Dentre as diversas reportagens publicadas em 2024, muitas delas mostram como nos últimos anos a economia da China tem lutado para cumprir as aspirações de uma população cada vez mais educada e os seus respectivos desafios em razão da grande frustração já registrada pelos jovens nos últimos anos.
Os dados coletados mostram que há projeções de mais de 12 milhões de novos graduados universitários em 2025, o que representa um vasto excesso de oferta considerando a taxa de desemprego juvenil do país de 18,8%. (Na realidade, a taxa é provavelmente maior porque os dados excluem estudantes ativos.)
A escassez de oportunidades de emprego significativas criou limites à mobilidade ascendente. Cargas de trabalho extenuantes e oportunidades decrescentes de avanço têm cobrado um preço psicológico dos trabalhadores, especialmente os mais jovens.
Em resposta, muitos jovens abraçaram o desafio silencioso que envolve evitar carreiras avançadas, adotando estilos de vida minimalistas e renunciando a aspirações tradicionais, como casamento ou propriedade de casa ou carro, para protestar contra as pressões sociais que estimulam a competição implacável.
Para outros, o desafio se tornou mais alto. As informações divulgadas pelos pesquisadores Ma Ziqi e Zhao Yunting levantaram a hipótese de que a “exclusão social”, que pode fazer o jovem sentir-se sistematicamente impedido de progredir financeiramente ou condenado ao ostracismo por causa de uma posição socioeconômica, é um impulsionador da vingança e ataques contra a sociedade porque tal exclusão promove isolamento, ressentimento e desespero.
A estagnação econômica só tem atiçado a violência. Na China, os aumentos tanto no crescimento do PIB quanto nos salários estão diminuindo, e o custo da moradia e da educação está aumentando. Esses desenvolvimentos estão gerando insegurança financeira entre os chineses, diminuindo suas esperanças de um futuro estável e próspero dentro do sistema atual.
A crise econômica também ajudou a exacerbar a desigualdade. O 1% mais rico da China agora controla mais de 30% da riqueza do país, enquanto a metade inferior da população controla apenas 6% — uma imagem gritante da polarização de recursos em um país supostamente comunista que valoriza resultados igualitários e o que o PCCh chama de "prosperidade comum".
Tal disparidade tem resultado em um acúmulo de estresses econômicos, sociais e psicológicos com pouca chance de liberação. E queixas não resolvidas ajudaram a criar um clima no qual as pessoas abraçam a violência por desespero. A governança opressiva (estatal) do PCCh só agrava a crise.
Da mesma forma, tais desigualdades estruturais têm alimentado uma variedade de manifestações nos últimos anos. Esses protestos destacam o crescente descontentamento entre diversos grupos e, para muitos, representam um protesto contra décadas de repressão.
Adicionalmente, para grande parte do público chinês, a atual violência estatal é uma continuação da repressão mais totalitária sofrida sob Mao Zedong desde o início dos anos 1950 até a Revolução Cultural de uma década, que terminou com a morte de Mao em 1976. As pessoas não tinham recursos durante a violência brutal daquela época, dado o controle total do estado sobre os recursos e a narrativa do país. Esses dias já se foram, mas o legado dessa violência continua vivo.
Com as devidas maquiagens e uma nova roupagem, é o retorno da escravidão conhecida. A China está passando neste momento pela mudança mais profunda desde os anos de Mao.
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