O livro "A vida secreta de Fidel: as revelações de seu guarda-costas pessoal", escrito por Juan Reinaldo Sánchez e Axel Gyldén, em tradução de Júlia da Rosa Simões, Sánchez nos diz que viveu por 17 anos, 1977-94, na intimidade do "líder" como seu guarda-costas pessoal. Posteriormente, jogado na lata do lixo, foi preso, torturado e quase eliminado, cumpriu 2 anos de cadeia (1994-96). Em 2008, depois de 10 tentativas de fugas infrutíferas, conseguiu se evadir para os EUA.
Sánchez nos conta as ambições de Fidel Castro, entre elas aquelas que extrapolavam o território cubano. Veja o que ele escreveu.
"As aspirações do líder máximo iam muito além do âmbito local, inscritas num projeto continental, ou planetário, no centro da Guerra Fria. As ambições de Fidel não se limitava a Cuba. Castro queria exportar sua revolução para todo o mundo, a começar pelo continente latino-americano, onde queria criar "um, dois, três Vietnãs" , segundo a teoria castrista do foco, ou foquismo."
"Popularizada por Ernesto Che Guevara, essa doutrina afirmava que multiplicando os focos de insurreição rural, esses primeiros pontos se propagariam como um incêndio até as grandes cidades, e depois para o país como um todo. Em 1967, o francês Régis Debray desenvolveu essa idéia em Revolução na revolução (1967), livro de sucesso fenomenal. Foi esquecido, nos meios universitários dos cinco continentes esse best-seller se tornou uma obra de referência para todos os movimentos de guerrilha e seus futuros combatentes, tanto na América Latina quanto na África e no Oriente Médio."
Repercussões no Brasil. Relatório do Arquivo Público do Estado do Rio mostra que esquerdistas buscaram ajuda militar na ilha antes no golpe de 64
Em maio de 1961, o dirigente do PCB (Partido Comunista Brasileiro) Jover Telles escreveu quatro páginas intituladas "Relatório à Comissão Executiva sobre minhas atividades em Cuba".
No documento, endereçado ao núcleo supremo do CC (Comitê Central) do partido, ele detalhou o dia-a-dia da sua missão. Telles chegou a Havana em 30 de abril de 1961. Deixou a cidade em 23 de maio. No item 12 do relatório, Telles escreveu: "Curso político-militar: levantei a questão. Estão dispostos a fazer. Mandar nomes, biografia e aguardar a ordem de embarque".
Na mesma época, o líder das Ligas Camponesas, Francisco Julião (1915-99), estava em Havana tratando do apoio cubano à luta armada. No item 13, Telles contou que "Julião começou a falar em pedido de armas etc. (...) Dei opinião contrária, por dois motivos: a) poderia ser o pretexto para uma grande provocação e para o rompimento de Jânio com Cuba; b) o assunto não estava em boas mãos. Que discutissem o assunto com Prestes (Luís Carlos Prestes, secretário-geral do PCB), quando lá fosse".
Em maio de 1961, também estava em Cuba, conforme o relato de Jover Telles, um dos precursores da guerrilha socialista no Brasil, Clodomir dos Santos Morais, advogado que comandava um grupo de líderes das Ligas Camponesas e pregava -sem sucesso- a adesão do PCB à luta armada. Acabou expulso do partido.
O fundamental da narrativa de Jover Telles é a concordância dos cubanos em promover cursos militares. Embora inédita, essa não é uma informação de todo surpreendente.
"Desde o início (1959) os cubanos estavam convictos de que a luta armada era o caminho da revolução", diz o historiador Jacob Gorender, 78, que em 1961 era membro do CC do PCB. "Para mim, porém, o relatório é novidade. Deve ter circulado por poucas pessoas."
A revolução da revolução
Já Régis Debray nos revela que o Peru, a Guatemala e o Brasil (São Paulo e Nordeste) foram os três países eleitos pelo "Bureau Latino-Americano" de Buenos Aires seção da "IVa. Internacional". Assim agiu Hugo Blanco, chegado a Argentina, com os camponeses do Valle de la Convencion. No Brasil, as ligas camponesas de Francisco Julião deviam ser "trabalhadas" no mesmo sentido.
"A concepção de organizar a insurreição armada por etapas através da chamada guerra do povo, é formal, burocrática e militarista. Leva no fundo à subestimação das massas, sua utilização e a postergação da sua intervenção direta".
Indo mais além no livro do Debray, em três páginas (28-30), ele nos dá a receita usada por um desses modelos de guerrilha. Dela me veio a lembrança da Guerrilha do Araguaia, ocorrida no início dos 1970, na região sul do Pará, local escolhido pelo PCdoB.
Da esq. p/ dir. em sentido horário: |
Contudo, " a preparação dos guerrilheiros do PCdoB remonta ao ano de 1964, quando os primeiros militantes iniciaram formação político-militar na China, visto que o Partido adotou a linha de guerra popular prolongada de inspiração maoista. Sua defesa da luta armada era anterior a 1964, e contrária à ideia de "foco" cubano e da revolução continental marxista-leninista. Entre 1964 e 1968, dezoito militantes haviam passado por treinamento militar na China, entre eles vários dos que agora se estabeleciam no Araguaia.[6] No Brasil, um primeiro grupo de futuros guerrilheiros realizou seus primeiros treinamentos numa casa em São Vicente, na Baixada Santista, sob a direção e articulação de Armando Gimenez – antigo diretor do PCdoB em São Paulo – e Osvaldo Orlando da Costa".[7] Entre outubro de 1973 e outubro de 1974 a guerrilha foi sistematicamente exterminada".
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