A Revista Oeste deste final de semana nos trouxe um artigo interessante, titulo deste post, sobre a vacinação anticovid no mundo e que se tornou um fator decisivo para o combate à pandemia contra o vírus chinês.
Mesmo sabendo-se que a vacina não funciona como um escudo absoluto, capaz de oferecer 100% de proteção, tem sido extremamente eficaz, sobretudo na redução do número de mortos, embora haja registros de casos de efeitos colaterais graves.
No entanto, aqui no Brasil, o assunto ultrapassou o espaço científico e descambou para mundo "político" e o debate sobre o tema se tornou proibido. As pessoas, perderam a sua liberdade de expressão e, indiretamente, a de decisão sobre tomar ou não a vacina.
Tais insanidades têm se manifestado de modos variados, inclusive por autoridades, facilitadas pela disponibilidade individual dos meios de comunicação através da Internet. Diante desses eventos, diria que alguns deles até histéricos, faço votos de que a leitura do artigo do Cristyan Costa possa contribuir para que não percamos nossa capacidade de lidar racionalmente com essa situação.
Boa leitura.
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O TABU SOBRE AS VACINAS
Na contramão de países desenvolvidos, o debate sobre o tema se tornou proibido no Brasil
Antes da pandemia de covid-19, ninguém chegava a um posto de saúde no Brasil para tomar vacina e perguntava a marca do imunizante, o país de fabricação, a tecnologia usada, o tempo que levou para ser desenvolvido, se os testes de fase 1, 2 e 3 foram cumpridos rigorosamente, se a refrigeração do produto estava adequada, se algum voluntário morreu pelo caminho. As pessoas simplesmente se vacinavam. Mas os tempos, hoje, são excepcionais.
Nunca na história as vacinas passaram por todas as etapas exigidas pela ciência em tão pouco tempo. Entre janeiro de 2020, quando os cientistas publicaram a sequência do coronavírus, e dezembro do mesmo ano, quando as primeiras vacinas foram aplicadas no braço da população, passaram-se apenas 11 meses. Além disso, é a primeira vez que a tecnologia de RNA mensageiro, empregada na fabricação de vacinas (caso da Pfizer e da Moderna), é usada em larga escala no planeta. Até o momento, já foram ministrados cerca de 10 bilhões de injeções pelo mundo. Mesmo assim, acompanhamos mais uma onda de contaminações, agora em razão da variante Ômicron. Pessoas vacinadas estão se infectando. É natural a desconfiança de parte da população, sobretudo depois de laboratórios, como a Pfizer, não se responsabilizarem por possíveis efeitos colaterais. Não se trata de negar a ciência. Mas, sim, de questionar e conhecer, com transparência, os fatos. Sem maquiagem. Sem politicagem. Sem interesses financeiros.
Discussão no exterior
Como qualquer remédio, as vacinas de todos os tipos podem causar efeitos colaterais adversos — em casos raros, podem deixar sequelas permanentes ou até mesmo causar a morte. Nem por isso deixam de ser recomendadas, e ainda são a melhor forma de prevenir e reduzir doenças infecciosas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 3 milhões de mortes são evitadas anualmente pela vacinação. Mas, durante a pandemia, falar sobre as possíveis reações causadas pelos imunizantes se tornou tabu na imprensa e até mesmo na comunidade médica de vários países.
Apesar disso, o Japão vem dando um bom exemplo de como tratar o tema. O governo investiu em uma campanha de conscientização dos benefícios de estar protegido do coronavírus. Ao mesmo tempo, deixou claro que, como quaisquer remédios, as vacinas podem provocar reações. Embora a população não tenha sido obrigada a se vacinar, o país lidera a vacinação entre os membros do G7.
O Ministério da Saúde japonês decidiu fazer estudos, além de observar trabalhos de outros países, e, no início de dezembro do ano passado, a autoridade sanitária listou a miocardite (inflamação do músculo cardíaco) e a pericardite (inflamação do tecido externo do coração) em jovens do sexo masculino como possíveis efeitos colaterais das vacinas contra a covid-19 da Pfizer e da Moderna.
Em abril do ano passado, a Alemanha e a Noruega publicaram um estudo descrevendo efeitos colaterais associados à vacina da AstraZeneca. O trabalho está na revista científica The New England Journal of Medicine. “Em primeiro lugar, os médicos devem estar cientes de que, em alguns pacientes, a trombose venosa ou arterial pode se desenvolver em locais incomuns, como o cérebro ou o abdômen, e se torna clinicamente aparente entre cinco e 20 dias após a vacinação”, informaram os autores da pesquisa.
Os cientistas mostraram também que, após a vacinação, as pessoas produziram anticorpos que afetaram as plaquetas — um componente do sangue envolvido na coagulação —, reduzindo seu número e favorecendo hemorragias, podendo causar óbito. Na Alemanha, foram estudados 11 pacientes com idades entre 22 e 49 anos.
Na pesquisa norueguesa, os cinco pacientes — com idades entre 32 e 54 anos — também apresentaram coágulos raros em locais incomuns, com redução no número de plaquetas entre sete e dez dias depois da vacinação. Quatro deles tiveram acidentes vasculares graves e três morreram. O estudo fez com que 19 países decidissem suspender o imunizante da AstraZeneca, devido a reações adversas. A aplicação do produto voltou a ser realizada depois de a “Anvisa” europeia (EMA, na sigla em inglês) informar que o benefício da vacina supera possíveis riscos.
Na semana passada, a EMA informou que as vacinas da AstraZeneca e da Janssen podem provocar mielite transversa, uma inflamação vertebral rara que causa fraqueza nos braços e nas pernas de seus portadores. A doença também provoca formigamentos, dormências, dores ou perda da sensação de dor, além de problemas nos sistemas urinário e digestivo.
Até nos Estados Unidos, onde a temperatura do debate sobre vacinação ferve, a “Anvisa” daquele país entendeu ser prudente mudar o rótulo da vacina da Janssen, devido a relatos médicos. Em julho de 2021, a FDA advertiu que pode haver um risco maior de uma condição neurológica rara, chamada síndrome de Guillain-Barré, entre as pessoas que foram vacinadas depois de 42 dias. Doença autoimune, a síndrome de Guillain-Barré provoca paralisia.
“Com base em uma análise dos dados do Relatório de Eventos Adversos da Vacina, houve 100 relatos preliminares após a vacinação com o imunizante da Janssen, depois de aproximadamente 12,5 milhões de doses administradas”, informou a FDA. “Desses relatos, 95 eram graves e exigiram hospitalização. Houve uma morte relatada. A cada ano, nos EUA, cerca de 3 mil a 6 mil pessoas desenvolvem síndrome de Guillain-Barré. A maioria se recupera totalmente do distúrbio.”
Interdição do debate no Brasil
Em países sérios, pessoas que trouxeram à tona os possíveis efeitos colaterais dos imunizantes não foram chamadas de “negacionistas” e de “antivacina”. No Brasil, porém, a história é outra. Quem quer que mencione o assunto corre o risco de ser censurado pelas agências de checagem. É o caso do colunista da Revista Oeste Guilherme Fiuza, que busca dar publicidade ao debate.
Médicos brasileiros que se dispõem a discutir a questão se tornaram alvos de ataques
O jornalista já foi censurado inúmeras vezes pelo Twitter ao citar que as vacinas anticoronavírus podem provocar efeitos colaterais. Entre os casos mencionados por Fiuza, está o do advogado catarinense Bruno Graf, que, aos 28 anos, morreu, em agosto de 2021, depois de tomar a vacina da AstraZeneca. A mãe de Bruno, Arlene Ferrari, conseguiu comprovar que o óbito se deu em razão do imunizante, depois de fazer um exame na Espanha. Mesmo assim, o caso parece não existir na grande mídia, e tampouco no mundo das big techs. A própria mãe de Bruno teve sua conta no Twitter derrubada por narrar a história do jovem nas redes. Outras big techs também puniram Arlene.
O tema foi tão contaminado pela polarização política que médicos brasileiros que se dispõem a discutir a questão se tornaram alvos de ataques. É o caso de Maria Emília Gadelha Serra, que assinou o laudo médico de Bruno Graf. A médica tem sido tachada de mentirosa por agências de checagem, por falar sobre possíveis efeitos colaterais das vacinas contra o novo coronavírus.
Ela já foi alvo da agência Lupa e do Estadão Verifica. “Chamam-me de mentirosa e de médica enganadora”, relatou. “Mas eles não me afetam.” Maria Emília também critica o sistema de registros de efeitos colaterais das vacinas oferecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Segundo a médica, o site é confuso, e muitas pessoas se queixam de não conseguir concluir o processo.
Além da perseguição, profissionais da saúde se sentem intimidados a falar sobre o tema, como o infectologista Francisco Cardoso. “Só trato desse assunto com colegas que estão pensando como eu”, afirmou. “Fora isso, nem discuto, porque é perda de tempo e virou Fla-Flu.” Segundo Cardoso, a comunidade médica não está dando atenção devida ao debate por medo.
“Quando os pacientes relatam possíveis reações da vacina anticovid-19, os médicos têm reações histéricas”, contou Cardoso. “É obrigação do médico registrar o efeito colateral da vacina, seja leve, moderado seja grave.” O infectologista acredita que não falar das reações também provoca desconfiança na sociedade.
Entre várias doenças infecciosas que surgiram com o tempo, grande parte pôde ser vencida com o surgimento dos imunizantes. A pandemia vai passar. As vacinas contra a covid contribuíram de maneira decisiva no combate ao coronavírus, principalmente na redução de mortes. Não se trata de guerra antivacina. Mas de luta pelo direito à informação e ao debate amplo. A ciência não pode ser um tabu.
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