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08 junho 2023

O tempo não volta atrás

Em seu retorno ao poder, Lula tenta fazer o relógio voltar aos seus "bons" dias de governos passados. Mas as coisas mudaram muito no Brasil (e no mundo) nos últimos dez anos 

A série de erros cometidos por Lula no seu novo governo mostra que o presidente brasileiro não entende as mudanças ocorridas nos últimos anos ou se apega a uma estratégia que o leva ao fracasso.

Nesse sentido, no plano interno merecem destaques negativos a composição de seu governo em quantidade de novos cargos criados, na qualidade de seus ocupantes bem como nos critérios adotados para sua seleção. Segue-se a tudo isso as suas derrotas no Congresso Nacional e a sua subserviência ao STF, além de um dia a dia desmoralizante como as notícias sobre os gastos efetuados com móveis para o Palácio da Alvorada, com o uso de helicópteros e aviões etc. etc. etc.

"Até agora, em seu governo, os “pobres” não viram um tostão das fortunas que seriam entregues a eles. Quem está ganhando, como sempre, é o Brasil Velho dos políticos mercenários, dos marajás do serviço público e de todos os outros parasitas que prosperam com o dinheiro dos impostos – ou seja, com o trabalho do povo brasileiro. Os 5 bilhões de reais queimados até agora para garantir a “governabilidade” não resultam em nada de útil para a população que está pagando por tudo isso. Não geram um único emprego. Não respondem por um decimal de crescimento econômico. Não fornecem nenhuma oportunidade a quem precisa. Não melhoram em nada a saúde, a educação ou a segurança do país. Só produzem um governo ainda mais obeso, mais inepto e mais caro do que já é", escreveu J. R. Guzzo em sua última coluna na Revista Oeste.

No plano externo, sua obsessão para que seja reconhecido como um líder mundial tem produzido resultados irrelevantes e o colocado cada vez mais insignificante. Vários são os deslizes já contabilizados. Por exemplo, o que ocorreu na recente cúpula do G7, onde Lula chegou querendo traçar uma agenda bem diferente da dos EUA e da Europa, apoiando um suposto plano de paz chinês para a guerra na Ucrânia. Sua tentativa de ficar equidistante de Moscou e Kiev, e seus passos um tanto ridículos para evitar um encontro com o presidente Zelensky, foram assuntos da mídia global e geraram profundo desgosto em Washington e Bruxelas.

Sua segunda tentativa foi ainda mais negativa. Ele convocou todos os líderes regionais para um "retiro espiritual" em Brasília para relançar as relações e o comércio em nível continental, colocando-se no centro do processo e buscando exibir a sua liderança.

Contudo, Lula cometeu um erro decisivo. Ao receber o ditador venezuelano Nicolás Maduro na véspera do encontro, ele fez uma série de comentários totalmente inoportunos, defendendo o regime venezuelano, buscando "limpar" a imagem de um ditador, e dizendo que as denúncias de violações de direitos humanos e a falta de liberdade política na Venezuela são apenas uma questão de “narrativas”.

O tiro saiu pela culatra. O pronunciamento do presidente uruguaio Lacalle Pou, posicionando-se contrariamente ao que disse Lula sobre o Maduro, o projetou como novo líder político no continente. E para surpresa de praticamente todos os participantes do encontro, Lacalle contou com um alado inesperado: o presidente chileno Gabriel Boric. Apesar de sua visão esquerdista, Boric não apoiou a hipocrisia de muitas pessoas de seu campo ideológico sobre o que está acontecendo na Venezuela, Cuba e Nicarágua, e endossou as palavras do presidente uruguaio.

Last but not least, na verdade, Lula tem sido um fracasso retumbante para a política externa brasileira. Longe de se posicionar como o líder natural da região, Lula ficou em péssima posição, questionado, e com sua credibilidade na opinião pública continental e mundial, seriamente afetada.

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