A corrida global pelo poder computacional está bem encaminhada, alimentada por um boom mundial na inteligência artificial. A OpenAI, está tentando levantar até US$ 7 trilhões para um empreendimento de fabricação de chips.
Gigantes da tecnologia como Microsoft e Amazon estão construindo seus próprios chips de IA. A necessidade de mais potência computacional para treinar e usar modelos de IA – alimenta uma busca por tudo, desde chips de ponta até conjuntos de dados gigantes – e isto não é apenas uma fonte atual de alavancagem geopolítica (como acontece com as restrições dos EUA às exportações de chips para a China). Também está a moldar a forma como as nações crescerão e competirão no futuro, com governos da Índia ao Reino Unido a desenvolver estratégias nacionais e a armazenar unidades de processamento gráfico da Nvidia (1).
Chips atuam em todo o mundo
Big Techs entram na briga da fabricação de chips
Mas os EUA não são o único país que está tentando transferir parte da cadeia de fornecimento de fabricação de chips. O Japão está a gastar 13 bilhões de dólares, a Europa gastará mais de 47 bilhões de dólares e, no início deste ano, a Índia anunciou um esforço de 15 bilhões de dólares para construir fábricas locais de chips. As raízes desta tendência remontam a 2014, diz Chris Miller, autor de "Chip War: The Fight for the World’s Most Critical Technology", lançado em 2022. Foi quando a China aumentou a oferta de subsídios maciços aos seus fabricantes de chips.
“Isto criou uma dinâmica em que outros governos concluíram que não tinham outra escolha senão oferecer incentivos ou ver as empresas transferirem a produção para a China”, diz Miller.
"O Departamento de Defesa dos EUA está financiando muitas pesquisas sobre computação de ponta rápida e privada. Em março, sua ala de pesquisa, a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (DARPA) (2), anunciou uma parceria com a fabricante de chips EnCharge AI para criar um chip de computação de ponta ultrapoderoso usado para inferência de IA. A EnCharge AI está trabalhando para criar um chip que permita maior privacidade, mas que também possa operar com muito pouca energia. Isto o tornará adequado para aplicações militares, como satélites e equipamentos de vigilância fora da rede. A empresa espera enviar os chips em 2025", revela Miller.
As empresas que fornecem a maior parte de poder computacional, atualmente, são Amazon, Microsoft e Google. Durante anos, essas gigantes da tecnologia sonharam em aumentar suas margens de lucro fabricando chips para seus data centers internamente, em vez de comprar de empresas como a Nvidia.
“Na verdade, trata-se de dar escolha aos clientes”, diz Rani Borkar, que lidera os esforços de hardware no Microsoft Azure. Ela diz que não consegue imaginar um futuro em que a Microsoft forneça todos os chips para seus serviços em nuvem: “Continuaremos com nossas parcerias fortes e implantaremos chips de todos os parceiros de silício com quem trabalhamos”.
Contudo, a Nvidia também está tentando o contrário. No ano passado, a empresa iniciou seu próprio serviço de nuvem para que os clientes pudessem ignorar Amazon, Google ou Microsoft e obter tempo de computação diretamente em chips Nvidia. À medida que esta luta dramática pela quota de mercado se desenrola, o próximo ano será sobre se os clientes veem os chips da Big Tech como semelhantes aos chips mais avançados da Nvidia, ou mais como os seus primos mais novos.
Pelo exposto acima, não se torna difícil deduzir que se está vivendo algo parecido como foi a disputa EUAxURRS, na década de 1960, para chegada do homem à Lua, vencida pelos EUA em 1969.
Portanto, não é desconhecido que os EUA há muito que se beneficiam da sua posição como motor global da inovação. Em computação avançada também. Tal como o programa Apollo reuniu o país para vencer a corrida espacial. Definir ambições nacionais para a computação não só reforçará a sua competitividade em IA nas próximas décadas, mas também impulsionará avanços em P&D em praticamente todos os setores que exigem computadores de alto desempenho. Quem quiser vencer essa guerra tem, portanto, que começar a estabelecer as suas bases agora.
A arquitetura de computação avançada não pode ser construída da noite para o dia. Ela é fundamental para a segurança e a prosperidade de uma nação, pois dela se precisará para se prosseguir com os avanços científicos em diversas áreas como: reações de fusão, descoberta de materiais avançados, segurança cibernética civil e militar, mercados financeiros, infraestruturas críticas, e muito mais.
Diferentemente de meados do século passado em que houve disputas pela corrida da bomba atômica e pela conquista espacial, agora muitas outras nações ao redor do mundo estão dedicando investimentos governamentais ambiciosos e sustentados à computação de alto desempenho e, portanto, quem não quiser correr o risco de ficar para trás, deverá ter o seu "Programa Apollo" para a era de IA. Certamente, estamos diante de uma corrida tecnológica que mais irá alterar o mundo na história da humanidade.
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(1) A produtora de placas de vídeo e componentes eletrônicos Nvidia ganhou ainda mais atenção do mercado ao apresentar um lucro de US$ 12,28 bilhões no quarto trimestre fiscal (2023). A Nvidia produz placas de vídeo e microprocessadores capazes de processar gráficos em data centers, computadores pessoais e videogames. Hoje o carro-chefe da empresa é o processador gráfico H100, que processa dados em modelos de grande escala (LLM), utilizados por empresas de IA generativa. O processador H100 é utilizado por empresas que criam chatbots e programas capazes de assimilar, decodificar e gerar informações em diversos formatos como vídeo, texto, imagem e som. No dia 13 de maio de 2019, quando a empresa começou a ser negociada no mercado brasileiro, a ação fechou a R$ 3,35, com volume de R$ 5,6 milhões. Até o momento, a valorização é de 2.330%. Na Nasdaq a Nvidia está próxima de um valor de mercado de US$ 2 trilhões, o terceiro maior dos EUA e o quarto maior do mundo.
(2) A DARPA, sigla para Defense Advanced Research Projects Agency, é uma agência do Departamento de Defesa dos Estados Unidos que tem um histórico notável de impulsionar inovações tecnológicas disruptivas. Na década de 1960, a DARPA embarcou em um projeto de pesquisa ambicioso chamado ARPANET, que se tornou a pedra fundamental da Internet moderna como a conhecemos hoje.
A ARPANET, que significa Advanced Research Projects Agency Network, foi concebida como uma rede de computadores robusta e resiliente que pudesse conectar centros de pesquisa e universidades nos Estados Unidos.
Embora a ARPANET tenha sido inicialmente projetada para fins militares, seu impacto transcendeu significativamente esse escopo original. A rede inovadora introduziu conceitos e tecnologias que se tornariam pilares da Internet moderna, como: Comutação de pacotes, Protocolo TCP/IP e Arquitetura descentralizada.
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