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07 julho 2021

CUBA: AS ASPIRAÇÕES DE FIDEL IAM ALÉM DO ÂMBITO LOCAL

Capa do livro "A vida secreta de Fidel: as revelações de seu guarda-costas pessoal", escrito por Juan Reinaldo Sánchez e Axel Gyldén, em tradução de Júlia da Rosa Simões. 
Sánchez viveu por 17 anos, 1977-94, na intimidade do "líder" como seu guarda-costas pessoal. Posteriormente, jogado na lata do lixo, foi preso, torturado e quase eliminado, cumpriu 2 anos de cadeia (1994-96). Em 2008, depois de 10 tentativas de fugas infrutíferas, conseguiu se evadir para os EUA. 
No último final de semana (4/jul), o presidente Jair Bolsonaro trouxe ao conhecimento público uma das práticas de chantagem muito utilizada em Cuba, e em todos os países comunistas também, sob o argumento de que parece que esse procedimento estar sendo utilizado atualmente no Brasil, para atender ao conhecido chantageador brasileiro - Daniel - que frequentou os "bancos escolares cubanos", recebendo o respectivo treinamento, durante os anos 1970-75.

Fidelidade ao conforto capitalista

O autor afirma que Fidel nunca renunciou ao conforto capitalista, nem escolheu viver com austeridade.

"Ao contrário do que sempre afirmou, Fidel nunca renunciou ao conforto capitalista, nem escolheu viver com austeridade. Seu modo de vida é exatamente o oposto, assemelha-se ao de um capitalista sem qualquer tipo de restrição. Nunca considerou ter que seguir seus discursos sobre o modo de vida austero próprio a todo bom revolucionário. Ele e Raúl nunca aplicaram a si mesmos os preceitos que recomendavam aos compatriotas."

Tráfico de drogas

"Entendi que o homem a quem eu sacrificava minha vida desde sempre, el líder que eu venerava como um deus e que, a meus olhos, era mais importante que minha própria família, estava envolvido no tráfico de cocaína a ponto de comandar operações ilegais como um verdadeiro mafioso. Aterrado, coloquei o fone no lugar e girei a chave para cortar o microfone no. 1, de repente sentido uma imensa solidão ...."

O caso Ochoa

Em seguida, o autor afirma que só tarde demais foi compreender que Fidel Castro utilizava as pessoas enquanto elas lhes fossem úteis, e depois as jogava no lixo sem o menor escrúpulo, sendo ele próprio uma das vítimas. Contudo, o caso mais emblemático nesse sentido é conhecido como o "caso Ochoa", ocorrido em julho de 1989, para esconder da população a liderança (ele próprio) do tráfico de drogas que ocorria na Ilha em larga escala.

"Essa espécie de "caso Dreyfus do castrismo" ficará como uma mancha indelével na história da Revolução Cubana. Após um processo stalinista televisionado, ainda vivo nas nossas memórias, usaram Arnaldo Ochoa, herói da nação e general mais respeitado da Ilha, para dar exemplo e o condenaram e fuzilaram por tráfico de drogas ao lado de três outros membros da mais alta hierarquia militar. Ora, pertencendo ao circulo mais íntimo do poder, eu sabia muito bem que esse tráfico, destinado a arrecadar divisas para financiar a Revolução, tinha sido organizado com o aval do Comandante, que portanto estava diretamente ligado ao "caso". Para melhor se proteger, Fidel Castro não hesitara em sacrificar o mais valoroso e fiel de seus generais, Arnaldo Ochoa, herói da Baía dos Porcos, da Revolução Sandinista na Nicarágua e da guerra  contra a África do Sul em Angola.

As aspirações de Fidel iam além do âmbito local

"As aspirações do líder máximo iam muito além do âmbito local, inscritas num projeto continental, ou planetário, no centro da Guerra Fria. As ambições de Fidel não se limitava a Cuba. Castro queria exportar sua revolução para todo o mundo, a começar pelo continente latino-americano, onde queria criar "um, dois, três Vietnã", segundo a teoria castrista do foco, ou foquismo."

"Popularizada por Ernesto Che Guevara, essa doutrina afirmava que multiplicando os focos de insurreição rural, esses primeiros pontos se propagariam como um incêndio até as grandes cidades, e depois para o país como um todo. Em 1967, o francês Régis Debray desenvolveu essa idéia em Revolução na revolução, livro de sucesso fenomenal. Foi esquecido, nos meios universitários dos cinco continentes esse best-seller se tornou uma obra de referência para todos os movimentos de guerrilha e seus futuros combatentes, tanto na América Latina quanto na África e no Oriente Médio."

Repercussões no Brasil. Relatório do Arquivo Público do Estado do Rio mostra que esquerdistas buscaram ajuda militar na ilha antes da revolução de de 31/03/1964

Até agora, os historiadores acreditaram que o suporte do regime nascido com a Revolução Cubana de 1959 a esquerdistas brasileiros começou durante o governo João Goulart (61-64), intensificando-se após o movimento militar de 64. Na verdade, o apoio veio de antes.

Em maio de 1961, o dirigente do PCB (Partido Comunista Brasileiro) Jover Telles escreveu quatro páginas intituladas "Relatório à Comissão Executiva sobre minhas atividades em Cuba".

No documento, endereçado ao núcleo supremo do CC (Comitê Central) do partido, ele detalhou o dia-a-dia da sua missão. Telles chegou a Havana em 30 de abril de 1961. Deixou a cidade em 23 de maio. No item 12 do relatório, Telles escreveu: "Curso político-militar: levantei a questão. Estão dispostos a fazer. Mandar nomes, biografia e aguardar a ordem de embarque".

Na mesma época, o líder das Ligas Camponesas, Francisco Julião (1915-99), estava em Havana tratando do apoio cubano à luta armada. No item 13, Telles contou que "Julião começou a falar em pedido de armas etc. (...) Dei opinião contrária, por dois motivos: a) poderia ser o pretexto para uma grande provocação e para o rompimento de Jânio com Cuba; b) o assunto não estava em boas mãos. Que discutissem o assunto com Prestes (Luís Carlos Prestes, secretário-geral do PCB), quando lá fosse".

Em maio de 1961, também estava em Cuba, conforme o relato de Jover Telles, um dos precursores da guerrilha socialista no Brasil, Clodomir dos Santos Morais, advogado que comandava um grupo de líderes das Ligas Camponesas e pregava -sem sucesso- a adesão do PCB à luta armada. Acabou expulso do partido.

O fundamental da narrativa de Jover Telles é a concordância dos cubanos em promover cursos militares. Embora inédita, essa não é uma informação de todo surpreendente.

"Desde o início (1959) os cubanos estavam convictos de que a luta armada era o caminho da revolução", diz o historiador Jacob Gorender, 78, que em 1961 era membro do CC do PCB. "Para mim, porém, o relatório é novidade. Deve ter circulado por poucas pessoas."

A fortuna do Comandante

"Fidel Castro é rico? Tem uma fortuna escondida? Dispões de uma conta secreta num paraíso fiscal? Está cheio de ouro? Ouvi perguntas como essas inúmeras vezes. Em 2006, a revista americana Forbes tentou responder a elas publicando um artigo sobre as fortunas dos reis, das rainhas e ditadores do planeta. A de Fidel apareceria entre as dez primeiras, ao lado da de Elizabeth  II, do príncipe Alberto de Mônaco e do ditador  guinéu-equatoriano Teodoro Obiang. A cifra de 900 milhões de dólares foi sugerida a partir de uma extrapolação: a revista atribuiu a Fidel Castro uma parte da receita de empresas criadas e controladas pelo Comandante (Corporate Cimex, El Centro de Convenciones e Medicuba), nas quais parentes e amigos geriam por ele o dinheiro. Baseando nos testemunhos de vários altos funcionários cubanos que tinham desertado, a revista afirmou que Fidel desviava e utilizava uma parte importante da riqueza nacional a seu bel-prazer. Não é mentira. 

Ninguém nunca terá condições de avaliar com precisão a fortuna do Comandante. Para chegar mais perto da verdade, porém, é preciso entender a realidade cubana, partindo do fato de que Fidel Castro reina como um monarca absoluto de 11 milhões de habitantes. Em Cuba, ele é a única pessoa que pode dispor de qualquer coisa, apropriar-se dela, vendê-la ou doá-la", disse o autor. 

Conclusão 

Nos parece que esta última lição também foi fielmente aprendida pelo aluno Daniel. Com outros nomes, tivemos aqui no Brasil, pelo menos, o mensalão e o petrolão, as mais conhecidas.


PS.:  Saiba o que quer Bolsonaro ao revelar quem é o chantageado e quem é Daniel aqui neste vídeo do Polibio Braga https://youtu.be/IKAgezhm8EI 

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