Em entrevista à revista Oeste deste final de semana, o jornalista Michael Shellenberger, afirmou:
"Estou otimista sobre o meio ambiente e pessimista quanto à civilização".
Contudo, neste post não se irá falar de - alarmismo ambiental -, e sim, do - pessimismo quanto à civilização -, especialmente sobre a cultura do cancelamento, reportada por ele nesse pequeno trecho da entrevista:
Cancelamentos? Sim, porque tal instrumento está sendo utilizado para implantação do novo modelo de totalitarismo no mundo inteiro, inclusive aqui no Brasil. E nada melhor para exemplificá-lo do que trazer exemplos de uma realidade em curso.
Um desses exemplos se encontra no livro de Rod Dreher, "Não viva uma mentira", no qual revela sinais de que o novo totalitarismo está se proliferando no Ocidente. Algo mais parecido com Admirável Mundo Novo do que com 1984. Políticas identitárias estão começando a invadir todos os aspectos da vida. As liberdades civis são cada vez mais vistas como uma ameaça à segurança. Os progressistas marginalizam os cristãos tradicionais e conservadores, bem como outros dissidentes. A tecnologia e o consumismo aceleram a possibilidade de um Estado de vigilância corporativa.
Rod Dreher demonstra isso relatando como a China usa seu sistema de crédito social para obrigar a conformidade:
"O sistema de crédito social da China rastreia automaticamente as palavras e ações, online e offline, de cada cidadão chinês e concede recompensas ou deméritos com base na obediência. Um chinês que faz algo positivo - segundo as regras do Partido - recebe uma pontuação de crédito social mais alta. Por outro lado, quem faz algo negativo sofre um rebaixamento do crédito social."
[ ... ] "Como a vida digital, incluindo transações comerciais, é monitorada automaticamente, os chineses com altas classificações de crédito social ganham privilégios. Aqueles com pontuações mais baixas acham a vida diária mais difícil. Eles não têm permissão para comprar passagens de trem de alta velocidade ou pegar voos. Não têm acesso a certos restaurantes. Os seus filhos podem não ter permissão para ir a faculdade. Eles podem perder o emprego e ter dificuldades em encontrar um novo. São criminosos de crédito social e ficarão isolados, pois o sistema algorítmico rebaixa aqueles que estão conectados com o infrator."
[ ... ] "o estado tem o poder de levar os dissidentes à falência instantaneamente, cortando o acesso à internet. - ops, no Brasil já está acontecendo isto - E em uma sociedade na qual todos estão conectados digitalmente, o Estado pode transformar qualquer um em um pária instantâneo quando o algoritmo os torna radioativo, até para sua família."
Um segundo exemplo de um caso real está na reportagem de 2018 do "The Globe and Mail", de como o sistema foi usado contra um jornalista chinês que irritou o governo ao escrever sobre corrupção.
[ ... ] Liu Hu passou duas décadas pressionando fortemente os limites da censura na China. Um jornalista talentoso, ele usou um blog para acusar funcionários de alto escalão de corrupção e irregularidades e para publicar detalhes de má conduta por parte das autoridades."
No final de 2013, ele foi preso e acusado de "fabricar e espalhar boatos"[ ... ]
[N]o meio da tentativa de Lu de buscar reparação legal no inicio de 2017, ele descobriu que a sua vida havia mudado abruptamente sem qualquer aviso, ele foi pego nos primeiros passos de um sistema de crédito social que a China está desenvolvendo [ ... ]
O que isso significou para Liu é que, quando ele tentou comprar uma passagem de avião, o sistema de reservas recusou a sua compra, dizendo que ele "não era qualificado". Outras restrições logo se tornaram aparentes: ele foi impedido de comprar propriedades, contrair empréstimos ou viajar nos trens de primeira linha do pais.
"Não havia nenhum arquivo, nenhum mandado policial, nenhuma notificação oficial prévia. Eles simplesmente me cortaram das coisas que eu tinha direito. O que é realmente assustador é que não há nada que você possa fazer a respeito. Você não pode se reportar a ninguem. Você está preso no meio do nada", disse Liu.
Não podemos discordar, portanto, do Michael Shellenberger quando diz que está pessimista quanto à civilização. O momento atual vivido no Brasil coloca os brasileiros com igual avaliação, principalmente após ouvir do vice-presidente da República, Geraldo Alckimin, em alto e bom som, que "a China é inspiradora para o Brasil".
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