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27 dezembro 2025

Iceberg verde e amarelo (*)


    O que se observa agora não é ruptura, mas fricção interna. O iceberg não começou a subir porque alguém descobriu, de repente, o óbvio “lulante”. Começou a se mover porque forças internas passaram a colidir. Quando vieram a público conversas impróprias, relações promíscuas e pressões envolvendo o caso Master — alcançando figuras centrais do Judiciário e do sistema financeiro — o problema deixou de ser periférico. A água começou a baixar por dentro.

    O dado mais revelador não está na denúncia, mas na sua procedência. Quando setores da mídia tradicional, historicamente integrados à engrenagem, passam a divulgar o que durante anos ajudaram a silenciar, não se trata de súbito zelo republicano. Trata-se de disputa. Alguém concluiu que preservar o sistema exige sacrificar partes dele. Não por justiça, mas por cálculo.

    É nesse ponto que Maquiavel entra sem ser chamado. O poder não se constrange em mudar de forma quando isso é necessário para conservar a substância. Resiste enquanto pode. Abafa enquanto funciona. Só muda quando o risco deixa de ser episódico e passa a ser estrutural. A mudança surge como técnica de conservação. São ajustes cirúrgicos, narrativas controladas, expurgos seletivos, reformas que tocam a superfície e blindam o núcleo.

    No Brasil, tristemente, a mudança raramente aponta para ruptura. Aponta para continuidade administrada. Não quebra o iceberg. Apenas o empurra alguns metros para o lado, reorganiza o tráfego, rebatiza compartimentos e retoma a navegação.

    É, lembram da frase do Temer? “Tem que manter isso aí, viu?”. Pois é. E seguem chamando isso de democracia, de Estado de Direito, de amadurecimento institucional, de progresso, de preferência verde e amarelo.

E o silêncio retorna… Até que outra ponta emerja …

(*) Trechos do artigo " Iceberg verde e amarelo", de Alex Pipkin.

2 comentários:

  1. O pior é que novas pontas estão emergindo e nada, absolutamente nada está sendo feito.

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  2. Note que o científico diz 1/8 é o visível. No caso do iceberg verde-amarelo acredito que a proporção seja muito, mas muito menor. No mínimo o dobro, 1/16 sendo conservador. Muito conservador.

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