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13 dezembro 2024

Quem inventou o Ovo de Colombo?


 

A crônica a seguir, escrita pelo amigo de longa data, Álvaro Abreu, é sobre o livro mostrado na imagem acima,  de autoria de seu irmão Cláudio. A crônica e, claro, o respectivo livro, são de grande importância na história recente brasileira. Uma delas a que o Álvaro considera, com os devidos fundamentos,  um estelionato intelectual das ideias e criações de seu irmão.

No livro, como reportado na crônica, o leitor poderá conhecer, em detalhe, o que foi produzido, apresentado, enviado, recebido e utilizado por terceiros.

Já adquiri o respectivo livro pela Amazon. Sugiro, fortemente, aqui, a leitura da crônica e também a aquisição do livro citado.

Boa leitura.

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Quem inventou o Ovo de Colombo?

Nas crônicas anteriores escrevi sobre um show sensacional da banda Aurora Gordon, liderada por um filho de Afonso, meu irmão mais velho, com belas músicas e letras expressivas que ele criou, com parceiros, no início dos 70, do século passado. 

Aproveito o embalo familiar para contar a história de como surgiram as ideias do meu irmão mais novo, Cláudio, que apropriadas pela equipe econômica do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, viabilizaram a implantação do lendário Plano Real, que completou 30 anos. O assunto foi pauta da imprensa e de manifestações de júbilo e afago de egos de economistas que atuavam na PUC/Rio e no governo federal.

O Plano Real produziu resultados relevantes para o país, a começar pelo extermínio de uma inflação inercial que se mantinha na casa dos 40% ao mês e, também, ótimos resultados para o PSDB nas eleições de 1994, incluindo a presidência da República.

Não corro qualquer risco em afirmar aqui que foi Cláudio quem inventou e sugeriu que fosse adotada uma solução técnica inovadora e ainda totalmente desconhecida dos ambientes universitários e de órgãos governamentais. 

Posso garantir que a ideia de criar um indexador atrelado ao dólar para ser utilizado amplamente nas relações de troca no país surgiu durante uma conversa comigo na varanda de casa, em pleno verão de 1992/3. 

A coisa ganhou corpo no encontro que Cláudio teve com Betinho meses depois, quando ele esteve no BNDES em busca de apoio para o programa de combate à fome e à miséria.

O fato é que suas propostas nasceram no seu travesseiro e ganharam forma na sua mesa de trabalho no BNDES. Eufórico com suas ideias, tratou de apresentá-las aos seus dirigentes do Banco e, em seguida, de enviar seu trabalho para quase 200 profissionais, políticos e dirigentes de partidos políticos, entidades empresariais e órgãos públicos. Ele guarda até hoje todas as mensagens de agradecimento formais e educados que recebeu, incluindo as do próprio FHC e da sua equipe.

É fácil fazer uma linha do tempo precisa e completa dos acontecimentos, com tantas informações.

Para dar apenas um exemplo, a versão original do trabalho de Cláudio “A Indexação Diária Negociada - Contra o veneno da cobra, só o próprio veneno da cobra” é datada de 31.08.1993. 

Durante o segundo semestre de 1993, Cláudio foi criando expectativas e chegou a se animar quando soube que suas ideias estavam sendo analisadas e apresentadas em reuniões em Brasília com ministros e equipes econômicas, presidentes de partido e gente importante da política. Nunca foi convidado a participar de nenhuma delas nem viu seu nome citado em qualquer documento oficial nem em entrevistas ou matérias jornalísticas.

Meticuloso que só, movido por expectativas, desconfianças e muitas decepções, ele foi guardando reportagens, comentários animadores, respostas formais, educadas e tudo o mais, além de todas as versões de suas propostas.

Meses depois, em dezembro, a revista Exame publicou uma matéria em que um dos principais assessores do ministro FHC explica que a “URV se destina a funcionar como remédio contra mordida de cobra”.

Difícil mesmo é conseguir registrar e calcular a carga de emoções e quebras de expectativas que foram se acumulando com o passar dos dias, geradas pelo que considero um estelionato intelectual das suas ideias e criações.

Com o tempo passando e vendo as suas proposições, já rebatizadas, sendo noticiadas na imprensa, ele foi entrando em parafuso e ganhando uma tristeza grave e surda, fruto da sua impotência. 

Imagine saber pela imprensa que o seu Cruzeiro Cambial fora adotado silenciosamente pelos economistas oficiais e rebatizado como Unidade Real de Valor, a famosa URV.

No começo deste ano, com estímulos de parentes e amigos, Cláudio decidiu publicar um livro para contar a sua versão dos fatos e, sobretudo, pra lavar a própria alma e receber, ainda que tarde, um tanto de reconhecimento pelo que fez de bom pelos brasileiros. Nele, o leitor poderá conhecer, em detalhe, o que foi produzido, apresentado, enviado, recebido e utilizado por terceiros.

Recentemente foi o próprio André Lara Rezende que mencionou que a URV foi o Ovo de Colombo no Plano Real. 

Cláudio então resolveu batizar o livro de “O Ovo de Colombo do Plano Real”, depois de saber, pelo Google, que o truque do tal ovo foi na verdade inventado por Felippo Brunelleschi, um arquiteto italiano, mas foi Colombo quem ficou com a fama depois de apresentá-lo a espanhóis em um banquete. 

O fato é que, talvez por puro preconceito, os economistas da PUC e adjacências não tiveram coragem de admitir que foi um engenheiro quem, na época, deu a solução ao problema da inflação. Nem coragem, nem decência, pra ser mais exato.

Cláudio lançou seu livro, com muito sucesso, nessa segunda-feira, na livraria Argumento, no Rio de Janeiro. A versão impressa e a digital estão disponíveis na Amazon.

Vitória, 12 de dezembro de 2024

Alvaro Abreu

Escrita para A GAZETA

3 comentários:

  1. EXCELENTE RESGATE.

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  2. Assim como muuuuiitas coisas nesse Brasil. As pessoas se "apropiam" e "esquecem" o dono.

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  3. A Engenharia "engendrando" como é de seu íntimo. A novidade é "até na economia".

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