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08 junho 2023

Henry Kissinger completou 100 anos



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Kissinger nasceu na Alemanha em 1923, em família judia que, fugindo do nazismo, se radicou nos EUA em 1938. Após concluir seu PhD em Harvard em 1954, tornou-se professor daquela universidade e trabalhou também como consultor sobre política externa.

Com a eleição de Richard Nixon a presidente dos EUA em 1968, Kissinger foi indicado para chefiar o Conselho de Segurança Nacional - órgão vinculado à Casa Branca e de assessoria direta ao presidente.

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Coordenando o trabalho de outras agências do governo dos EUA (relações exteriores, inteligência, defesa), Kissinger transformou-se no centro operacional da política externa do país.

Em 1973, além de chefe do Conselho de Segurança Nacional, Kissinger foi indicado também ao cargo de Secretário de Estado (Ministro das Relações Exteriores), o único a ocupar os dois cargos simultaneamente na história dos EUA.

Depois da renúncia de Nixon em 1974, Kissinger permaneceu como chefe da diplomacia norte-americana durante o governo de Gerald Ford, até 1977. Mas o seu legado foi mais duradouro do que os oito anos em que ele geriu a política externa dos EUA.

Quando chegou à Casa Branca em 1969, Kissinger encontrou um cenário desfavorável aos EUA: a União Soviética estava em ascensão, a Guerra do Vietnã dilacerava a política e a economia americana, os protestos estudantis de 1968 questionavam a legitimidade da diplomacia do país.  


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Kissinger mudou esse panorama. Ele foi responsável por negociar o primeiro Tratado de Limitação de Armas Estratégicas e o Tratado de Mísseis Antibalísticos com a União Soviética, reduzindo significativamente a corrida armamentista entre Washington e Moscou.


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Kissinger e Le Duc Tho – ex-chefe do Partido Comunista do Vietnã – concluíram as negociações dos Acordos de Paz de Paris, que puseram fim à guerra entre seus países. Pela perseverança nessas negociações, ambos receberam o prêmio Nobel da Paz em 1973.

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Enquanto Kissinger chefiou a diplomacia americana, os EUA ratificaram o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP), em 1970, e a Convenção Internacional que proíbe o uso de armas biológicas, em 1975. Foi Kissinger que, com Zhou Enlai, abriu as comunicações diplomáticas entre os Estados Unidos e a China de Mao Zedong.


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A visita de Nixon a Pequim em 1972 – arquitetada por Kissinger e Enlai – foi uma das maiores jogadas políticas dos Estados Unidos no confronto com a União Soviética, ajudando na aproximação do gigante asiático com o Ocidente e enfraquecendo a posição geopolítica de Moscou.

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Ainda foi Kissinger quem negociou o fim da Guerra do Yom Kippur entre os estados árabes e Israel – e cuja diplomacia abriu caminho para os Acordos de Camp David.

Mas Kissinger também foi acusado de ser um estrategista atroz: antes de selar o término da Guerra do Vietnã, por exemplo, tentou enfraquecer a posição dos vietnamitas do norte por meio do aumento de bombardeios ilegais, ampliando o conflito para o Camboja e para o Laos. 

ImagemKissinger foi também acusado de ter sido negligente com a invasão do Timor Leste pela Indonésia, que resultou na morte de 150 mil pessoas – e der ter amparado politicamente as investidas militares do Paquistão contra Bangladesh. 

Ele apoiou supremacistas brancos no sul da África, bem como ditaduras militares na América Latina. O apoio dos EUA ao golpe no Chile é um dos exemplos mais clássicos. Na década de 2000, surgiram três ONGs dedicadas a levá-lo à justiça por crimes contra a humanidade.

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Bombardeio ao Palácio de la Moneda, Santiago, 11/09/1973

Kissinger é considerado um ícone do realismo na política externa: um calculista frio, que sabia manobrar o jogo de poder. Em 1956, ele afirmou a um amigo historiador que “a insistência na moralidade pura é em si a mais imoral das posturas, até porque muitas vezes leva à inação".

Mas Kissinger sabia que o realismo também podia ser paralisante. Ele pagou um preço pessoal elevado pelos fracassos diplomáticos da década de 1930, que levaram à 2a Guerra. Como ele apontou em 1957, os arquitetos britânicos do apaziguamento, “se consideravam realistas duros”. ImagemUma de suas vertentes analíticas – exposta desde os tempos de estudante em Harvard – é que a história não tem um significado predeterminado, o que permite espaços de manobras. A história fornece um palco sob qual operar, mas ela permite esculpir arranjos sociais desejados. Kissinger era um idealista no sentido filosófico. Sua tese em Harvard, “O significado da história”, foi uma crítica admirável da filosofia de Kant. Seu argumento central era que “a liberdade é uma experiência interior como um processo de decisão de alternativas significativas”. Ele escreveu que "qualquer que seja a concepção de alguém sobre a necessidade dos eventos, no momento de sua realização, sua inevitabilidade não pode oferecer nenhum guia para a ação". As ações são resultados da convicção e das escolhas.Kissinger também foi um antimaterialista convicto, tão hostil às formas capitalistas de determinismo econômico quanto ao marxismo-leninismo.

Era perigoso, ele argumentou em sua tese de conclusão de curso, permitir que “uma discussão sobre a democracia [se tornasse] uma discussão sobre a eficiência dos sistemas econômicos, que está no plano da necessidade objetiva e, portanto, discutível”.

Em contraste, Kissinger escreveu, “a intuição interior da liberdade rejeitaria o totalitarismo mesmo que fosse economicamente mais eficiente”.

“A menos que sejamos capazes de tornar os conceitos de liberdade e respeito pela dignidade humana significativos para as novas nações a muito alardeada competição econômica entre nós e o comunismo ficará sem sentido”.

Em outras palavras, os ideais democráticos tinham de ser defendidos por si mesmos, sem depender do sucesso material do capitalismo para defendê-los.

A vida de Kissinger perpassa mais de 1/3 da existência dos EUA como uma república independente. Sua influência para o desenho da ordem internacional do século XX é vasta. Não menos importante é sua influência intelectual.O estudioso de relações internacionais Hans Morgenthau certa vez descreveu Kissinger como Odisseu, “multifacetado”. Foi um estrategista atroz, um calculista frio, um idealista kantiano, um diplomata formidável. Um nome, enfim, que carrega, aos 100 anos, o peso da história.

Kissinger também participa de várias organizações que promulgam uma Nova Ordem Mundial. Dela assim se pronunciou (...) "Sim, muitas pessoas morrerão quando a Nova Ordem Mundial for estabelecida, mas será um mundo bem melhor para aqueles que sobreviverem".

Fonte: Diogo Ramos Coelho




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