Em abril de 2019, quando o ministro Dias Toffoli resolveu censurar uma reportagem da revista Crusoé, o governo Bolsonaro estava em seu quarto mês. Passados cinco anos, todos os integrantes do consórcio que apoia o governo Lula continuam atribuindo a Bolsonaro os problemas passados, presentes e futuros do Brasil. Também fingem não enxergar o que angustia efetivamente o povo brasileiro: o painel de horrores resultante dos desdobramentos da primeira investida autoritária de um presidente do STF. O que Toffoli pretendia era impedir a publicação da notícia de grosso calibre: era ele o “Amigo do amigo do meu pai”, codinome presente na lista de beneficiários do departamento de propinas da Odebrecht. Para evitar que os ministros fossem alvejados por acusações semelhantes, foi criado o Inquérito nº 4.874, rebatizado por Marco Aurélio Mello de “inquérito do fim do mundo”. O que começou como uma medida de autodefesa do Supremo Tribunal Federal transformou-se em instrumento de perseguição, prisões arbitrárias e censura. Também por isso, empurrou o Brasil para o beco em que se aglomeram as mais repulsivas ditaduras do mundo. Supremo ministro do consórcio que inventou a “democracia relativa”, Alexandre de Moraes acaba de dar mais um passo em direção ao atraso. Ele usou a rede social X (antigo Twitter) para intimar Elon Musk, dono da plataforma, a identificar o representante legal da empresa no Brasil. O ministro deu um prazo de 24 horas para o cumprimento da ordem. Caso fosse desobedecido, a rede social seria banida do país. (O Brasil é o segundo país com mais usuários do X, depois dos Estados Unidos.) Musk replicou com uma enxurrada de tuítes e memes que escancararam a insanidade de Moraes. Diante das evidências de que o ministro insistirá na marcha à beira do abismo, o Brasil terá que recorrer ao Congresso. Como mostra a reportagem de Augusto Nunes e Cristyan Costa, é atribuição do Legislativo abrir a porta de saída pela qual passará a anistia ampla, geral e irrestrita. Foi assim nos momentos mais dramáticos da história da República. Foi assim que o Brasil polarizado de 1979 conseguiu encontrar a paz. O general-presidente Ernesto Geisel entendeu que a anistia afastaria o Exército do epicentro da crise e conteria o tumor da corrupção detectado nos quartéis — sobretudo entre chefes militares que conviviam mais intensamente com civis. A oposição civil compreendeu que não havia outra rota capaz de levar a bom porto que não passasse por esse acordo nacional. A ditadura do Judiciário já dura cinco anos, metade do tempo consumido pelo AI-5. Passou da hora de afastar o Supremo Tribunal Federal do centro do palco da política. Os ministros não dão sinais de simpatia pela anistia. Cabem ao Poder Legislativo os trabalhos de parto da criatura que preservará a imagem do Supremo e livrará o Brasil da escuridão. |
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