Glen Weyl, economista americano, pesquisador da Microsoft e da Universidade Princeton, esteve recentemente no Brasil, para o lançamento de seu livro “Mercados radicais”, em coautoria com Eric Posner, professor da Escola de Direito da Universidade de Chicago .
Glen Weyl proferiu palestras em diversas instituições do eixo Rio-São Paulo e concedeu entrevistas. Em uma delas, ao Estadão, - integra acessível aqui - Glen teceu comentários sobre as propostas econômicas apresentadas pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes, e acendeu um alerta ao afirmar que poderão concentrar poder econômico e aumentar a desigualdade, sem resultar em mais crescimento econômico.
Veja a seguir alguns trechos dessa entrevista em que o autor sinaliza a possibilidade de geração de monopólios derivados do processo de privatização.
Reformas como as propostas, se não se controlar a competição, não se garantir que as coisas sejam constantemente realocadas para novos usos, chega-se a grandes monopólios. E provavelmente esses monopólios serão controlados pelo número pequeno de famílias que tradicionalmente tiveram o poder no Brasil.
Isso é muito perigoso, porque reduz a inovação e o potencial empreendedor. Foi o que aconteceu na Rússia, com os oligarcas.
Privatizaram tudo muito rapidamente e poucas pessoas ficaram com o poder. E então essas poucas pessoas ficaram amigas das pessoas do governo e eles protegeram uns aos outros.
O resultado seria mais concentração de renda e menos crescimento, menos dinamismo. Mais acordos corruptos entre os capitalistas e o Estado.
A ideia de que podemos simplesmente deixar o sistema de propriedade privada com o qual estamos acostumados funcionar e que isso levará a competição e produtividade no benefício dos mercados é completamente ingênua.
Glen Weyl alerta ainda que com a criação da internet, todos pensavam que isso iria abrir tudo para muita competição e, agora, temos o Facebook e o Google, que provavelmente têm mais poder do que qualquer outra organização na história humana.
Eles controlam de duas a três horas, na média, do tempo de cada pessoa mundo afora. Isso é a versão mais extrema de planejamento central (modelo econômico do Bloco Soviético) que já vimos e foi criada pelo “livre mercado”.
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O alerta está dado, embora para o Brasil ele já chega tardiamente. Ao longo de sua história, os monopólios estatais e privados têm sido a regra no País, incluindo famílias e/ou empresas tradicionais do Brasil somadas a outras tantas com origem no exterior. No momento há receio que isto suba mais um degrau, chegando ao nível de um determinado país oriental.
Conhecemos também a receita utilizada, até agora, no combate aos monopólios existentes: a criação de agências reguladoras para os diversos setores econômicos do País.
Entretanto, a sua implementação tem sido um fracasso. Em geral, as agências criadas não atuam, de forma equilibrada, na defesa do tripé consumidores, fornecedores e governo, além de terem se tornado cabides de empregos de partidos políticos que, por sua vez, atuam no interesse de parlamentares "amigos" dos donos das empresas que atuam nos respectivos setores.
Eita Brasil !
PS.: Comentários sobre o livro propriamente dito virão em posts futuros. Adianto aqui que o livro revela formas novas e ousadas de organizar os mercados para chegar ao bem comum. Mostra como a força emancipatória de mercados genuinamente abertos, livres e competitivos pode despertar o espírito adormecido de reforma liberal do século XIX e levar a maior igualdade, prosperidade e cooperação. Vai haver muito debate sobre isto. A conferir.