Segundo Paula Schmitt, "jornalista que apoia a censura é uma das aberrações mais esquizofrênicas que existem. Mas ele apoia para sobreviver, porque ele sabe que é medíocre e corrupto demais para competir com perfis anônimos que fazem mais jornalismo, sem cobrar nada".
A Paula explica isso muito bem em seu artigo, de hoje, publicado no Poder360, integralmente exposto mais adiante.
Nele, ela expõe o baixíssimo nível dos "jornalistas" brasileiros, em sua maioria, e seus respectivos empregadores. Ciente da sua inferioridade intelectual, o jornalista medíocre entende que apenas a eliminação do contraponto faz o seu ponto ter mérito, porque ele passa a ser o único ponto com autorização para ser feito.
Uma FOTOGRAFIA PERFEITA do jornalismo brasileiro atual.
Boa leitura.
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O jornalismo da mediocridade e a censura de mercado
Paula Schmitt 19.set.2024 (quinta-feira) - 5h53
Quem não estava debaixo de uma pedra em Marte já sabe que o X (ex-Twitter) foi suspenso no Brasil. Mas quem fingiu que estava em Marte e usou VPN para acessar o site pôde presenciar a cena mais esquizofrênica que existe: militontos comemorando a suspensão do X no próprio X, com postagens na plataforma. A ironia mandou lembranças, mas na escala de capacidade intelectual, existe um tipo ainda mais sem noção que o tuiteiro anti-Twitter, um ser que, vamos dizer assim, supera essa inferioridade: o jornalista que defende a censura.
Num mundo onde a mulher barbada saiu do circo, e em vez de cobrar para ser vista tem proteção da lei para que ninguém se atreva a lhe dar sequer uma olhada de lado, o jornalista que defende a censura consegue ser uma aberração ainda aberrante, um palhaço triste chorrindo no circo vazio da sua irrelevância. Sim, essa é a maior razão –e talvez a única– do jornalista que defende a censura: salvar seu emprego a todo custo.
O jornalista que apoia a censura está morrendo de inanição. Carente de audiência, credibilidade e respeito, ele sabe que só a eliminação de gente mais interessante e confiável pode lhe garantir alguma visibilidade. Para os jornalistas oficiais, mantidos vivos sob aparelhos pagos com dinheiro dos nossos impostos, o X já estava morrendo, e era melhor pra eles que os bons profissionais afundassem junto com o jornalista peso-morto. Em 29 de agosto, eu postei um tweet que mostra essa decadência de forma inequívoca. Os números são impressionantes.
Natuza Nery, jornalista da Globo, tinha retuitado uma postagem da firma que promovia seu trabalho. O tweet original do G1 tinha sido postado havia 8 horas –uma eternidade na internet, e mais ainda numa plataforma tão imediata e interativa como o X. O G1, é bom lembrar, tem mais de 15 milhões de seguidores no X. Mesmo assim, e mesmo com a ajuda de Natuza, a postagem do jornal só tinha sido compartilhada 6 vezes. Seis vezes em 8 horas.
Para o leitor ter uma ideia de tamanha irrelevância, eu, com pouco mais de 200 mil seguidores, consegui em só 4 minutos mais compartilhamentos do que a postagem do G1 de 8 horas antes (até 4ª feira [18.set.2024], meu tweet já teve 553 compartilhamentos).
O grande problema para a Globo e afins é que o X não apenas expunha a sua irrelevância, mas deixava a coisa explícita demais, inteligível até para a audiência da própria Globo. Em artigo publicado no Instituto Reuters nesta semana, 2 jornalistas de outros veículos confirmaram a tese de que a suspensão do X veio em boa hora –na hora certa para encobrir a perda de audiência. Um dos trechos mais engraçados da reportagem foi cortesia do editor do Núcleo, um jornal que ironicamente “foca na cobertura do impacto das redes sociais e inteligência artificial”. Segundo Sérgio Spagnuolo, o jornal que ele dirige nem se incomodou com a suspensão do X porque eles já iam sair de lá mesmo. De acordo com o artigo, “Spagnuolo diz que eles tomaram a decisão de sair do X/Twitter em agosto, algo que eles iam anunciar na primeira semana de setembro, precisamente a semana do bloqueio da plataforma.”
Ahan. Çei....
“Nós íamos dizer”, continuou Spagnuolo, “que [o X] deixou de ser uma boa plataforma para a conversa, ele não atinge tantas pessoas, ele não gosta de links [para jornais], ele tem um monte de conteúdo tóxico e sem moderação e um monte de mensagens radicais da direita. Nós íamos deixar o X até que ele melhorasse. No meio desse processo, o Twitter foi bloqueado”.
Ufa!, né, Sérgio? Rsrsrsrsr
Enquanto o chefe do Núcleo nos brindava com uma versão quem-desdenha-quer-comprar da sua relação com o X, a suspensão do site claramente lhe beneficiou, porque ao derrubar quem estava em queda (como o Núcleo), a suspensão prejudicou quem estava em ascensão, como os jornais e mídia alternativa que não se valem do dinheiro de bilionários ou da transferência compulsiva dos impostos. Para se ter uma ideia de como somos nós, os pagadores de impostos, que financiamos nossa própria desinformação, esta reportagem deste Poder360 mostra que de 2000 a 2016 “o Grupo Globo recebeu R$10,2 bilhões em publicidade federal”. Neste outro texto, o Poder360 mostra que, só em 2023, o gasto da União com publicidade na Globo foi de R$ 142 milhões.
Natalia Viana, também entrevistada pelo Instituto Reuters, revela que apesar de ser editora de um veículo chamado Agência Pública, sua preocupação parece bem privada. Em vez de falar do direito natural à liberdade de expressão e acesso à informação, Natalia comemorou o banimento do X para os usuários do Brasil. Vale notar um detalhe crucial, omitido na reportagem da Reuters: a Agência Pública pagava pelo selinho de mídia, financiando Elon Musk e o X com ao menos US$ 1.000 por mês. Mesmo assim, e mesmo estando no X desde 2011,ela tinha apenas 280 mil seguidores, cerca de um terço a mais do que eu que, diferentemente da Agência Pública, nunca paguei um centavo ao bilionário malvadão Elio Munchen.
É por essas e outras que o X incomoda –porque ele permite a uma pessoa sem dinheiro, como eu, ter mais visibilidade do que quem se dispõe a pagar por ela. Para mentes mentirosamente socialistas que adoram um capitalismo de compadrio, essa competição baseada no talento é inadmissível.
As falas de Natalia e Sérgio lembram aquele episódio do “South Park” em que um casal de exibicionistas loucos por atenção acha que disfarça seu propósito pregando o oposto do que faz. O casal, inspirado em Meghan Markle e Príncipe Harry, reclama da atenção da mídia, e sai pelo mundo fazendo uma turnê pedindo privacidade. Sob os flashes das câmeras de paparazzi, eles erguem cartazes pedindo para que “parem de olhar pra nós”. De novo, a síndrome da mulher barbada.
Jornalista que defende a censura sabe que suas ideias e seu jornalismo são medíocres, e que na ágora livre das redes sociais ele jamais venceria um debate. Por isso, jornalista medíocre não apenas quer a censura –ele necessita dela. Ciente da sua inferioridade intelectual, o jornalista medíocre entende que apenas a eliminação do contraponto faz o seu ponto ter mérito, porque ele passa a ser o único ponto com autorização para ser feito.
Esses jornalistas não são apenas medíocres, mas são acima de tudo mesquinhos, apequenados, e preferem morrer em grupo do que deixar que os melhores sobrevivam. Mal sabem eles que eles também serão eliminados do jornalismo, e terão que admitir que o que fazem é apenas propaganda para o regime. Esses jornalistas são como o negro que se junta aos seus algozes históricos para criticar o “privilégio branco”.
Aqui, quando o Roda Viva entrevistou o suposto assediador e pegador-de-partes íntimas Silvio Almeida, uma jornalista negra chamada Joyce Ribeiro diz que: “A conscientização dos brancos passa pela necessidade de maior distribuição da riqueza e de diminuição dos privilégios”. Parece mentira, mas é verdade. É isso mesmo, senhores: temos aqui uma pessoa que obviamente não fica nada a dever ao pior idiota da etnia branca, porque ela parece acreditar que direitos essenciais são privilégios.
Deixa eu explicar uma coisinha para os Pfizer Johnsons da oitava-dose: um futuro ditador do mundo que estivesse planejando controlar a sociedade e diminuir seus direitos conseguiria facilmente realizar seu sonho de controle total fazendo a própria população abrir mão dos seus direitos.
Com um pouquinho de sofisticação intelectual, o esquema se torna bastante óbvio: o futuro ditador iria fazer uma metade da população lutar pelo fim dos direitos da outra metade. Assim, depois de muito arjumento bradando que direito é privilégio, e depois que todos os negros se comprometessem publicamente com a teoria de que garantias essenciais são luxo indevido, o ditador iria agradecer a metade negra por trabalhar gratuitamente pelo regime, e revelar que agora é a sua vez, “obrigado por justificar moral e filosoficamente a sua própria escravidão”.
Para terminar, deixo aqui algumas considerações sobre um artigo condenando a proibição do X aos brasileiros, escrito por uma jornalista estrangeira. Diferentemente dos jornalistas medíocres que precisam eliminar a competição para ter uma chance no mercado de inanidades, a ex-repórter do New York Times Taylor Lorenz lamentou o fechamento do X no Brasil, e falou de um elemento que passou batido por Spagnuolo e Natalia Viana: o povo brasileiro –aquele que está sendo privado de se manifestar, de acessar o conteúdo que lhe interessa, e de conseguir informação que a mídia financiada pelos grandes grupos econômicos é paga para não publicar.
Publicado na plataforma Substack, o artigo também alerta a um ponto que tinha passado batido até por mim: não foi só o povo brasileiro que foi privado do X. O X e o mundo que lhe usa como praça pública também foi privado do público brasileiro.
Taylor diz que os brasileiros adquiriram um poder descomunal na “formação da narrativa da cultura pop”, e alguns perfis conseguiram “sozinhos ressuscitar shows da TV norte-americana, filmes e música” e influenciar os rumos da cultura global. Outros perfis serviam como arquivistas da TV e da indústria de entretenimento, mais ou menos como é o trabalho do jornalista Henrique Soldani, que garimpa e desenterra vídeos e entrevistas que a grande mídia já publicou e agora gostaria de esconder.
Taylor cita Alonso Gurmendi, professor de direitos humanos e Política na London School of Economics, que criticou publicamente a suspensão do X e a perda da “força massiva do Brasil na mídia”. A cultura pop na qual o brasileiro está desproporcionalmente presente “não é apenas um passatempo”, diz ela, “mas uma poderosa força social. Contas de fãs frequentemente se organizam em torno de questões sociais, movimentos políticos, e trabalham para fazer cobrança de figuras públicas”.
Essas vozes brasileiras foram todas caladas, mais especificamente 21,5 milhões delas, o número de brasileiros ativos no X. Como disse uma bibliotecária de internet e arquivista para Taylor Lorenz, “a perda das contas de fãs brasileiros foi um golpe enorme no coração da internet”.