego aos dois, são uma negação ambulante das regras exigidas para um país ser considerado sério. Violam as leis do momento em que levantam da cama até o momento em que desligam os seus computadores. Que civilização é essa? É praticamente a mesma, do ponto de vista mental, que existia no tempo em que os índios caetés jantaram o bispo Sardinha — Era um perigo, de fato, ser bispo naquela época. O problema, na atual civilização do STF, é que o bispo é sempre você."

 A indignação dos brasileiros que estão por todo o País. Isto já foi expresso em 30/11/2022, quando quatro renomados juristas, após relembrarem atos ilegais que vêm sendo cometidos há anos por ministros do STF e TSE, reforçaram o que dizem as leis brasileiras. Todos eles deixaram claro que o Estado de Direito já ruiu e que estamos num Estado de Exceção, quando liberdades deixam de ser respeitadas, o Ministério Público é ignorado e acusados sequer têm direito a defesa.

03 outubro 2024

Como Kamala Harris e Joe Biden estão financiando a censura no Brasil

Em artigo publicado nesta quarta-feira, 02/10/2024, na Gazeta do Povo, Michael Sshellenberger¹ escreveu que seus colegas e ele descobriram que agências do governo dos EUA, incluindo o FBI e intermediários conhecidos da CIA, têm financiado a defesa da censura e aconselhado o governo brasileiro sobre como praticá-la.

Parte desse artigo está reproduzido a seguir. Boa leitura.

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Como Kamala Harris e Joe Biden estão financiando a censura no Brasil


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[ ... ] Isso me afeta pessoalmente, pois o governo brasileiro está atualmente me perseguindo por expor sua censura ilegal e por denunciar sua transformação em uma ditadura. A Polícia Federal escreveu dois relatórios sobre meu suposto crime de publicar os Twitter Files Brasil, que expuseram a censura ilegal pelo governo. O governo de Lula seguiu com um relatório do Advogado-Geral, recomendando minha acusação.

Isso deveria ser importante não apenas para mim, mas para todos os americanos, pois é um abuso flagrante de poder pela administração Kamala Harris-Joe Biden e mais uma prova de que as chamadas agências do “Estado Profundo” (Deep State) dos EUA estão promovendo censura ilegal e outros ataques totalitários às liberdades fundamentais.

Seria impreciso concluir que o governo dos EUA é o único responsável pela repressão à liberdade de expressão no Brasil ou que Kamala Harris e Joe Biden estão supervisionando pessoalmente essas operações. Como a maior nação da América do Sul, grande exportador global de carne bovina e soja, e lar da maior parte da Floresta Amazônica, o Brasil não é facilmente controlado. O país estabelece sua política em relação à China, ao Oriente Médio e à Europa, frequentemente contrariando o consenso EUA-Europa e agindo mais como a Índia do que como outras nações menores da América Latina. E, no Brasil, é o Judiciário, não o Executivo (como é comum nos EUA, Canadá e outros países), que tem tomado a frente na aplicação da censura.

No entanto, qualquer envolvimento do governo dos EUA em censura em qualquer parte do mundo constitui interferência eleitoral estrangeira, e Harris e Biden são, em última análise, responsáveis pelas políticas e atividades das agências que supervisionam.

E muitas das diferenças entre a censura nos EUA e no Brasil são superficiais. Embora o Judiciário tenha realmente assumido um papel incomumente grande no Brasil em comparação com outras nações, alguns legisladores brasileiros e o presidente Lula buscaram, respectivamente, expandir radicalmente a censura governamental e perseguir jornalistas por meio da Advocacia-Geral da União.

Por fim, os grupos brasileiros financiados pelo governo dos EUA estão realizando atividades quase idênticas às dos defensores da censura nos Estados Unidos, Europa e nas nações da aliança de inteligência "Cinco Olhos" (Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido e EUA).

Essas atividades incluem a criação de uma histeria em torno de “fake news” e “desinformação”, sem qualquer base em pesquisas acadêmicas de alta qualidade ou outras, e o apoio a “checagens de fatos” supostamente neutras, que, na realidade, visam a desacreditar e censurar candidatos políticos populistas, particularmente o ex-presidente Jair Bolsonaro, seus apoiadores, jornalistas independentes e políticos independentes.

Esses grupos, muitos dos quais são financiados pela Open Society Foundations de George Soros, então coordenaram campanhas de pressão contra plataformas de rede social e anunciantes.

Em 5 de março de 2018, agentes do FBI e do Departamento de Justiça se reuniram com um conselho especial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) brasileiro para discutir esforços de combate às “fake news”. O TSE também implementou políticas de censura da “desinformação” sugeridas por várias ONGs financiadas pela USAID (Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional) e pelo Departamento de Estado. A National Science Foundation, apoiada pelo Congresso dos EUA, também concedeu subsídios para financiar “pesquisas” sobre o combate à “desinformação” no Brasil.

A administração Biden-Harris foi explícita em seu apoio às iniciativas de censura e “antidesinformação” no Brasil. Em 10 de fevereiro de 2023, o presidente Joe Biden se encontrou com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em Washington, D.C., onde ambos “condenaram o discurso de ódio e reafirmaram sua intenção de construir resiliência social contra a desinformação”.

E agora, um novo relatório escrito por meus colegas Phoebe Smith, Alex Gutentag, Eli Vieira (editor de Ideias da Gazeta do Povo) e David Ágape para minha organização sem fins lucrativos Civilization Works, anteriormente chamada Environmental Progress, revela que o Complexo Industrial de Censura do Brasil, uma rede de ONGs, checadores de fatos e atores estatais, recebe “instruções, treinamento e apoio financeiro de seus homólogos dos EUA”. Ao apoiar a censura no Brasil, o governo federal dos EUA e seus subsidiários têm se envolvido em intervenções externas impróprias, visando especificamente eleições e políticas públicas.

“As entidades dos EUA envolvidas direta e indiretamente no Complexo Industrial de Censura do Brasil”, escrevem os autores do relatório, “incluem o Atlantic Council, o Congresso americano, o Federal Bureau of Investigation (FBI), o Fundo Nacional para a Democracia (NED), a National Science Foundation (NSF), o Departamento de Estado, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a Casa Branca e mais”.

Essas são organizações com raízes profundas e de longa data na CIA. Os ex-diretores da CIA David Petraeus, Robert Gates e James Woolsey estão no Conselho de Diretores do Atlantic Council, que é o think tank da OTAN e é financiado tanto pelo Pentágono quanto pelo Departamento de Estado. O Congresso dos EUA criou o Fundo Nacional para a Democracia (NED) para realizar publicamente e de forma ostensivamente legal o trabalho que a CIA costumava fazer. Muitos analistas referem-se ao NED como uma organização “de fachada” ou intermediária, feita para esconder o controle e o envolvimento da CIA. A CIA há muito tempo toma o controle ou cria organizações não governamentais falsas, incluindo empresas e sindicatos.

Dessa forma, os indícios são claros que o governo dos EUA e seus aliados têm exigido censura desde 2016 por medo de ver políticos populistas assumindo o poder e minando a ordem global. Esses altos funcionários do governo dos EUA no Departamento de Estado, CIA e outras agências de inteligência e segurança deixaram claro que veem a capacidade de controlar as redes sociais como um recurso indispensável para seu domínio sobre as sociedades ocidentais. Essas pessoas e organizações exigem incansavelmente a censura.

Expusemos vários de seus laços com a CIA, a OTAN e o Pentágono. Na medida em que responderam, o fizeram por meio de assassinato de reputação contra nós.

A mera quantidade de pessoas e instituições poderosas exigindo mais censura é assustadora. Essa lista agora inclui Bill Gates, George Soros, Biden, Harris, Tim Walz, Hillary Clinton, Barack Obama, a imprensa tradicional, o FBI, CIA, DHS, a União Europeia, o governo brasileiro e partidos governistas em todas as nações anglófonas da aliança “Cinco Olhos” que compartilham inteligência. Eles deixaram claro que estão desesperados para censurar a internet, e não estão mais escondendo isso. O ex-secretário de Estado, John Kerry, defendeu a censura no início desta semana. Gates produziu um documentário da Netflix para promover a censura, incluindo a participação de um suposto "ex"-oficial da CIA.

Em outras palavras, essas agências governamentais, atores do Deep State e filantropos engajados estão trabalhando com a grande mídia para normalizar e convencer o público a querer mais censura. Assim, estamos vivendo em um momento extremamente perigoso.

A boa notícia é que muitas pessoas estão acordando. Há algumas semanas, no 7 de Setembro, centenas de milhares de pessoas protestaram no Brasil em uma das maiores manifestações pela liberdade de expressão da história.

E agora, membros do Congresso americano estão exigindo o fim do financiamento à censura no Brasil. “A administração Biden-Harris tem usado programas de assistência externa dos EUA e outros meios para promover a censura no Brasil e reprimir a liberdade de expressão que seria protegida pela Constituição dos EUA aqui em casa”, disse o deputado Chris Smith. Smith é um membro sênior do Comitê de Relações Exteriores da Câmara, que presidiu uma audiência para examinar o totalitarismo incipiente no Brasil em maio passado.

O deputado Jim Jordan e a deputada María Elvira Salazar propuseram conjuntamente o Projeto de Lei de Proibição de Financiamento ou Aplicação de Censura no Exterior (HR 9850). O projeto pretende:

  • Proibir a assistência externa a entidades que promovam a censura de expressões que seriam protegidas nos Estados Unidos;
  • Proibir a assistência externa a entidades que apoiem as diretrizes de censura do governo brasileiro às empresas de internet dos EUA;
  • Proibir a cooperação de autoridades de segurança dos EUA com países estrangeiros para “causar, facilitar ou promover a censura online” de discursos políticos; e
  • Proibir a cooperação de autoridades de segurança dos EUA com as diretrizes de censura do governo brasileiro contra empresas de internet com sede nos Estados Unidos.

“O Comitê Judiciário da Câmara dos Estados Unidos e o Subcomitê Seleto sobre a Instrumentalização do Governo Federal descobriram como o FBI, sob a administração Biden-Harris, facilitou os pedidos de censura de um governo estrangeiro contra americanos”, disse o deputado Jordan. “Este projeto de lei é crucial para impedir que censores de governos estrangeiros usem o DOJ [Departamento de Justiça] ou o FBI para silenciar opiniões desfavorecidas.”

“Os Estados Unidos precisam defender os princípios de sua Constituição e apoiar seus cidadãos sempre que enfrentarem censura no exterior”, disse a deputada Salazar.

Sou profundamente grato a Smith, Jordan e Salazar por defenderem a liberdade de expressão no Brasil e no mundo. E, mesmo que você não se importe com o Brasil, todos devemos ser gratos a eles por exigirem responsabilidade de um Deep State fora de controle que está violando nossos direitos da Primeira Emenda e abusando de seus poderes, assim como o Deep State fez com a farsa do conluio com a Rússia, a censura nas redes sociais, a notícia do laptop de Hunter Biden, a interferência eleitoral do FBI e do DHS, a falsa bomba de 6 de Janeiro e outros escândalos.


¹ Michael Shellenberger é editor-chefe do Public.News e colaborou com a Gazeta do Povo na publicação da série de reportagens “Twitter Files Brasil”.

Israel’s Iron Prime Minister


Por Niall Ferguson e Jay Mens. A ser publicado em 05 de outubro de 2024 

Em casa, a esquerda o vê como cínico, conivente e corrupto; enquanto a direita o vê como cansado, fraco e pouco ambicioso. No exterior, ele é quase universalmente odiado e desconfiado. E ainda assim ninguém pode negar seu domínio maquiavélico do jogo sujo da política, doméstica e internacional.

A história moderna produziu apenas duas figuras que se encaixam nessa descrição. O primeiro é o Chanceler da Alemanha, Otto von Bismarck. O segundo é o Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Para Bibi — seu apelido e o título de sua autobiografia recente — leia Bibismarck.

Netanyahu foi Primeiro-Ministro por quase 14 dos últimos 15 anos, não exatamente os 19 anos em que Bismarck serviu como chanceler alemão. Por quase uma década, se Bibi deveria ficar ou sair foi a questão central da política israelense. Entre 2018 e 2022, Israel realizou cinco eleições nas quais um dos gritos de guerra da oposição foi "Só não Bibi". Em agosto do ano passado, Israel foi abalado por protestos anti-Netanyahu que levaram centenas de milhares às ruas, incluindo quase todos os membros da elite cultural e até militar do país. O ataque surpresa de 7 de outubro foi aparentemente o último prego no caixão político de Netanyahu.

Como Bismarck, Bibi combinou política externa tortuosa com política interna tortuosa

Ainda assim, Bibi ainda está sentado em seu escritório em Jerusalém: ainda primeiro-ministro. À medida que o aniversário de 7 de outubro se aproxima, ele está novamente à frente nas pesquisas.

E não é de se admirar. O Hamas foi amplamente derrotado em Gaza, seus combatentes restantes confinados em túneis sob uma pilha de escombros. Mais impressionante, Israel conduziu indiscutivelmente a operação clandestina mais bem-sucedida do século 21, mutilando cerca de 3.000 agentes do Hezbollah com pagers explosivos. E está travando uma guerra em tudo, menos no nome, no Líbano, atacando mais de 5.000 alvos no mês passado e eliminando 16 dos agentes mais graduados do Hezbollah.

Na semana passada, Bibi estava na Assembleia Geral da ONU, citando desafiadoramente o profeta Samuel: "A eternidade de Israel não vacilará". Meia hora depois de descer do pódio, de seu hotel no Upper East Side de Manhattan, ele ordenou a morte de Hassan Nasrallah, o aparentemente invencível secretário-geral do Hezbollah. Na segunda-feira, Netanyahu foi ainda mais longe. Em um vídeo se dirigindo ao povo iraniano, ele deu a entender que o Irã "será livre mais cedo do que as pessoas pensam".

No momento em que este artigo foi escrito, o Irã lançou mais de 180 mísseis balísticos contra Israel. A julgar por seu desempenho recente, Netanyahu pode aproveitar a oportunidade para bater na cabeça do "polvo" iraniano, buscando derrubar a teocracia em Teerã, ou pelo menos dar um golpe contra seu programa de armas nucleares.

Quando nos encontramos com Netanyahu em Jerusalém em fevereiro, ficamos impressionados com seu comportamento bismarckiano. Durante toda a nossa conversa, ele continuou olhando de soslaio para um mapa do Oriente Médio pendurado na parede de seu escritório, como se para se lembrar da situação difícil de seu país. Bismarck disse que seu mapa da África era um mapa da Europa. O mapa do mundo de Bibi é um mapa de Israel, minúsculo e cercado por inimigos.

Questionado sobre o que um futuro historiador em 20 ou 30 anos pensaria sobre ele, ele respondeu: "Os Estados Unidos estavam em declínio. Mas Israel foi capaz de resistir às ambições regionais do Irã derrotando ou contendo os tentáculos do polvo. Ele acrescentou que, ao perseguir esse objetivo, sempre tomou cuidado para evitar antagonizar "superpotências", ou seja, Rússia e China. O futuro historiador pode acrescentar que, ao focar implacavelmente na ameaça iraniana, Netanyahu teve sucesso em construir pontes para os estados árabes, incluindo aqueles no Golfo, enquanto ao mesmo tempo marginalizava os palestinos. Os Acordos de Abraham foram o resultado não de idealismo, mas de Realpolitik vintage. Em busca de seus objetivos, Netanyahu trabalhou com a Rússia na Síria, desabilitou o Hamas em Gaza e desafiou primeiro Barack Obama e depois Joe Biden em Washington.

Além disso, como Bismarck, Bibi combinou política externa tortuosa com política interna tortuosa. Ele tomou o esquerdista moderado Yair Lapid como seu ministro das finanças, o direitista radical Itamar Ben-Gvir como seu ministro da segurança nacional e reuniu as massas conservadoras contra a burguesia liberal com o para-raios da reforma judicial, dividindo repetidamente a nação para garantir sua própria posição política.

Bismarck instrumentalizou a unificação alemã para defender a monarquia e a aristocracia prussianas contra a ameaça representada a elas pelo liberalismo burguês. Ele construiu o Reich alemão com uma série de guerras curtas e agudas: contra a Dinamarca, contra a Áustria e contra a França. Tendo fundado o Reich, ele nunca perdeu de vista a posição vulnerável da Alemanha entre a França e a Rússia. Ele concebeu o intrincado instrumento diplomático do Tratado Secreto de Resseguro para evitar ser arrastado para uma luta com a Rússia em nome da Áustria-Hungria. Tudo isso poderia ser sustentado internamente apenas com uma série de medidas engenhosas para dividir os liberais, explorando seu anticatolicismo e antissocialismo, assim como a suscetibilidade dos industriais à tentação de tarifas.

No entanto, apesar de todas as semelhanças, Netanyahu parece estar revivendo a carreira de Bismarck ao contrário. Em 1874, 16 anos antes de ser forçado a deixar o cargo, Bismarck reclamou: "Estou entediado. As grandes coisas são feitas". Depois de quase o mesmo tempo no cargo, Netanyahu nunca esteve menos entediado, pois agora ele tem a chance de fazer as grandes coisas. A decapitação do Hezbollah pode ser seu Königgrätz, a batalha em 1866 que confirmou a primazia prussiana sobre a Áustria. Destruir o programa nuclear iraniano — ou o próprio regime — seria seu Sedan, a batalha que condenou o Segundo Império Francês de Napoleão III.

No Krav Maga, a arte marcial nacional de Israel, sair de uma chave de braço exige golpear o oponente na cabeça com a mão livre, desorientando-o e partindo para a ofensiva. Esta metáfora descreve muitos episódios na história militar israelense. Em 1955, a Operação Elkayam matou 72 soldados egípcios em retaliação à insurgência Fedayeen, humilhando o Egito a um cessar-fogo. Em 1967, Israel lançou a Guerra dos Seis Dias como resposta ao fechamento do Estreito de Tiran pelo Egito. Em 1978, Israel lançou a Operação Litani para acabar com os ataques da OLP no norte de Israel. A chave de braço de Israel, antes e depois de 7 de outubro, era óbvia. Representantes iranianos — Hamas, Hezbollah, os Houthis, a Jihad Islâmica Palestina — ameaçaram-no de vários lados. Agora temos uma noção de como Netanyahu busca emergir dela.

Lançar uma nova guerra no Líbano deu a Israel três opções. A primeira era desencadear uma resposta iraniana, o que daria uma oportunidade de atacar o programa nuclear iraniano ou a estabilidade do próprio regime. A segunda, se isso não tivesse se materializado, era atingir o Hezbollah com tanta força que o Irã interferisse para tentar empurrar o Hamas para um cessar-fogo nos termos de Israel. A terceira era impedir uma reação dura de um Hezbollah enfraquecido, o que daria a Israel a oportunidade de efetuar uma mudança estratégica duradoura ao norte de sua fronteira.

Como em todos os estratagemas bismarckianos, havia muitos riscos envolvidos. Parece improvável que o chefe do Hamas, Yahya Sinwar, se ainda estiver vivo, esteja mais propenso a concordar com um cessar-fogo agora, já que o Hamas não depende de suprimentos iranianos, e uma guerra maior pode até salvá-lo da perdição. E uma Guerra do Líbano total absorveria as capacidades de Israel, dando ao Irã uma janela para correr para uma bomba.

Bismarck viu cinco frentes em suas famosas "combinações" (Áustria, Grã-Bretanha, França, Rússia, Itália). Netanyahu tem que pensar em mais de sete (Gaza, Cisjordânia, Síria, Líbano, Iraque, Iêmen e Irã – para não falar da Turquia, Egito e os estados do Golfo). Os próximos dias, mais do que qualquer outro período em sua carreira, determinarão o lugar de Netanyahu na história. Como filho de um historiador – seu pai Ben-Zion escreveu As Origens da Inquisição na Espanha do Século XV – Bibi sem dúvida está ciente disso.

Talvez a semelhança mais profunda entre o Chanceler de Ferro e o Primeiro-Ministro de Ferro seja a maneira como eles olham para a história. A sobrevivência é mais importante do que a ideologia, um princípio que se estende tanto à carreira política quanto à vida do estado. Bismarck nasceu em 1815. Sua carreira política acompanha a ascensão e queda do Sistema do Congresso das grandes potências. Netanyahu nasceu em 1949. Sua carreira política acompanha a ascensão e queda da Pax Americana.

Depois de viver as revoluções de 1848, Bismarck concluiu que o avanço da modernidade era imparável. O pai de Netanyahu lhe ensinou que a história judaica é uma "história de Holocaustos". O conservadorismo dos dois homens talvez esteja enraizado nesse pessimismo essencial. Netanyahu, ao contrário de seus aliados colonos, pode facilmente imaginar um mundo no qual Israel não exista mais. Ao contrário de seus oponentes de esquerda, ele não consegue imaginar um fim utópico da história. Assim como a de Bismarck, então, sua visão é de luta perpétua.

A questão-chave para Israel é o que vem depois de Netanyahu. A crítica de Henry Kissinger a Bismarck era que é impossível institucionalizar um tour de force de vários anos. O mesmo pode ser dito de Bibi. Ele não tem um sucessor óbvio, e isso é intencional. O cenário político israelense está cheio de protegidos que se tornaram inimigos: o ex-primeiro-ministro Naftali Bennett, o ex-ministro da defesa Avigdor Lieberman, o ex-ministro da defesa Moshe Yaalon e o ex-ministro da justiça Gideon Sa'ar (embora Netanyahu tenha conseguido convencê-lo a voltar ao gabinete na semana passada).

A visão de Netanyahu de que não há ninguém à altura da tarefa pode ser verdadeira. Mas depois de Bismarck veio Caprivi. E finalmente veio Bethmann-Hollweg, o chanceler cujos erros de cálculo mergulharam a Europa na guerra em 1914. Os sucessores mais prováveis ​​de Netanyahu no partido Likud são populistas declarados sem sua sensibilidade histórica ou facilidade com a língua inglesa. Ele, portanto, legou ao seu país um futuro tão incerto quanto Bismarck deixou para o seu. Bismarck unificou a Alemanha, mas falhou em unir os alemães. Seus sucessores embarcaram em uma estrada que levou à guerra e à dissolução do Reich.

Ser o Bismarck israelense não é tarefa fácil. Mas pode haver uma picada na história de Bibi.

02 outubro 2024

O “frenesi justiceiro”

Ontem se publicou que a colunista de O Globo, Malu Gaspar, noticiou as ações nos EUA contra a censura e a tirania no Brasil. Um grupo de congressistas republicanos dos Estados Unidos apresentou um projeto de lei que visa restringir a cooperação financeira e judicial com o Brasil, caso medidas sejam consideradas censura à liberdade de expressão.

Quem é a referida colunista? Malu Gaspar é a autora do livro "A Organização - a Odebrecht e o esquema de corrupção que chocou o mundo". Nele, Malu destrincha, de forma eletrizante, a história completa (e a secreta) da ascensão, do auge e da queda da Odebrecht. A engrenagem de um sistema de pagamento de propinas que parecia inviolável. As relações de confiança entre políticos de todos os espectros ideológicos e os maiores empreiteiros do Brasil. Bastidores nunca vistos da Lava Jato. Uma guerra sangrenta entre pai e filho pelos rumos de um colosso empresarial ameaçados de morte.

Tal lembrança chegou em boa hora para se dizer também, que em maio deste ano, o ministro Dias Toffoli anulou todas as decisões judiciais que incriminavam o empresário Marcelo Odebrecht na mesma operação, que desvendou o maior esquema de corrupção da História do Brasil.

Diante de tais decisões de Toffoli, a Folha de S. Paulo afirmou que “não há explicação razoável para a atuação errática da Justiça brasileira, em geral, e a do Supremo em particular, nas investigações e ações conectadas à operação Lava Jato".

Em seu editorial de opinião desta quarta-feira, 2, o jornal avalia que o “frenesi justiceiro” do início tornou-se uma “anistia irrestrita a corruptos confessos”. Nesse interim, enfatiza a Folha, não se deu oportunidade para a “aplicação zelosa da lei”.

O texto afirma ainda que Dias Toffoli tem liderado “iniciativas monocráticas de derrubar no atacado toda e qualquer ação remotamente relacionada com as investigações originadas na vara federal de Curitiba”.

UM ESTRANHO CONCEITO DE CIVILIZAÇÃO


 Editorial do Estadão de 01 de outubro de 2024


Barroso nos informa que a missão do Supremo é ‘recivilizar’ o País. De que ‘civilização’ se trata quando ministros favorecem corruptos confessos e emasculam lei que moraliza estatais?
A defesa da supremacia da Constituição parece ser incumbência menor para o egrégio Supremo Tribunal Federal (STF). O destino da Corte seria “recivilizar” o Brasil – nada menos. Assim entende o seu ministro presidente, Luís Roberto Barroso, que em entrevista ao jornal Valor afirmou que a “total recivilização do País” é o “legado institucional” que ele pretende deixar ao transmitir o cargo a seu provável sucessor, o ministro Edson Fachin.
Em primeiro lugar, é incontornável observar que só precisa ser “recivilizada”, por óbvio, uma horda de bárbaros, o que nem de longe retrata a Nação brasileira. Só esse pequeno lapso, digamos assim, basta para expor o grau de alheamento da realidade e de afetação intelectual, quando não autoritária, que tem comprometido a legitimidade de não poucas decisões dos ministros do STF nos últimos anos.
Dito isso, não é de hoje que Barroso tem essa compreensão grandiloquente do que seria a missão precípua da Corte. Em 2017, o ministro afirmou durante uma aula magna que, “a serviço da causa da humanidade”, seria papel do STF “empurrar a história”, que, em sua visão, ora “anda rápido”, ora “anda devagar”. Um ano depois, com o mesmo espírito messiânico, o sr. Barroso ainda escreveria o célebre artigo no qual defendeu o “papel iluminista” do Supremo.
Vistas em retrospecto, ambas as manifestações do hoje presidente do STF soam como premonições da miríade de abusos e extrapolações de prerrogativas que seriam cometidos por ministros da Corte nos últimos anos a pretexto da tal “recivilização” do País. É o caso de perguntar: se é missão do STF civilizar a sociedade, qual será, afinal, o padrão civilizatório que vai iluminar o caminho da Nação desde Brasília até o seu inexorável encontro com a bem-aventurança?
É de civilização que estamos tratando quando o ministro Dias Toffoli faz pouco-caso do bom Direito e da inteligência alheia ao apagar os fatos, sozinho, em sua autoatribuída missão de reescrever a história da Lava Jato? E pior, usando como base desse misto de revisionismo e penitência perante Lula um conjunto de provas absolutamente ilegais, obtidas por meio da ação insidiosa de um hacker. Será esse o diapasão iluminista do STF, sinalizar à sociedade que corromper e ser corrompido, ao preço de poucos anos de dissabores e ostracismo, compensa neste País?
Foi isso o que Toffoli indicou, mais uma vez, quando exonerou o notório empreiteiro Léo Pinheiro de todas as condenações por crimes que ele confessou em acordo de colaboração firmado com o grupo de trabalho da Lava Jato no âmbito da Procuradoria-Geral da República (PGR). No afã de se apaziguar com Lula, Toffoli não teve o cuidado de observar que Léo Pinheiro jamais poderia ser “vítima” de “conluio” entre o então juiz Sergio Moro e a força-tarefa de Curitiba porque seu acordo de colaboração foi firmado, em 2019, sob os auspícios de Raquel Dodge, então à frente da PGR, sendo homologado meses depois pelo ministro Edson Fachin.
Mas sigamos. É de civilização que estávamos tratando quando Ricardo Lewandowski, então ministro do STF, obliterou o trabalho do Congresso que resultou na Lei das Estatais, e isso para atender aos interesses de um governo do qual ele logo faria parte? Civilizar o País, por acaso, é fazer letra morta da lei que moralizou a gestão de empresas como a Petrobras após a razia promovida pelos governos lulopetistas, seja por má gestão, seja pelo enriquecimento ilícito dos criminosos apanhados pela Lava Jato?
É de civilização que estamos tratando quando ministros do STF viajam mundo afora às expensas de indivíduos e empresas que têm seus interesses diretos em jogo na Corte? Com notável arrogância, Barroso desdenhou da necessidade de um código de conduta para ele e seus pares, pois já há a Lei Orgânica da Magistratura – uma lei que muitas vezes os próprios ministros não cumprem – e o controle da TV Justiça, como se os casos de conflito de interesses se estabelecessem diante das câmeras.
Diz-se com razão que o STF carece de autocontenção. Antes a Corte carecesse só disso.

01 outubro 2024

Revelados dois caminhos para se eliminar a ditadura brasileira

 


A colunista de O Globo, Malu Gaspar, está noticiando as ações nos EUA contra a censura e a tirania no Brasil. Um grupo de congressistas republicanos dos Estados Unidos apresentou um projeto de lei que visa restringir a cooperação financeira e judicial com o Brasil, caso medidas sejam consideradas censura à liberdade de expressão. Liderado por Chris Smith, o projeto é co-assinado por Jim Jordan e María Elvira Salazar. Tem como alvo o ministro Alexandre de Moraes, do STF, devido a suas decisões em casos como o inquérito das fake news e a suspensão da rede social X no Brasil. O projeto proíbe cooperação judicial entre os dois países se for constatado que as medidas brasileiras facilitam censura, especialmente envolvendo plataformas digitais.
Acesso aqui
As ações de Moraes, incluindo multas contra o X e a suspensão de perfis de direita, como o do jornalista Paulo Figueiredo, são citadas como exemplos de censura. O projeto também proíbe cooperação sob a Lei de Assistência Estrangeira de 1961, usada para cooperação militar entre Brasil e EUA, para entidades envolvidas em censura. A ofensiva americana contra o STF ganhou força após a suspensão do X no Brasil, e inclui um pedido de revogação dos vistos dos ministros do STF. O tema gera desconforto nos EUA, mesmo sob a administração Biden, dada a sensibilidade em torno da liberdade de expressão garantida pela Primeira Emenda da Constituição americana.



Esse projeto de lei mostra a ORÍGEM da censura no Brasil em um relatório devastador. O projeto cria dois caminhos para se eliminar a ditadura brasileira na sua raiz:

i) o fim da cooperação entre qualquer autoridade americana e os censores brasileiras; e 

ii) o fim do financiamento das ONGs que, conveniadas com o TSE e STF, produziram toda a base teórica fajuta e viabilizaram o "combate à desinformação".

Leia a íntegra do projeto, em sua forma original, clicando aqui.

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PS.: Malu Gaspar é autora do livro "A Organização - a Odebrecht e o esquema de corrupção que chocou o mundo". Nele, Malu destrincha, de forma eletrizante, a história completa (e a secreta) da ascensão, do auge e da queda da Odebrecht. A engrenagem de um sistema de pagamento de proprinas que parecia inviolável. As relações de confiança entre políticos de todos os espectros ideológicos e os maiores empreiteiros do Brasil. Bastidores nunca vistos da Lava Jato. Uma guerra sangrenta entre pai e filho pelos rumos de um colosso empresarial ameaçados de morte.