"Na trilha do dinheiro de Chávez: dois presos com muito a revelar", é o título de uma matéria da Veja, publicada esta semana, 20/10/2021, que pode ser lida através deste link, na qual se comenta a prisão de ex-colaboradores do regime chavista.
A matéria aponta que um deles é Alex Saab empresário colombiano que se tornou uma figura importante nos subterrâneos do chavismo, e foi deportado de Cabo Verde para os Estados Unidos no sábado passado. Outro é Hugo Carvajal, considerado um dos mais importantes operadores da rede de narcotráfico na Venezuela, ex-chefe do serviço militar de inteligência, que caiu numa armadilha feita por seus próprios colegas e teve que fugir da Venezuela depois de declarar apoio ao oposicionista Juan Guaidó. Carvajal era o “espião dos espiões”, o homem encarregado por Chávez de ficar de olho no seu entorno mais próximo, principalmente os líderes militares que juravam lealdade e poderiam traí-lo.
A reportagem selecionou, sob sua ótica, o trecho mais significativo que o Carvajal entregou à justiça:
... “Enquanto fui diretor de Inteligência e Contrainteligência Militar da Venezuela, recebi uma grande quantidade de informes assinalando que o financiamento internacional estava ocorrendo”. ...
... “Exemplos concretos são: Néstor Kirchner na Argentina, Evo Morales na Bolívia, Lula da Silva no Brasil, Fernando Lugo no Paraguai, Ollanta Humala no Peru, Zelaya em Honduras, Gustavo Petro na Colômbia, Movimento Cinco Estrelas na Itália e Podemos na Espanha. Todos estes foram registrados como receptores de dinheiro enviado pelo governo venezuelano”.
Em seguida traz outras informações que tentam demonstrar um pouco o caminho dessas operações, com "portos" em vários países do mundo.
Tais revelações não são novidades e muitas delas já foram publicadas pela Veja em seus velhos e gloriosos tempos de uma imprensa com letra maíuscula, e não as minúsculas dos tempos atuais.
Esses registros também podem ser encontrados no livro "Hugo Chávez: o espectro", publicado em janeiro de 2018, de Leonardo Coutinho, jornalista há mais de 20 anos, dezessete deles na revista Veja. O livro mostra, detalhadamente, como o presidente venezuelano alimentou o narcotráfico, financiou o terrorismo e promoveu a desordem global, com pretensões que iam muito além da América Latina.O livro nos conta que em entrevista concedida ao próprio Leonardo, em 01/08/2015, em Washington, DC, um exilado venezuelano, ex-executivo da PDVSA, reafirmou que dezenas de malas de dinheiro "desceram da Venezuela" rumo ao sul. Segundo ele, "esse dinheiro foi utilizado por chavistas para patrocinarem as campanhas de Evo Morales, na Bolivia, Pepe Mujica, no Uruguai, Fernando Lugo, no Paraguai, e Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil", p. 42, livro capa dura.
E por falar em eleições, Leonardo confirma (p. 40), o que os brasileiros souberam durante as eleições de 2012 e 2014 no Brasil. Trata-se das impressões digitais deixadas pela empresa Smartmatic nessas eleições. A Smartmatic foi contratada pelo TSE para cuidar da atualização do software utilizado nas urnas eletrônicas e prover tecnologia para transferência de dados. A Smartmatic é umbilicalmente ligada ao chavismo. Sua criação contou com o financiamento secreto do governo venezuelano e é a responsável pelas eleições venezuelanas.
Em todos os capítulos do livro, há fatos que conectam o Brasil e a Venezuela durante os treze anos de governo petista. Contudo, sua última parte, seu posfácio - E o Brasil com isso? - é dedicado ao nosso País, p. 183-94. Resumiremos a seguir três de seus seis subtítulos: " Sob as ordens de Chávez" - "O Brasil bolivariano" - "Affair totalitário".
Sob as ordens de Chávez
Foi por meio da Lava Jato que se pôde ver as bizarras relações que o Brasil estabeleceu com os governos bolivarianos. Emilio Odebrecht revelou os bastidores de como Chávez lhe encomendou a construção do porto de Mariel, em Cuba, para ajudar o regime dos irmãos Castro. Segundo Emílio, bastou uma ligação de Chávez para Lula.
E assim foi feito. Lula interveio junto ao BNDES para conceder empréstimos que somaram US$ 682 milhões. Para se liberar o financiamento, foram negligenciados vários pareceres técnicos desfavoráveis. Emílio disse aos procuradores da Lava Jato que, em condições normais, nem o BNDES, nem a Odebrecht entrariam no negócio. Como se tratava de uma operação totalmente atípica, o contrato foi classificado como secreto até o ano 2027.
Contudo, os delírios de Chávez com a cumplicidade de Lula iam mais longe. Atingiram proporções superlativas e nada se iguala ao prejuízo, causado ao Brasil, pela construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Projetada ao custo de US$ 2,5 bilhões em 2005, só chegou a ser inaugurada em 2017, sem estar concluída, tendo custado US$ 20,1 bilhões, sem nenhum investimento venezuelano como incialmente previsto e produzindo apenas 110 mil barris diários, menos da metade dos 230 mil para os quais fora projetada. Para se ter uma idéia comparativa, no mundo a maior refinaria está na India, com processamento de 1,2 bilhão de barris/dia e consumiu US$ 30 bilhões. Em valores proporcionais custou sete vezes menos que o projeto chavista.
O Brasil bolivariano
Os bilhões de dólares torrados pelo Brasil na aventura bolivariana do chavismo se tornaram ínfimos diante do prejuízo institucional. Em junho de 2011, após seis meses de ter assumido o Planalto, Dilma Rousseff recebeu a visita de Chávez. Dilma não esperou um minuto para dizer ao colega que não se preocupasse. Lula tinha ido embora, mas com ela seguia tudo igual.
Dilma lhe informou que estava "trabalhando" o Congresso do Paraguai para aprovar a entrada da Venezuela no Mercosul. Como moeda de troca, Dilma submeteu ao Congresso brasileiro um projeto de reajuste de 200% do valor pago pelo Brasil pelo excedente de energia gerada em Itaipu pelo Paraguai. Dilma fez subir de US$ 120 milhões para US$ 360 milhões o custo da aquisição do excedente de energia. Mas o plano de Dilma fracassou: os senadores do Paraguai agradeceram o presente e rejeitaram o pedido de autorização de admissão da Venezuela no Mercosul.
Dilma e Chávez perderam também a próxima batalha travada no Paraguai ao tentarem impedir o impeachment do presidente Fernando Lugo. Contudo não desistiram e planejaram um castigo a ser aplicado ao Paraguai. Alegando rompimento democrático no país vizinho, Dilma, em conluio com a Cristina Kirchner, pediu a expulsão do Paraguai do Mercosul. Conseguiu a suspensão ao conquistar os votos da Argentina e do Uruguai.
Affair totalitário
... "Em 2010, sob o pretexto de "defesa dos direitos humanos", o governo Lula tentou emplacar uma lei de meios que foi interpretada pelo setor como uma medida que restringiria a liberdade de imprensa. O aparelhamento da máquina estatal chegou a contar com mais de 107 mil funcionários ocupando cargos sem concurso público. FHC deixou o governo em 2003 com menos de 19 mil servidores nessa situação. No episódio do Mensalão, na falta de uma base política, comprou-se uma."...
... "Apesar disso em treze anos de governos definidos como de esquerda, nenhuma dessas medidas prosperou, mas elas tiveram efeito sobre a percepção do que seja autoritarismo para os brasileiros. Por mais paradoxal que pareça, o mesmo Brasil que flerta com modelos ditatoriais tem aversão a eles. Os mesmos 23% da população que se dizem favoráveis a um governo militar são aqueles que também rejeitam o avanço do totalitarismo da esquerda. Boa parte dos eleitores que abominam movimentos e candidatos que pregam as virtudes do regime militar são aqueles que toleram e justificam os crimes e os desmandos da esquerda. O que sugere que ambos os polos do espectro político brasileiro tolerariam uma inflexão ao totalitarismo. Cada um deles conforme a sua preferência política." ...
... "O Brasil jamais precisou ser uma cópia exata do vizinho para reproduzir alguns de seus exemplos mais sinistros. Este por sinal foi o legado de Chávez também para o Brasil. Ele está presente, mesmo quando não pode ser visto. Este é o seu espectro."
vivemos dias incríveis.
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